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Estado de Minas ANTES DE LADY GAGA...

O que esperar da balada sem WhatsApp e dicas nas redes sociais?

Fot�grafo mineiro lembra, na se��o 'Embalos de s�bado � noite' da coluna HIT, como era a vida noturna de BH no in�cio dos anos 2000


16/04/2022 04:00 - atualizado 16/04/2022 00:30

DE VOLTA AOS INFERNINHOS DOS ANOS 2000

Rafael Sandim

Jornalista e fot�grafo

 
Ilustração mostra casal com visual indie: ela de minissaia, casaco e botinão, ele de blusa xadrez, barba e boné, com look lenhador
 

�rf�os do movimento grunge e filhos do Nirvana, os indies se apaixonaram por Strokes nos anos 2000 e, nessa �poca, a m�sica alternativa vivia seu auge. A Savassi tinha vibra��o �nica. Se eu tentar definir, seria a mistura da vida noturna indie de S�o Paulo com pubs de Londres. Arrumar para sair parecia cena de cinema, j� que o look precisava ser cult, que mais tarde seria o hipster.
 
Sem as notifica��es de WhatsApp aparecendo sem parar ou qualquer informa��o sobre quem estaria na festa, era um frisson conhecer pessoas na boate e descobrir m�sicas (sim, isso existia!). Compartilhar momentos com desconhecidos, seja para amizade ou flerte. Qualquer pista que t�nhamos sobre a noite seria em uma p�gina no Facebook sobre o evento, com poucos detalhes nos perfis dos usu�rios.
 
Lady Gaga ainda n�o dominava as pistas, era m�sica alternativa nas picapes dos “inferninhos” na Savassi. Franz Ferdinand, The Ting Tings, The Hives, The Bravery, Gossip, Gorillaz e Interpol dividiam o mesmo espa�o com Madonna na lista de m�sicas dos sets dos DJs.
 
Por mais que existisse a vontade de conhecer algu�m na balada, a principal ideia era dan�ar at� o amanhecer. Era com essa energia, com muito suor na pista at� as seis da manh�, que as noites na Mary In Hell deixaram lembran�as maravilhosas na mente dos indies que agora encaram seus 30, 40 anos.
 
Eu era um garoto de 18 anos, rec�m-formado de col�gio militar e estudante do primeiro per�odo de jornalismo. Toda a minha experi�ncia com vida noturna era sempre por filmes. Vivia no meu imagin�rio qualquer experi�ncia em uma noite de BH.
 
Apesar do medo, criei coragem e convidei um amigo para conhecer a Mary in Hell. Chegamos at� a porta da boate e vimos a pintura na parte de fora. Voltamos imediatamente, pelo choque que tivemos. Era uma pintura cheia de chamas de fogo, com fundo preto. Assustador! Por�m, por mais que intimidasse, a est�tica era extremamente atraente. Em outro dia, perdemos o medo e entramos na Mary in Hell. Nada mais foi como era antes.
 
N�o � apenas sobre uma experi�ncia diferente, mas a possibilidade de estar no lugar onde era poss�vel ser voc� mesmo. Eu n�o conhecia espa�o alternativo que tivesse p�blico LGBTQ+ e h�tero ao mesmo tempo, que tocasse rock, electro e pop e n�o fosse apenas o estilo musical electro tribal house.
A ilumina��o intercalava luz e sombra, cartazes de filmes espalhados pela casa, a possibilidade de tocar uma can��o que voc� s� ouviu em um CD, mas que ainda n�o achou na internet, as promo��es de drinques com vodca que voc� s� consegue beber antes dos 30 anos e aquela atmosfera de que tudo poderia acontecer em uma s� noite.
 
Antes que eu imaginasse, j� tinha feito amizade com um dos melhores DJs da cidade: Jeferson Ba�ta. Mais conhecido como Dr. Jeff, o advogado trocava a roupa social pelo All Star colorido quando discotecava. Foi ele quem me ensinou a subir na cabine do DJ e encarar a picape. Nessa �poca, n�o era s� dar play na m�sica que estivesse no top 50 das mais ouvidas do Spotify. Havia pesquisa extensa sobre a discografia de bandas e artistas para entrar no set do DJ.
 
Era preciso entender qual m�sica abriria a lista do DJ, qual seria a do meio e como terminaria a apresenta��o, com o intuito de criar atmosfera inesquec�vel na pista de dan�a. Uma m�sica errada e voc� poderia perder a pista no resto do seu set. Quando acontecia o oposto, era m�gico.

N�o satisfeito em apenas discotecar e rec�m-formado em jornalismo, a noite de BH me convidou para uma festa. Entre 2009 e 2013, realizei diversas festas. As mais famosas se tornariam Yes Porn! e Indiescreta, todas as quintas-feiras, no Velvet Club. A proposta da Indiescreta era do “luxo ao lixo”, com pretens�o de glamour e noite da moda em Mil�o, mas cheia de sarcasmo e deboche.
 
J� a Yes Porn! era festa mensal, teve aproximadamente 20 edi��es. A ideia era brincar com temas sexuais, como filmes de pornochanchada, revistas e Kama Sutra. Essa tem�tica servia de pano de fundo para noites muito divertidas com pole dance, na UP! E – music, que deixou saudade na capital mineira.
 
Ap�s a ascens�o do pop dos anos 2010, influenciado principalmente por Lady Gaga, a noite alternativa indie perdeu espa�o. A atmosfera pop cresceu cada vez mais e as roupas cafonas, por�m estilosas, inspiradas nos looks da vocalista do Yeah Yeah Yeahs ou em qualquer mistura dos anos 80, sa�ram de moda.
 
Agora, nos resta a nostalgia de um tempo que parece sa�do do cinema, com personagens cheios de personalidade e a vontade �nica de viver cada noite como se fosse a �ltima.

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