
Tudo o que t�nhamos de falar sobre o Rei Pel�, o maior jogador de todos os tempos, j� foi falado. Sua obra � imortal e est� contada em cada lance, cada drible, cada gol marcado nos quatro cantos do mundo.
O Rei parou uma guerra numa excurs�o do Santos � �frica. Foi expulso pelo �rbitro, numa partida em que os torcedores n�o aceitaram a expuls�o, e o juiz acabou sendo substitu�do; fez coisas inimagin�veis, imposs�veis para os mortais que habitaram ou habitam o futebol.
A frase que mais me encanta � do saudoso Armando Nogueira, meu diretor de jornalismo na TV Globo, numa �poca em que o jornalismo era s�rio, e n�o essa palha�ada que se v� hoje.
Ele disse: “Se Pel� n�o tivesse nascido gente, teria nascido bola”. Nada a acrescentar. A frase do mestre Armando Nogueira diz tudo. Vi Pel� jogar. Eu me lembro da Copa de 1970, quando eu tinha 10 anos e s� na minha casa havia televis�o em preto e branco. Eu morava em S�o Crist�v�o, sub�rbio do Rio de Janeiro, e a rua toda foi para a minha casa ver a final do Mundial, quando Pel� sagrou-se tricampe�o.
O �nico a ter esse t�tulo no planeta.
Ali�s, � errado a gente dizer que fulano � pentacampe�o do mundo. N�o. Os jogadores se sagraram campe�es do mundo em 1994, 2002. Alguns foram bicampe�es de verdade em 1958 e 1962. Mas s� Pel� foi tricampe�o, pois jogou venceu tr�s Copas.
Vi tamb�m Pel� com a camisa do Flamengo, nos 5 a 1 aplicados no Atl�tico, no jogo das enchentes em 1979, no Maracan�. Foi uma realiza��o ver Pel� e Zico no mesmo time, lado a lado.
Confesso que naquela noite em que faltei � aula na universidade para ver o Rei jogar, fui um dos que pediram para ele bater o p�nalti e marcar um gol com a camisa do Flamengo. Mas, sua humildade n�o permitiu. Ele entregou a Bola � Zico, cobrador oficial.
Depois de formado, sonhei entrevistar Pel�, e s� tive a primeira chance em 1994, na Copa do Mundo nos Estados Unidos. O Brasil ia estrear em Palo Alto, S�o Francisco, e minha miss�o era entrevistar o Rei quando ele chegasse no est�dio. Me posicionei onde ele entraria e esperei umas duas horas.
De repente, chegou uma Limousine branca. O motorista abriu o vidro e eu perguntei se o Pel� estava l� dentro. Ele disse que n�o. Mas eu sentia que aquele carro trazia o Rei. Em 5 minutos, Pel� abriu a porta e saiu. Corri ao seu encal�o, cercado por seguran�as. Ele me abra�ou – fiquei dentro da roda, eu e ele, e os seguran�as nos protegendo – e fui fazendo as perguntas enquanto caminh�vamos para a �rea da imprensa.
Subimos umas escadas e ele chegou � cabine da Globo. Minha miss�o estava cumprida. Delirei pelo fato de o Rei me abra�ar e responder tudo o que perguntei, claro uma entrevista curta.
Depois disso, n�o vi mais o Rei, at� que fui cobrir um jogo da Sele��o Brasileira no Kwait, em 2005. Convidado pelo pa�s do Golfo, ele era meu vizinho de quarto. Galv�o Bueno, meu padrinho de casamento e irm�o, me convidou para jantar no hotel. Aceitei e, para minha surpresa, sentei-me ao lado dele e do Rei do futebol. Era o m�ximo.
Conversamos sobre muita coisa, mas lembrei a ele que, como mineiro, ele precisava me dar uma entrevista exclusiva para o jornal Estado de Minas. Ele me perguntou qual era o meu voo para Londres e eu respondi.
Chamou seu assessor, Pepe, e perguntou se era o mesmo voo. Ele disse que sim. Perguntou em que classe eu estava. Eu disse que estava na executiva. “Estou na primeira classe, mas mando te buscar e fazemos a entrevista no avi�o”, disse o Rei.
Antes disso, no dia do jogo, me levou no carro com seu motorista para o est�dio e me deu uma bela entrevista, ao vivo, para a R�dio Jovem Pan, para quem eu tamb�m cobria a Sele��o. Fiquei em �xtase.
No dia seguinte, cheguei � sala vip e n�o vi Pel�. Fiquei ressabiado. Entrei no avi�o, sentei-me e nada de ver o rei. O voo do Kuwait a Londres dura cerca de cinco horas e meia. Duas horas depois de o avi�o decolar, vem o Pepe, assessor dele, com a aeromo�a da British Airways, que me disse o seguinte: n�o � normal isso na British, mas, em considera��o ao Pel�, o senhor pode vir para a primeira classe.
Fui l� e o rei mandou eu sentar ali onde a gente p�e o p� para descansar, de frente para ele. Pediu para eu ouvir o CD dele. Depois de uns 10 minutos, perguntou se gostei. Eu disse que gostei muito.
A� ele me falou: “Esqueci seu nome.” Eu disse: "Jaeci". Ele ent�o falou: "Nunca mais esque�o, pois tenho um irm�o chamado Jair".
Come�amos a entrevista, que foi publicada com exclusividade no EM, onde ele dizia que o Brasil n�o valorizava seus �dolos. � uma verdade.
Hoje mesmo postei minha homenagem ao Pel�, nas minhas redes sociais, inclusive a foto que tirei com ele nessa viagem, e alguns o criticaram como pessoa, sem conhec�-lo. Chegamos a Londres, sa� junto com ele e Pepe. Ele p�s um casaco gigante, bon� e �culos, para n�o ser reconhecido.
Eu ia para Estocolmo, para mais um jogo da Sele��o. Me despedi dele e do assessor, agradeci e ele me deu um grande abra�o. P�xa, era o Rei! Um abra�o do Rei! Fiquei delirante!
Depois disso, s� voltei a encontr�-lo no lan�amento do Instituto Vanderlei Luxemburgo, no Jockey Clube de S�o Paulo. A imprensa se posicionou l� dentro. Eu e meu c�mera, Leandro, ficamos na entrada. Quando o Pel� chegou eu gritei: "Rei, me d� uma entrevista". O Pepe, assessor dele, disse: “Ele vai dar uma coletiva l� dentro”.
Insisti: 'Rei, voc� me deu uma entrevista no avi�o do Kuwait para Londres, n�o vai falar comigo aqui?'. Ele parou, me olhou, largou os assessores e veio: “Se eu n�o te der a entrevista, voc� n�o fala bem de mim em Minas”.
Gravamos com exclusividade e depois, l� dentro, aproveitei para bater um papo com ele e com o Luxemburgo. Assim � o Pel�. Humilde, sol�cito, gentil e am�vel. N�o sabe dizer n�o para ningu�m. Tira fotos, d� aut�grafos, � realmente um ser iluminado.
De l� para c�, n�o o vi mais. S� pela tev�. Neste dia 23, ele completa 80 anos. S� posso desejar sa�de, sa�de e sa�de. Pel� � o maior e melhor de todos os tempos. Incompar�vel, inigual�vel, um g�nio da bola!
Que me perdoem outros grandes jogadores, mas Pel� � o Rei, e Rei do futebol s� tem um. Parab�ns, Pel�. Obrigado por tudo o que voc� fez pelo futebol e por todo o carinho que sempre teve comigo, ao longo da minha carreira.
Realmente, Armando Nogueira tinha raz�o. “Se voc� n�o tivesse nascido gente, teria nascido bola” tamanha a sua intimidade com ela. “Vida Longa ao Rei” � o que posso desejar. Ningu�m divulgou o Brasil no mundo, mais do que voc�! Valeu, Rei! Vida Longa!