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Estado de Minas M�SICA

Maestro Jos� Soares relata sua aventura pand�mica no Jap�o

Regente assistente da Filarm�nica de Minas escreve sobre o seu ''novo normal'' na estreia da se��o ''Eu voltei assim'', publicada pela coluna HIT aos domingos


07/11/2021 04:00 - atualizado 05/11/2021 22:47
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Jos� Soares
Regente assistente da Filarm�nica de Minas Gerais
ilustração de Lelis

"Entre ter notado o an�ncio do concurso e embarcado para T�quio, foram meses de muitas incertezas"


No dia a dia do regente, uma das palavras que talvez melhor resumem essa fun��o seja antecipa��o. A partir de um “documento musical” decifrado, n�s nos colocamos diante de m�sicos e, com a linguagem corporal, antecipamos entradas, andamentos, din�micas, caracteres – elementos que, juntos, comp�em uma esp�cie de hist�ria, cujos narradores se alternam e/ou se somam entre cada um dos instrumentos da orquestra. Pois � justamente essa tal antecipa��o, inerente ao of�cio, que foi o paradoxo da realidade de incertezas com a qual tivemos de lidar desde o in�cio de 2020.

No meu percurso como m�sico em come�o de estrada, a entrada na Filarm�nica de Minas Gerais, em fevereiro de 2020, marcou um novo cap�tulo, �nico em todos os sentidos. S� n�o esperava eu que seria �nico tamb�m para esta orquestra, para todas as outras e o resto do mundo.

Durante os meses seguintes, a frustra��o de um princ�pio de atua��o ceifado pela suspens�o das atividades presenciais se transformou em nova expectativa. Escutar M�sica, com M mai�sculo, ao vivo e em uma Sala Minas Gerais j� seria um grande motivo de alegria.

Uma luz de esperan�a se acendeu com o planejamento de retorno de um n�mero maior de m�sicos entre setembro e outubro de 2020. Eis que a tal antecipa��o veio em contraste com a necessidade de substitui��o do maestro nos concertos. Este � um dos pap�is do regente assistente, e pode-se dizer que foi a minha primeira “prova de fogo”, no caso, com uma lenha adicional, pois aquele era o retorno de uma orquestra ap�s sete meses de paralisa��o, com novo protocolo de m�scaras, distanciamento e, al�m de tudo, se apresentando para o p�blico digital.

Com toda a exposi��o e press�o envolvidas, passar por essa experi�ncia me fez aprender de maneira intensa, e incorporar esse “novo normal” de forma at� mais natural do que antes. � curioso mencionar que, na minha vida, pude reger muito mais horas com m�scara do que sem m�scara (ainda espero que essa propor��o possa ser balanceada futuramente).

A posi��o de regente assistente � de grande privil�gio. Al�m de muitas oportunidades de reger que tenho por aqui, acompanhar ensaios e concertos do regente titular e convidados � um constante aprendizado. Esse ambiente estimulante me faz buscar novos desafios, como aconteceu neste segundo semestre, coincidentemente um ano ap�s o marco de retorno ao palco da Sala Minas Gerais.

Buscar a participa��o em concursos internacionais � algo relativamente comum aos m�sicos que almejam mostrar seu trabalho em uma exposi��o de grande alcance e exig�ncia; nessas ocasi�es, o fato de ser selecionado j� � uma vit�ria.

Entre ter notado o an�ncio do concurso e embarcado para T�quio, foram meses de muitas incertezas: primeiro, o crivo da sele��o da inscri��o; depois, a concretiza��o de uma viagem em meio � crise sanit�ria global cujas normas poderiam ser alteradas subitamente.

Vistos, testes e quarentena obrigat�ria por 14 dias compunham o pacote para chegar ao primeiro dia do concurso – e, eventualmente, n�o ser selecionado para a pr�xima fase e encerrar por ali. Valeria a pena? Bom, o portugu�s Fernando Pessoa j� confirmou que se a alma n�o � pequena, tudo valeria. Decidi ent�o passar al�m do “Bojador”, com o apoio incondicional de minha fam�lia e do maestro Fabio Mechetti.

Nesta aventura, que mereceria todas as letras mai�sculas, dei o m�ximo de minhas capacidades e limita��es; afinal, o que queremos mesmo � nos superar internamente. O que n�o poderia antecipar era justamente que isso resultasse na minha sele��o at� a final e, para desfecho do conto, ter o reconhecimento do primeiro lugar, orgulhoso de representar meu pa�s e minha gera��o de m�sicos.

Pode parecer que, observando de fora, os eventos que se sucederam dentro deste per�odo foram encaixes planejados. Eis que a tal antecipa��o, ligada � arte da reg�ncia, convergiu com o puro acaso e o trabalho cont�nuo, poss�veis gra�as ao meu v�nculo com a Filarm�nica de Minas Gerais.

Voltando ao poeta, se fui navegar pelos mares com perigos e abismos, a m�sica que fa�o por aqui espelhou o c�u mais estrelado, me dando �ncora para chegar ao mais long�nquo destino e sempre me sentir em casa. Muito obrigado!

>> “EU VOLTEI ASSIM”, SE��O DE DOMINGO DESTA COLUNA, MOSTRA COMO PROFISSIONAIS DE DIVERSAS �REAS ENFRENTAM OS DESAFIOS DA PANDEMIA











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