Leitores apontam as palavras ou express�es mais chatas do ano

Ano passado, ela escapou. Foi v�tima da pandemia, que sumiu da boca do povo. “Top”  foi presen�a constante na lista das palavras mais chatas, desde a estreia da vota��o, em 2015, aqui no caderno de Cultura do Estado de Minas. Tanto � assim que ganhou o posto de hors concours, at� ser catapultada de nossas vidas pela crise de sa�de. Mas, “Top”, voltou. "Vai ficar como a mais chata da d�cada", afirma o estilista F�bio Resende.

"� uma express�o feia", sentencia a escritora Baby Pontello. "Top � uma palavra muito vazia para mim. Ela tenta simbolizar muitas coisas e n�o simboliza nada. Acho vago, sem embasamento, palavra fraca demais... Quando voc� fala top, � como se voc� colocasse um fim em todo o contexto e temos tantos adjetivos legais para usar", critica, fazendo o mea culpa por, em algum momento da vida, ter usando o adjetivo.

O poeta Daniel Cruz lembra que, com a mesma l�gica do estrangeirismo, como as cl�ssicas palavras chatas “Top” e “Coach”, "vimos o surgimento de ‘Metaverso’, da sigla ‘NFT’, e at� a inclus�o no nosso dicion�rio da chat�ssima ‘home-office’".

A empres�ria Laila Porto Cunha n�o aponta uma, mas tr�s express�es. "A verdade � que estamos vivendo um momento chato, de discuss�es chatas (enquanto as que de fato s�o importantes est�o sendo negligenciadas). "� sobre isso" me arrepia, "vai ficar tudo bem" d� coceira, "resili�ncia" seria linda, se fosse usada com responsabilidade", opina. 

O tamb�m empres�rio Gustavo Paulino usa como refer�ncia para sua escolha o que viveu este ano. "Para mim, saudade � uma palavra que usualmente abra�a a alma. Mas passei o ano engasgado com este sentimento, sem poder transform�-lo em afeto e felicidade."

Fernanda Bicalho aponta para o “N�o”. "N�o pode, n�o deve, n�o � aconselhado, n�o � permitido… N�o viaje, n�o v� � escola, n�o venha, n�o abrace, n�o encoste, n�o se aproxime, n�o se exponha, n�o encontre, n�o aglomere…", enumera, reconhecendo a falta que o “Sim” faz.

"Sou positiva por natureza e acredito na for�a de uma virada de ano! Que 2022 venha largo, aberto, com horizontes �ntimos ampliados, reflexo de tantos ‘n�os’ que nos fizeram pensar e repensar tantas coisas ! Vamos amorosamente em frente!”, diz ela.

“Pelo simples absurdo que � algu�m ser contra a vacina��o, depois de tudo o que a ci�ncia provou e de toda a dor global que vivenciamos enquanto nossos pesquisadores se dedicavam para alcan�ar uma vacina eficaz.”

>> Daniel Cruz, poeta

“E precisa justificar?”

Em 2021, ganhou ainda novos significados, somados aos j� t�o numerosos. A recusa das ofertas de vacina no in�cio do ano aliada � recusa da vacina��o infantil no final d�o sentidos mais cru�is ao termo “genocida". Os tantos casos de corrup��o atualizam o termo “hip�crita". O papel�o internacional frente ao mundo se vale da for�a do termo “chacota". Por fim, frente ao Brasil, s� a palavra “nada" seria capaz de definir quem em hip�tese nos lidera.

>> Ronei Sampaio, designer

“Parece que o mundo virtual ficou mais importante que nossa vida real. N�o sei se isso veio de fato para ficar, mas ser cancelado  por um pequeno erro ou deslize n�o me parece politicamente correto. Temos o dom maravilhoso do perd�o, que precisa ser exercitado.”

>> Carlos Nunes, ator

“Odeio palavra de moda.”

>> Dani Madureira, produtora

 

“Termo usado para tentar diminuir gostos de outra pessoa e al�m de tudo � na l�ngua inglesa. Pregui�a total.”

>> Luis Couto, m�sico

 

“At� que descobri o significado da chatice de ser chamado de cringe, paguei muitos micos com meus sobrinhos adolescentes. Sou cringe, n�o nego e j� vou tomar mais um caf� pra suportar o bullying.”

>> Vander Andr�, escritor e estudante de filosofia

“Os usos de palavras em ingl�s j� s�o uma quest�o complexa, mas o uso do termo para tratar de uma situa��o ruim ou chata, mascarada de termo descolado para falar sobre um retorno � realmente um porre.”

>> Matheus Vianna, designer

“Pela busca da salva��o, mesmo quando ela comprovadamente n�o faz sentido. Mesmo com a vacina, a insist�ncia no uso.”

>> Guilherme Rabelo, produtor

“Que em 2021 passou a ser usada de modo subvertido para que gente preconceituosa, mis�gina, homof�bica, racista, negacionista e antidemocr�tica expressasse p�blica e cinicamente seus pontos de vista intoler�veis.”

>> Fl�vio Castro, fot�grafo

“Se voc� nunca esteve na pele de um negro, de um indigena, de um LGBTQI+ ou de portador de deficiencia, n�o pode julgar que suas reivindica��es por justi�a e igualdade s�o infundadas e vazias de sentido.”

>> Rodrigo Cez�rio, consultor de moda

“Pessoas sem embasamento, guiadas por uma corja e que imaginam serem os donos da verdade.”

>> Vinicius Amaral, DJ

“N�o consigo conceber esta realidade como algo normal. � o verdadeiro ‘novo anormal’. Que em 2022 tenhamos um ano realmente normal.” 

>> Breno Mello, oftalmologista

“�bito a mais chata e mais sinistra disputa, em p� de igualdade, com outra igualmente sinistra: mil�cia.”

“Ficou desgastada, gera uma falsa prote��o velando o preconceito que permanece.”

>> Romney Esteves, professor de educa��o f�sica

“Poderia integrar um grupo de express�es que de tanto serem usadas e para toda e qualquer situa��o acabam esvaziando o pr�prio sentido e, sobretudo, do que se quer dizer com elas. Serve tamb�m para quando n�o se sabe dizer realmente sobre o que foi visto. O grupo de instigante, do gigante, e outras.”

>> Adilson Marcelino, jornalista

“Esta bobagem n�o sai de moda.”

>> Afonso Borges, produtor cultural

“O uso indiscriminado da palavra, que est� sendo utilizada para validar servi�os, sem nenhum embasamento cient�fico. Exemplo: coach qu�ntico, bronzeamento qu�ntico (sim, vi isso em B�zios), assessoria de moda qu�ntica…”

>> Fernanda Mello, escritora

“N�o existe nem nunca existiu.”

>> Paulo Andr�, ator