
A noite de BH nunca mais oi a mesma. Gra�as a Deus
Fred Garzon
Empres�rio
M�sica. Religi�o. Futebol. Nossas grandes paix�es. E de quase todo mundo no Brasil. Pode parecer estranho, nestes tempos de pol�micas e cancelamentos, mas foram eles que nos inspiraram a criar um dos bares mais ic�nicos da hist�ria recente de BH.
Tudo come�ou no final de 2002, h� quase 20 anos. Saulo Souza, amigo da faculdade, tinha voltado do Rio com uma ideia fixa: abrir um bar. Na �poca, com outros dois amigos, L�o Soares e Gustavo Ziller, eu era s�cio da Aorta, produtora de eventos e conte�do. Foi o encontro perfeito.
A partir da�, tudo fluiu naturalmente. Decidimos montar um lugar para n�s mesmos. Sem firulas ou requintes. Um bar que ter�amos prazer de verdade em frequentar. Convidamos duas amigas arquitetas, Adriana e Joana, para projetar e representar nossas ideias. A verba era curta, mas a vontade de fazer compensava tudo. S� faltava o lugar. E foi outro amigo, o Paulo, que um dia nos ligou, categ�rico: “Achei a casa”.
Rua Padre Odorico, 68. O endere�o era �timo. Um pouco escondido, mas perto de tudo. Casa antiga, mas muito charmosa. E o Paulo tinha raz�o, o lugar era perfeito. Ainda precis�vamos de um nome, e foi o L�o quem teve a grande ideia. Uma express�o muito brasileira, falada diariamente, que representava tudo em que acredit�vamos: Gra�as a Deus.
Com tudo pensado, s� faltava executar. Ideias e refer�ncias n�o faltavam. As cores fortes vieram da visita ao Caminito, em Buenos Aires. Do interior de Minas, apareceram os fuxicos, que decoravam as mesas. De futebol, dezenas e dezenas de fotos, fl�mulas, p�steres e cachec�is, que cobriam as paredes. A religi�o era representada por estandartes, santos, orix�s e orat�rios. E a m�sica estava em todo lugar. Fizemos um sistema que cobria todos os ambientes, sempre tocando sons brasileiros.
A inaugura��o foi quase escondida. Era uma quinta-feira, 20 de mar�o de 2003. Convidamos apenas amigos pr�ximos e familiares. Nada saiu do jeito que a gente queria, mas a noite terminou com uma certeza: ia dar certo. Nos dias seguintes, abrimos ao p�blico e fomos chamando mais gente: conhecidos, amigos de amigos, conhecidos de amigos. Quando nos demos conta, j� havia fila na porta.
O GaD, como era conhecido, se tornou um fen�meno. Sin�nimo de boa m�sica, cervejas, drinques e paquera. Foi adotado por centenas de pessoas, que viraram clientes e, logo depois, amigos. A m�sica brasileira �s sextas, o samba aos s�bados (salve, Briga de Galo!) e o rock no domingo entraram para o calend�rio da cidade. S� quem viveu sabe.
O tempo voou e um ano se passou. Precis�vamos marcar a data. Fizemos uma grande festa. Foi no Mix Garden, no Jardim Canad�, com a ilustre presen�a de outro grande amigo, o DJ e produtor carioca Marcelinho da Lua. A festa foi um sucesso. E tamb�m virou tradi��o. Sempre divertida, diferente, com o mesmo esp�rito do bar.
Vieram o reconhecimento, mat�rias em jornais, portais, revistas e TVs, pr�mios de v�rios lugares – s� o de melhor paquera da cidade, ganhamos cinco vezes. Mas tudo o que � bom um dia termina. Com a gente n�o seria diferente.
Em 8 de junho de 2013, o Gra�as a Deus fechou as portas. Nos tr�s anos anteriores, conseguimos negociar com os propriet�rios, mas n�o teve jeito. Perdemos para a especula��o imobili�ria. No lugar do bar surgiu mais um pr�dio. Ficaram as lembran�as, as amizades e as milhares de hist�rias vividas.
� imposs�vel resumir o Gra�as a Deus em um texto. Se fosse um livro, ainda ficaria muita coisa de fora. Pe�o desculpas �s pessoas que n�o entraram aqui. Foi falta de espa�o. Mas tem uma turma que merece nosso agradecimento: Papaula, Fernanda, Bidu e Diego, Dudu Farah, Anselmo e Dida, Bruno Diniz, Camila, Briga de Galo, Juliano Mour�o, Lu Bono, Neco, L�os, Dudus, Victor, Chic�o e Zaz�. Sem voc�s, o GaD n�o teria sido o mesmo.