Pseudoci�ncia na esteira da tecnologia da informa��o

Boa parte da minha inf�ncia, passei pesquisando todos os assuntos na enciclop�dia Delta-Larousse. Uma enciclop�dia era composta por livros, de capa dura, em torno de 15 volumes, que tinham seus vendedores, que viviam de casa em casa oferecendo um produto, muito caro, mas que trazia informa��o de qualidade sobre diversos assuntos.

Meu pai comprou para que eu e meus irm�os pud�ssemos fazer as pesquisas escolares. Era um status importante para a fam�lia. Tratava-se da �nica forma de sabermos sobre diversos assuntos de maneira r�pida e eficiente.

A enciclop�dia Barsa, criada no Brasil, teve um corpo editorial de renome para a primeira edi��o, como Oscar Niemeyer, Jorge Amado, Antonio Houaiss e Antonio Callado como redator-chefe da primeira edi��o. Este tipo de produto teve seu per�odo �ureo entre a d�cada de 1960 e 1990. Mas todo este conhecimento, catalogado em verbetes, come�ou a ganhar poeira nas prateleiras com a chegada da internet e sua pesquisa instant�nea. A Wikipedia chegou em 2001 e a pesquisa do Google, como conhecemos, chegou em 1998.

Todo este pre�mbulo foi necess�rio para chegar ao t�tulo da coluna. A facilidade de acesso �s informa��es sobre qualquer assunto mudou completamente nos �ltimos 30 anos. As ferramentas de pesquisa online nos trouxeram velocidade e um volume quase infinito de respostas.

Junto com estas facilidades, vieram os problemas, sendo um deles, a dificuldade de selecionar informa��es de qualidade. Mas o que me chama mais a aten��o � a gera��o de informa��es que nos agradam, mas n�o s�o verdadeiras. Afinal de contas � mais sedutora uma mentira deliciosa do que uma verdade amarga.

Mas o que � pseudoci�ncia? De acordo com a Wikip�dia, uma pseudoci�ncia � qualquer tipo de informa��o que se diz ser baseada em factos cient�ficos, ou mesmo como tendo um alto padr�o de conhecimento, mas que n�o resulta da aplica��o de m�todos cient�ficos.

Durante a pandemia, recebemos v�rias mensagens com supostas curas fantasiosas, utilizando argumentos ditos cient�ficos que n�o se sustentavam com uma m�nima pesquisa. Com a necessidade de criar not�cias para uma popula��o ansiosa, vimos pessoas comuns se tornarem especialistas em infectologia e estat�stica em pouco tempo.

Al�m dessas aplica��es, o uso da informa��o de baixa qualidade se tornou uma poderosa ferramenta de manipula��o de massa. Isto n�o � novidade na hist�ria do mundo, mas sim a quantidade de informa��es de qualidade duvidosa.

O que � real? O que foi criado para nos agradar e manipular? A polariza��o do mundo em lados radiais � consequ�ncia dos algoritmos que aproximam os grupos de afinidade e das pessoas que pensam de forma semelhante. Esta aproxima��o facilitou o uso da pseudoci�ncia em prol do controle sobre o movimento de massa.

O �timo livro “Li��es amargas”, de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, faz refer�ncia ao historiador italiano Carlo Cipolla e suas leis fundamentais da estupidez humana.

Em minha opini�o, a distor��o da ci�ncia vem da pr�pria ci�ncia, que n�o nos ajuda a entender a verdade dos fatos. A pseudoci�ncia � de mais f�cil compreens�o, pois � mais objetiva. Pessoas com muito conhecimento t�m a tend�ncia de complicar suas explica��es. Isto facilita a cria��o de factoides distorcendo as verdades.

Uma das linhas de pensamento dos que usam a pseudoci�ncia � desacreditar o que existe para criar a sua pr�pria verdade. Estamos atingindo a maturidade com as redes sociais. Sempre aprendemos tardiamente. Cambridge Analytics e outros cases foram importantes para esse aprendizado.

Distorcer a verdade com fatos que nos agradam � uma ferramenta utilizada h� milhares de anos. N�o gosto nem de pensar o que grandes ditadores da nossa hist�ria fariam se tivessem as redes sociais para se comunicar diretamente com seus seguidores. Espero que possamos aprender rapidamente como separar o que � verdade daquilo que nos interessa. S� assim deixaremos de ser presas f�ceis destes softwares maravilhosos que nos usam como marionetes.