Luciana Veloso,
atriz e produtora cultural

N�o h� nada que deixe uma pessoa mais frustrada do que a impot�ncia diante de algo que lhe � caro. E para quem tem o palco como espa�o de realiza��o do seu of�cio, de manifesta��o dos seus desejos e de constru��o da sua hist�ria, o teatro � um bem precioso, � o lugar das nossas realiza��es, onde a gente se sente inteira por estar com o outro, onde encontramos uma prov�vel liberdade atrav�s de uma experi�ncia com in�cio, meio e fim.
Sim, o teatro acaba a cada vez que ele acontece, a hist�ria chega ao fim e, quando a luz se apaga, tudo aquilo vira passado, lembran�a e imagina��o. O artista vai para a sua casa e volta a sonhar com a possibilidade de viver aquilo mais uma vez e mais uma e mais quantas forem poss�veis para se sentir vivo, atuante, em a��o.
E o teatro parou durante um tempo, virou mem�ria, as salas ficaram vazias, as luzes apagadas, nem choro, nem risadas, nem conversas, nem hist�rias, tudo era sil�ncio. Era inevit�vel n�o temer que talvez n�o houvesse uma outra vez, porque o teatro n�o pede, exige o encontro; e se a gente n�o vai l� e vive aquele momento, aquela outra vez que est� esperando, ele vai ficando distante como um sonho que se esvai durante o dia, at� o ponto de a gente n�o se lembrar mais com o qu� sonhou.
Mas o caminho � dif�cil, lembram-se? E quando voc� est� acostumada a lidar com um desafio a cada passo e a encontrar solu��es inesperadas, improvisando diante de outras pessoas, voc� “d� um jeito”, abre a trilha “no fac�o” para deixar entrar um pouco de luz e enxergar alguma possibilidade para continuar a caminhar. E a gente inventou, experimentou, lutou, at� encenou, mas, no fim das contas mesmo, n�o era o teatro que a gente conhecia, eram “lives”, eram “curtas”. �s vezes, parecia at� ensaio. Definitivamente, n�o era o teatro que a gente desejava estar fazendo, mas nos permitia continuar a sonhar.
Me preparei para voltar aos palcos, atuando em dois espet�culos. Me senti tomada pela ansiedade de viver mais uma vez o desejo de estar em cena, de contar hist�rias, de me encontrar com o p�blico, com as equipes dos espet�culos nos ensaios, na montagem de luz, no camarim, nas coxias.
Me veio a lembran�a daquela sensa��o que acontece exatamente antes de a cena come�ar, � como se um fio de esperan�a se acendesse mais uma vez para me mostrar uma poss�vel dire��o dentro da mata escura. O caminho � pedregoso, eu j� sei, a previs�o do tempo � inst�vel, mas � por ali que escolho seguir para buscar um local de ampla visibilidade, de encontro comigo e com o outro, que faz eu me sentir mais viva, mais saud�vel e mais feliz: o meu teatro!
Poucos dias ap�s escrever a primeira vers�o deste texto, os planos mudaram mais uma vez, as temporadas foram canceladas por raz�es diversas relacionadas � pandemia e a minha expectativa de “renascimento” foi outra vez frustrada. Algumas coisas n�o est�o em nosso controle e precisamos de maturidade suficiente para tomar decis�es que nem sempre s�o desejadas. Ainda n�o foi desta vez, mas em breve ser�! Viva o teatro! Vida ao teatro!