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Estado de Minas ARTES C�NICAS

O teatro transgressor brilhou nos palcos de BH entre os anos 1960 e 1990

Wilson Oliveira, diretor de 'Teledeum' (1993), diz que a pe�a seria 'cancelada' hoje. Se��o 'Terceiro sinal', da HIT, relembra montagens de sucesso na capital


04/03/2022 04:00 - atualizado 04/03/2022 07:24

Uma olhada cuidadosa nas colunas laterais desta p�gina vai despertar um misto de emo��es. Para quem acompanha a hist�ria do teatro em Belo Horizonte desde os anos 1960, ser� inevit�vel a saudade de amigos, profissionais que j� se foram ou n�o s�o lembrados, apesar do trabalho importante que desenvolveram nos palcos.

Inevit�vel tamb�m reconhecer a qualidade da produ��o de artes c�nicas na capital mineira. Montagens eram t�o boas que viajavam para outras capitais. Por aqui, sucesso absoluto – espet�culos que ficaram meses em cartaz, com filas, literalmente, dobrando as esquinas.

A produ��o sempre foi democr�tica – como ainda � –, prestigiando do humor ao drama, da com�dia � trag�dia. Montagens pol�ticas se destacaram em tempos dif�ceis, como na �poca da ditadura militar. Dos anos 1960 at� a d�cada de 1990, o teatro de BH foi transgressor, moderno.

Curioso nisso tudo � pensar que a sociedade atual, flertando com o retrocesso, parece se incomodar com temas que sempre deveriam ser motivo de reflex�o. Aquelas montagens, em sua maioria, falavam de pol�tica, religi�o e sexualidade, assuntos que hoje s�o estopim para discuss�es acaloradas.

No mundo do cancelamento, qual seria a rea��o do p�blico a pe�as “pol�micas”? Em busca de respostas, a coluna fez um desafio a diretores, atores e produtores que trabalharam em montagens fundamentais para a constru��o do teatro mineiro. Al�m da import�ncia das produ��es nas d�cadas passadas, quisemos saber como a plateia, hoje em dia, reagiria a elas.

Foi necess�rio fazer um recorte, que come�a aleatoriamente nos anos 1960 e termina em 1999. A produ��o dos anos 2000 cresceu de tal forma que merece recorte exclusivo, que vir� futuramente.

A linha do tempo que o leitor acompanha aqui n�o est� completa. Em 40 anos, a produ��o belo-horizontina foi consider�vel. Para montar a sele��o, a coluna HIT recorreu ao centro de documenta��o do Estado de Minas, consultou diretores e acompanhou tr�s epis�dios do projeto de Pedro Paulo Cava sobre a hist�ria do teatro em Belo Horizonte nos �ltimos 50 anos.

Ator praticamente nu, usando pequeno tapa-sexo, está de perfil, ajoelhado e com a mão na testa, em frente a mesa em que quatro atores, usando vestes religiosas, gesticulam e olham para ele
'Teledeum', encenada em 1993, questionava as rela��es perigosas entre poder, religi�o e m�dia (foto: Eduardo Lacerda/divulga��o )
Treze atores da peça 'Teledeum', formados pelo Centro de Formação Artística (Cefar) do Palácio das Artes
Elenco de 'Teledeum' (foto: Eduardo Lacerda/divulga��o)


TERCEIRO SINAL

Censurada no passado, cancelada no presente

Wilson Oliveira
Diretor

Com a ascens�o pol�tica dos evang�licos ao poder, o Brasil, neste ano eleitoral de 2022 aproxima-se demais das com�dias em cartaz nos palcos brasileiros na d�cada de 1990. Em Belo Horizonte, fiz a dire��o da pe�a “Teledeum”, que cumpriu temporadas em 1993 e 1994 nos teatros Ceschiatti, Mar�lia e Sesiminas, garantindo raiva e risos a uma plateia entusiasmada.

O elenco de atores brilhantes formados pelo Cefar/Pal�cio das Artes contava com Dimir Viana, Fabr�cio Andrade, Herbert Tadeu, Jo�o Paulo Proen�a, Jussara Fernandino, Karina Drummond, L�o Quint�o, Luiz Arthur, M�rcia Bechara, Neise Neves, Pollyana Santos e Raul Starling. Tecnicamente bem preparados para cantar e atuar, conseguiam extrair da musicalidade do texto a express�o ir�nica que toda juventude anseia para contestar o status quo.

Fascinado pela tem�tica do poder, o autor espanhol Albert Boadella investe no ponto nevr�lgico de toda religi�o: o rito. Esclarece, em entrevista ao El Pa�s, que “a teologia � a coisa mais pag� que existe, porque d� explica��es de um fen�meno que � irracional”.

Um encontro ecum�nico em um est�dio de televis�o, que ser� transmitido ao vivo para todo o mundo ocidental, � o ponto de partida para denunciar a industrializa��o da f�. Os representantes das diversas religi�es oriundas do cristianismo ali presentes, fi�is aos seus princ�pios, buscam inutilmente organizar uma cruzada contra o ate�smo materialista.

Trabalha-se ali com duas das mais fortes institui��es de nossos tempos: a religi�o e a m�dia. Em cena, t�nhamos uma freira, um m�rmon alem�o, um anglicano, uma testemunha de Jeov�, um padre cat�lico, uma monja da Igreja Cat�lica Norte-Americana Separada, um calvinista franc�s e um reverendo da Igreja Evangelista de Kansas City, Estados Unidos. Depois de intensa pesquisa em torno da pluralidade religiosa de Belo Horizonte, acrescentamos na adapta��o do texto mais quatro personagens, incluindo at� uma prima de Daniela Mercury, dissidente dos afro-baianos que aderem � Igreja Metodista Mineira.

Apesar de n�o ter sido censurado em pa�ses onde foi encenado, como Estados Unidos, Espanha e B�lgica, o espet�culo custou ao seu autor v�rios processos, atentados terroristas e uma picha��o em muros de Val�ncia, na Espanha, que saudavam o retorno da Santa Inquisi��o. No Brasil, provocou a ira da censura, que proibiu sua encena��o em 1987, em S�o Paulo, em sua primeira montagem nacional, com dire��o de Cac� Rosset.

Em v�deo que circula nas redes sociais, a ministra da Mulher, Fam�lia e Direitos Humanos do governo Bolsonaro, a pastora Damares Alves, afirma ter visto Jesus se aproximar dela em um p� de goiabeira e demov�-la de um ato extremo. Com inspira��o menos nobre, eu tamb�m, naquele ano de 1993, no programa da pe�a, quis “advertir os presentes que aquela cerim�nia foi concebida para o nosso pr�prio deleite. Para dar um sentido ecum�nico ao ato seria necess�rio, entretanto, que os espectadores estivessem ali presentes, limpos das impurezas sociais que os importunavam diariamente, demolindo os muros que, porventura, nos separassem, esquecendo pequenos rancores do passado, para que assim unidos pud�ssemos expulsar as nuvens que ocultam a luz do Supremo. Com alegria, f� e j�bilo desej�vamos recordar aquele vers�culo do livro dos M�rmons que diz: 'Os homens existem para que tenham gozo'”.

Se estiv�ssemos em cartaz nos dias de hoje, ser�amos cancelados.

“TELEDEUM”

.Pe�a exibida em 1993
.Autor: Albert Boadella
.Diretor: Wilson Oliveira
.Produ��o: Cefar


LINHA DO TEMPO

ANOS 1990

“Pin�quio” (1999)
De Carlo Colodi, dire��o de Kalluh Ara�jo

“Perigo, mineiros em f�rias” (1999)
Texto e dire��o de Rog�rio Falabella

“Algo em comum” (1999)
De Harvey Fierstein, dire��o de Wilson Oliveira

“A morte de DJ em Paris” (1999)
De Roberto Drummond, dire��o de Walmir Jos�

“O segredo de Cocachin” (1998)
De Ruth Rocha, dire��o de Kalluh Ara�jo

“Zaac e Zenoel” (1998)
Grupo Oficcina Multimedia, dire��o de Ione de Medeiros

“O ensaio sobre a cegueira” (1998)
Adapta��o da obra de Jos� Saramago, dire��o de Cida Falabella

“Dona Flor e seus dois maridos” (1997)
De Jorge Amado, dire��o de Kalluh Ara�jo

“Futuro do pret�rito” (1997)
De Regiane Antonini, dire��o de Pedro Paulo Cava

“Um Moli�re imagin�rio” (1997)
Dire��o de Eduardo Moreira

“A hora da estrela” (1997)
Adapta��o da novela de Clarice Lispector, dire��o de Cida Falabella

“O beijo no asfalto” (1996)
De Nelson Rodrigues, dire��o de Wilson Oliveira

“Carnaval dos animais” (1996)
Adapta��o e dire��o de �lvaro Apocalypse

“A bonequinha preta” (1996)
Texto de Ala�de Lisboa, adapta��o de S�rgio Abritta, dire��o de Cida Falabella

“A alma boa de Setsuan” (1995)
De Bertolt Brecht, dire��o de Cida Falabella

“Babachdalghara” (1995)
Oficcina Multim�dia, dire��o de Ione de Medeiros

“Alzira Power” (1995)
De Ant�nio Bivar, dire��o de Kalluh Ara�jo

“Happy birthday to you” (1994)
Oficcina Multim�dia, dire��o de Ione de Medeiros

“M�o na luva” (1994)
De Oduvaldo Vianna Filho, dire��o de Wilson Oliveira

“A rua da amargura” (1994)
Dire��o de Gabriel Villela

“An�bal Machado, quatro, oito, sete” (1994)
Roteiro a partir da obra de An�bal Machado, dire��o de Cida Falabella

“Bom dia Missislifi” (1993)
Grupo Oficcina Multim�dia, dire��o de Ione de Medeiros

“Enfim s�” (1993)
Texto e dire��o de Gugu Olimecha e Rog�rio Cardoso

“Bodas de sangue” (1993)
Texto de Garc�a Lorca, dire��o de Cida Falabella

“Eu te amo, ditadura” (1993)
De S�rgio Abritta, dire��o de Wilson Oliveira

“Hollywood bananas” (1993)
Texto e dire��o de Eid Ribeiro

“Pedro e o lobo” (1993)
Adapta��o e dire��o de �lvaro Apocalypse

“Doroteia vai � guerra” (1993)
De Carlos Alberto Ratton, dire��o de Kalluh Ara�jo

“A filha da...” (1992)
De Chico Anysio, dire��o de Walmir Jos�

“Romeu e Julieta” (1992)
Dire��o de Gabriel Villela

“Decameron” (1992)
De Boccaccio, dire��o de Carlos Rocha

“Caminho da ro�a” (1992)
Roteiro a partir do estudo “O artes�o da mem�ria no Vale do Jequitinhonha”, de Vera L�cia Fel�cio, dire��o de Cida Falabella

“Na onda do r�dio” (1992)
Texto e dire��o de Eid Ribeiro

“Bicho-de-p�, p� de moleque” (1992)
De Eid Ribeiro, dire��o de Carlos Rocha

“Anjos e abacates” (1992)
Texto e dire��o de Eid Ribeiro

“�lbum de fam�lia” (1991)
Adapta��o da obra de Nelson Rodrigues e dire��o de Eid Ribeiro

“Dois idiotas cada qual no seu barril” (1991)
De Ruth Rocha, dire��o de Kalluh Ara�jo

“A com�dia dos sexos” (1991)
De Gugu Olimecha e Petersen, dire��o de C�ssio Pinheiro

“Um sobrado em Santa Tereza” (1991)
De Walmir Jos�, dire��o de Luiz Carlos Garrocho

“Trivial simples” (1991)
De Nelson Xavier, dire��o de Wilson Oliveira

“Duas horas da tarde no Brasil” (1990)
De Ad�lia Prado, dire��o de Kalluh Ara�jo

“A casa do girassol vermelho” (1990)
Adapta��o da obra de Murilo Rubi�o, dire��o de Cida Falabella

“A flor da obsess�o” (1990)
Roteiro inspirado na obra de Nelson Rodrigues, com dire��o de Eid Ribeiro

ANOS 1980

“Um casal aberto” (1989)
De Dario Fo, dire��o de Ricardo Batista

“Giz” (1988)
Dire��o de �lvaro Apocalypse

“Foi bom, meu bem?” (1988)
De Lu�s Alberto de Abreu, dire��o de M�rcio Machado

“Bella ciao” (1988)
De Lu�s Alberto de Abreu, dire��o de Pedro Paulo Cava

“Triunfo, um del�rio barroco” (1986)
Concep��o e dire��o de Carmen Paternostro

“Amor de vampira” (1986)
Texto e dire��o de Carl Schumacher

“Decifra-me que eu te devoro” (1986)
Grupo Oficcina Multim�dia, dire��o de 
Ione Medeiros

“O c�rculo de giz caucasiano” (1986)
De Bertolt Brecht, Teatro do DCE/PUC

“Lua de cetim” (1986)
De Alcides Nogueira, dire��o de Pedro Paulo Cava

“O encontro marcado” (1985)
De Fernando Sabino, dire��o de Paulo C�sar Bicalho

“O beijo no asfalto” (1984)
De Nelson Rodrigues, dire��o de Ronaldo Brand�o

“Rasga cora��o” (1984)
De Oduvaldo Vianna Filho, dire��o de Pedro Paulo Cava

“A lira dos vinte anos” (1984)
De Paulo C�sar Coutinho, dire��o de Wilson Oliveira

“Marat-Sade” (1983)
De Peter Weiss, dire��o de Hayd�e Bittencourt

“Fala baixo sen�o eu grito” (1983)
De Leilah Assun��o, dire��o de Eid Ribeiro

“Toda nudez ser� castigada” (1983)
De Nelson Rodrigues, dire��o de Ronaldo Boschi

“As rela��es naturais” (1983)
De Qorpo Santo, dire��o de �lvaro Apocalypse

“Morra de rir sem fazer xixi” (1983)
Texto e dire��o de Ronan Duvalle, Joaquim Montiel e Tyaras Crispim

“Suburbana” (1983)
De Celso Ant�nio Fonseca, dire��o de Eduardo Rodrigues

“Qual � Brasil?” (1980)
Dire��o de Jota Dangelo

ANOS 1970

“Cobra Norato” (1979)
De Raul Bopp, dire��o de �lvaro Apocalypse

“Pequenos burgueses” (1979)
De Maximo Gorki, dire��o de Jota Dangelo

“Grande sert�o” (1978)
De Guimar�es Rosa, cria��o coletiva da Cia. Sonho e Drama

“O filho do boi coringa” (1976)
De Bley Barbosa, dire��o de Paulo C�sar Bicalho

“A prostituta respeitosa” (1976)
De Jean-Paul Sartre, tradu��o de Miroel da Silveira, dire��o de Orlando Pacheco

“O relat�rio Kinsey ou Olha que tem n�s na cama” (1974)
De Alberto D'Aversa, dire��o de Alcione Ara�jo

“Mirandolina” (1974)
De Carlo Goldoni, dire��o de Ronaldo Boschi

“Dom Chicote Mula Manca e seu fiel companheiro Z� Chupan�a” (1974)
De Oscar von Pfuhl, dire��o de Pedro Paulo Cava

“H� vagas para mo�as de fino trato” (1974)
De Alcione Ara�jo, dire��o de Eid Ribeiro

“Frei Caneca” (1973)
Dire��o de Jota Dangelo

“O santo inqu�rito” (1973)
De Dias Gomes, dire��o de Ronaldo Boschi

“A bela adormecida” (1971)
Dire��o e adapta��o de �lvaro Apocalypse

“O fedor” (1970)
Texto e dire��o de Jos� Antonio de Souza

“A noite dos assassinos” (1970)
De Jos� Triana, dire��o de Paulo C�sar Bicalho

ANOS 1960

“Num�ncia” (1968)
Adapta��o do texto de Miguel de Cervantes, dire��o de Amir Haddad

“OhOhOh!!! Minas Gerais” (1967)
Texto e dire��o de Jonas Bloch e Jota Dangelo

“Seis personagens � procura de um ator” (1967)
De Luigi Pirandello, dire��o de Hayd�e Bittencourt

“Liderato, o rato que era l�der” (1967)
De Andr� Carvalho e Gilberto Mansur, dire��o de Helv�cio Ferreira


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