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Estado de Minas CORPOS DISSIDENTES

Se voc� tem medo de engordar, voc� � uma pessoa gordof�bica

Eu sei que � tentador vestir a carapu�a e, imediatamente, negar o r�tulo, apesar do pavor de se tornar uma pessoa gorda; que tal desconstruir?


12/01/2022 06:00 - atualizado 12/01/2022 11:16

Reprodução de tuíte ofensivo enviado para Jéssica
(foto: Twitter/Reprodu��o)

 
“Imagina vcs descobra os transtornos alimentares ent�o, e que nem tudo gira em volta da tua banha” (sic). 

A frase acima foi retirada de um tu�te direcionado a mim nesta semana. � assim que pessoas gordas s�o tratadas e isso n�o � uma novidade por aqui. Mas � uma novidade a sofistica��o do discurso gordof�bico. Toda vez que algu�m aponta que o medo de engordar � gordofobia, algu�m se levanta para lan�ar o card: “mas voc� n�o pode dizer isso, eu tenho transtornos”. 

Precisamos pontuar, inicialmente, que nenhum transtorno alimentar ou de imagem � desculpa para a gordofobia. 

Em segundo lugar, transtornos de imagem e alimentares, tais como anorexia, bulimia, etc. nem sempre s�o vis�veis a olho nu, tal qual corpos gordos, em que se � imposs�vel esconder a condi��o f�sica, logo, usar essa carta como opress�o reversa � pervers�o, assim como quem tenta emplacar “racismo reverso”, “orgulho h�tero”, etc. E n�o, n�o estou relativizando transtornos, mas entendendo que, se eles existem, o melhor caminho n�o � atacar pessoas que j� sofrem opress�o e refor�ar que ‘tem pavor de ser gorda’ para uma pessoa gorda, mas buscar ajuda e tratamento adequados. 

Percebo, com frequ�ncia, que os cards curingas da gordofobia v�o se renovando. Quando n�o foi mais aceit�vel chamar pessoas gordas de feias, passaram a se preocupar com a sa�de, como tais argumentos j� s�o refutados cientificamente, passam a usar transtornos para justificar. E, conforme vamos derrubando as estruturas, outras formas v�o aparecendo na m�o de opressores que esperneiam querendo um alvo para violentar.  

Mais ci�ncia, menos desculpas

Para ir al�m, convidei dois especialistas em assuntos e estudos do corpo gordo e tamb�m em sa�de mental e nutri��o para explicarem, com embasamento te�rico - bem bonitinho, do jeito que o manual de reda��o manda - por que o uso de transtornos alimentares para justificar gordofobia � viol�ncia. 

De acordo com o nutricionista especializado em comportamento alimentar, Erick Cuzziol, num primeiro momento, precisamos entender de onde surge o discurso que faz as pessoas perceberem o peso e a gordura e problema, criando o estigma. 

“A gente n�o fala, por exemplo, ‘estigma da regi�o/regionalidade’, a gente fala ‘xenofobia’. A gente n�o diz ‘estigma da sexualidade’, a gente diz ‘homofobia’. Assim, quando falamos de gordofobia, estamos falando de um pensamento que faz a pessoa ter cren�as que n�o s�o reais. Quando vemos a foto de uma pessoa gorda na praia, de biqu�ni, podemos nos identificar e nos sentirmos livres para ser e existir ou podemos temer a situa��o, fazendo com que tenhamos posturas rebeldes e opressoras. Mesmo sem perceber, estas pessoas n�o conseguem se questionar o motivo do medo de engordar”, explica. 

Cuzziol acredita que ainda temos um longo caminho na percep��o da gordofobia como estigma e impedimento de acesso � sa�de por parte de pessoas gordas, o que gera ainda mais transtornos. 

“Quem pratica gordofobia n�o consegue, �s vezes, por causa do transtorno, se perguntar: por que eu tenho raiva dessa pessoa gorda? Por que eu tenho medo? A magreza se tornou um valor social, ela n�o se tornou uma quest�o de sa�de. Por mais que digam que � uma quest�o sobre ser saud�vel, n�o �. Quando as pessoas come�am a discursar, o medo � de pertencer a um grupo que enfrenta uma opress�o que p�e em risco a vida de quem sofre. Existem pesquisas e publica��es fora daqui [do Brasil] que provam como o estigma prejudica a vida da pessoa, independente do �ndice de Massa Corp�rea (IMC). N�o precisa ter um IMC alto para que o estigma e a gordofobia prejudiquem sua vida”, acrescenta. 


Como nasce um transtorno e ele vira uma opress�o

Foto de Erick Cuzziol
O nutricionista Erick Cuzziol (foto: Divulga��o)
Eu j� trouxe, nesta coluna, diferentes estudos, publica��es, artigos e novidades sobre o tema dos corpos gordos no mundo, em diferentes perspectivas. Seja pela arte, seja pela nutri��o, pela psican�lise, pela medicina. Em todos eles, repetimos o �bvio: s� queremos existir - e isso inclui ter os direitos que pessoas magras t�m. 

Aparentemente, as barreiras seguem sendo muitas. Ainda temos a dif�cil tarefa de dialogar n�o s� com os m�dicos que produzem conhecimento e pr�tica no mundo, mas com a nossa colega do lado que n�o passa um dia sequer sem postar - e tentar vender - o ‘m�todo infal�vel’ (parece o Cebolinha!) dela para perder at� 7 cm de abd�men, abrindo m�o da farinha branca e ingerindo carboidratos, oferecendo dietas sem qualquer qualifica��o profissional para isso e vendendo a magreza como o �nico estilo de vida poss�vel. 

Como eu j� disse, neste ano - e estamos s� no dia 11 ainda - minha vontade de existir, desejar e ser feliz  � maior do que minha vontade de brigar, ent�o, simplesmente, elimino da minha vida toda e qualquer pessoa ou sinal de gordofobia. De clientes a ‘amigos’. De potenciais paqueras a futuros contratos envolvendo alguma grana. Onde a magreza for celebrada, eu n�o estarei. 

E veja bem. Voc�, pessoa magra. Pode at� achar/se sentir uma aliada. Mas ser� que voc� � mesmo? Quando voc� tem medo de engordar, voc� est� sendo gordof�bica. Quando voc� diz: tudo bem voc� ser gorda, mas eu n�o quero ser”, isso tamb�m � gordofobia. Sentir repulsa por um corpo gordo, � gordofobia. N�o se relacionar com pessoas gordas, � gordofobia. E dizer: ah, mas � quest�o de gosto � muito 2014. Argumento que n�o cola, pois sabemos - mas t� aqui, pacientemente, explicando com evid�ncias e argumentos cient�ficos - que gosto � constru��o social. 

Quando voc� diz “eu te admiro por ser quem voc� �”, mas corre para se pesar assim que come e evita, a todo custo engordar, � gordofobia. Quando, acidentalmente, voc� admire que “tem pavor de ser gorda”, � gordofobia, ainda que voc� pense que � palat�vel dizer isso, mas saiba que n�o pode dizer “eu tenho pavor de ____ (insira aqui qualquer outra caracter�stica de opress�o estrutural”. 

Ent�o, meu bem, est� na hora de rever seu politicamente correto. Ou de deixar de ser gordof�bica. As duas coisas n�o v�o co-habitar mais. 

E, incomodarei lembrando como isso � opressivo. Sabendo disso, sei tamb�m que muita carapu�a ser� vestida. E muito ataque vir�. 

O que eu posso fazer? Seguir promovendo a informa��o, lidando com os haters que v�o me comparar aos negacionistas antivacina e dizer que, assim como eles, por causa do meu corpo gordo, eu gero despesas e sobrecarrego o Sistema �nico de Sa�de (SUS) por causa de uma escolha minha. 

Dito isso, volto no bate-papo que tive com Erick Cuzziol, em que ele revela como o estigma � forjado em informa��es que n�o s�o reais, mas como, ainda sim, ele se perpetua e causa tanto estrago, fazendo-nos duvidar, inclusive, do merecimento da nossa exist�ncia, j� que, aparentemente, n�o ter um corpo magro nos tornaria indignos, inclusive, de habitar o mesmo mundo das pessoas supostamente esfor�adas - ou doentes. 

Importante dizer que, se for doente e magro, tudo bem, a preocupa��o da sa�de � s� se a pessoa for gorda (cont�m ironia). 

“Temos estudos no Brasil que chamam de lipofobia, ou seja, o medo da gordura, o medo de engordar e precisamos entender que os maiores respons�veis por divulga��es de peso, tecido adiposo, sa�de e longevidade s�o os profissionais da �rea da sa�de. Esse discurso surge falhando, pois ao tentar alertar, cria-se o estigma, rotulando a pessoa gorda com bases n�o reais”, destaca. 

Ele aponta que uma das falhas da narrativa m�dica e do campo da sa�de est� em acreditar que pessoas que fazem dieta e atividade f�sica, automaticamente, ficar�o magras e as que n�o fazem, ficar�o gordas. 

“Evidentemente, percebemos que nem todas as pessoas t�m os mesmos resultados e nos discursos de peso, essa cren�a permanece, de que basta se esfor�ar e voc� consegue. 

A partir da�, come�a todo movimento questionando se a falha est� na pessoa ou no processo? Todas as pessoas v�o ter o mesmo tamanho de corpo se comerem igual? �bvio que n�o, at� porque tudo deve ser individualizado”, explica Cuzziol. 

Conforme ele explica, nesse contexto, reside um grande problema: quase nunca se estudou a gen�tica dos corpos gordos, com isso, n�o existem, atualmente,  exames, avalia��es e mecanismos de realizar estudos, de forma pr�tica e eficaz, sobre o desempenho do corpo, n�o sendo poss�vel responder quest�es como: e a pessoa que n�o consegue emagrecer, o que vai ser dela?  Ela pode viver estando gorda? 

A aus�ncia de informa��es combinada � falta de interesse e acomoda��o profissional da grande maioria dos trabalhadores da sa�de leva � cren�a de que todo mundo deve ser magro e que � uma quest�o de meritocracia: quanto mais voc� se esfor�ar e ficar sem comer, mais r�pido ter� o corpo ideal. 

Entretanto, como bem lembra Cuzziol, este comportamento nos leva a outras quest�es: E quem n�o � magro, o que vamos fazer com essas pessoas? Qual o melhor resultado que as pessoas que n�o conseguem se tornar magras v�o ter?

A falta de estudos na �rea que faz com que as pessoas acreditam que se se esfor�arem o suficiente, sen�o magras, o que as leva a comer cada vez menos, gerando transtornos.

 “Se falarmos hoje para profissionais de sa�de sobre pessoas gordas com anorexia, muitos v�o achar um absurdo, j� que poucos entendem que transtornos desse tipo podem acontecer com qualquer tipo de corpo. Estes profissionais t�m informa��es sobre transtornos em pessoas gordas que n�o seja compuls�o, comer noturno ou comer transtornado? Pessoas gordas podem ter transtornos alimentares, mas o estigma n�o permite que se avalie com efic�cia, pois acredita-se que s� ocorrem transtornos que aumentam o peso e n�o � a realidade”, esclarece. 

Ainda conforme o nutricionista, a anorexia s� � enxergada quando a pessoa est� visivelmente magra, numa fase aguda do problema, mas, muitas vezes, o transtorno pode estar em corpos gordos e aparentemente saud�veis. Para ele, o bullying e a neglig�ncia cometidos contra pessoas gordas s�o propulsores de transtornos alimentares, j� que, muitas vezes, impedidas de acessarem tratamentos para problemas outros de sa�de, s�o for�adas ao emagrecimento como �nica op��o. 

“Se a pessoa gorda vai ao m�dico com dor na perna, � dito a ela que ela n�o ter� acesso a tratamentos, a menos que ela emagre�a. Ou seja, n�o entregam informa��es e orienta��es, mas estigma. As pessoas s� acessam a sa�de se forem magras e essa � uma realidade”, pontua. 

Todo emagrecimento � sucesso?

Jessica Balbina com o dedo em
(foto: Thito Fonseca/Divulga��o)

N�o � novidade para ningu�m que pessoas gordas s�o lidas socialmente como pregui�osas, incompetentes, porcas, nojentas, pouco atraentes e (insira aqui seu adjetivo pejorativo), enquanto as magras s�o lidas como pessoas disciplinadas o suficiente para alcan�arem o corpo padr�o/desejado. 

Numa sociedade que supervaloriza a obedi�ncia e a disciplina, n�o se questionar o motivo do que quer que seja, at� mesmo disso, � praxe, o que, claro, d� brechas para os j� conhecidos transtornos. 

Mas, nossa fun��o aqui � questionar, ent�o, l� vamos n�s. “Todo emagrecimento � sucesso”? 

Erick Cuzziol garante que n�o. “N�s sabemos que quanto maior a pessoa for, maior ser� o estigma que ela vai enfrentar e, socialmente, ela ser� condicionada a emagrecer a qualquer custo, mesmo sem orienta��es, com a responsabilidade de encontrar uma ‘solu��o’ para a quest�o do tamanho do corpo, o que muitas vezes passar por acesso ao sistema de sa�de, a nutricionista, ao dinheiro, etc”, diz. 

De acordo com ele, muitos pacientes s�o impedidos de acessarem outros tratamentos para outros problemas de sa�de caso n�o emagre�am. Isso, somado �s filas e demora para marca��o de cirurgias levam a comportamentos que desencadeiam tamb�m os transtornos. “Se o paciente � informado que precisa perder 40kg para fazer uma cirurgia na perna e a fila para ele ser atendido demora, ele vai buscar produtos e formas para isso que n�o s�o bem fiscalizados, por exemplo”. 

Estes comportamentos podem desencadear dist�rbios, que passam pela pessoa enxergar o corpo maior do que �. “Estamos falando de pessoas que n�o encontram qualquer amparo se o que lhes � vendido � que ‘se voc� emagrecer, ter� sucesso’. Mas todo emagrecimento � sucesso?”, questiona. 

Quando a pessoa emagrece, segundo o profissional, nem sempre ela est� perdendo peso da forma correta. Muitas vezes, pode estar perdendo l�quido, m�sculo, o que pode desencadear outros transtornos ou mesmo problemas de sa�de mais graves do que o �ndice de Massa Corp�rea (IMC) alto. 

“Se a pessoa possui um transtorno e busca meios contraindicados para emagrecer, ela se coloca em risco. Pode at� abaixar o peso, mas n�o � o que se deseja em termos de um corpo saud�vel”, considera. 

Quem est� sofrendo pode oprimir?

Gabi Menezes com as mãos no queixo
Psicanalista Gabi Menezes (foto: Divulga��o)
 
Para contribuir tamb�m pra gente entender mais sobre os transtornos alimentares x gordofobia, convidei a psicanalista Gabi Menezes, especializada em transtornos alimentares, para explicar um pouco como, psiquicamente, isso ocorre. 

De acordo com ela, � preciso entender que a gordofobia � uma opress�o estrutural, ou seja, est� enraizada na nossa estrutura social e, inevitavelmente, vamos esbarrar nela em alguma ponta, seja oprimindo, seja sendo oprimides. E, como em toda opress�o, h� sofrimento. 

No caso das pessoas com transtornos alimentares ou de imagem, na maioria dos casos, a quest�o ganha contornos na inf�ncia, tornando-se um sintoma a ser trabalhado na vida adulta. Assim, � poss�vel que pessoas com transtornos alimentares realmente tenham medo de engordar e sofram com isso. 

“Eu gosto de pensar que, patologicamente, se uma pessoa, suponhamos, tenha medo de ser perseguida, isso vai gerar nela um transtorno e esse transtorno vai produzir uma ang�stia e um sofrimento muito grandes, j� que ela vai estar constantemente lidando com o medo. Assim, uma pessoa que tem transtornos alimentares, se colocarmos neste mesmo lugar, ela ter� dificuldades de olhar o corpo de maneira diferente e isso ai produzir um sofrimento muito grande, resultando em desespero no caso de aumentar 1kg ou 2kg na balan�a e sintomas f�sicos, como indu��o ao v�mito, compensa��o de comida, purga��o, entre outros, o que � bastante sofrido”, explica.

No entanto, ela destaca que � preciso reconhecer que ainda que seja uma patologia e necessite de cuidados, escuta e aten��o, n�o deixa de ser uma patologia opressiva, ou gordof�bica, neste caso. 

“N�o podemos ignorar o sofrimento da pessoa que tem o transtorno. Ela sofre com a pr�pria imagem, com dismorfia, ent�o, precisamos pensar que para ela, � muito horr�vel, mas, tamb�m � necess�rio considerar que essa � uma indu��o da sociedade, que pressiona para que isso aconte�a, para que corpos gordos sejam considerados horr�veis, o que leva os pacientes a uma avers�o por corpos gordos”, diz. 

Ainda de acordo com a psicanalista, os transtornos podem, na maioria das vezes, come�ar na inf�ncia e se encaminhar para algo maior na adolesc�ncia e vida adulta, desembocando em um sofrimento f�sico e ps�quico cont�nuos. “Estes pacientes usam v�rios mecanismos, inclusive procedimentos est�ticos e invasivos em busca da magreza, que � forjada pela sociedade gordof�bica. Normalmente, vemos pessoas que reproduzem justamente o que sofrem, entendendo que o �nico corpo v�lido � o magro. Na cl�nica, tento voltar muito pra isso e entender onde esse sentimento tem origem, j� que muitos pacientes sabem que n�o � adequado que sintam avers�o por corpos gordos, mas t�m uma dificuldade imensa em se livrar do sentimento que causa esse sofrimento”, conta. 

Da minha parte, sinto que � preciso que transtornos sejam tratados. Assim como corpos gordos. No entanto, o que observamos � que, socialmente, transtornos s�o validados como condi��es de sofrimento, enquanto opress�o contra corpos gordos, n�o. J� falamos aqui, inclusive, sobre a crueldade que � quase um fetiche contra os corpos gordos. H� um sentimento/desejo/dever de puni��o da sociedade para com estes corpos, o que n�o acontece em rela��o a quem nos oprime. 

Dito isso, refor�o que n�o invalido ou tenho qualquer coisa contra quem sofre transtornos, mas acho importante ressaltar que o uso desta carta como valida��o de um preconceito � cruel e perverso, sobretudo contra corpos que j� n�o desfrutam dos direitos b�sicos como os corpos magros e padronizados. N�o podemos ter a nossa dissid�ncia punida, inclusive, psiquicamente, para que outras pessoas gozem de seus sintomas. 

Quanto ao pavor, eu tenho um s�: ser a pessoa que est� do lado de quem oprime. Encerro chamando meu amigo - e mestre, S�rgio Vaz. Daqui, seguimos. “Punhos erguidos e um sorriso no rosto porque a luta n�o para”. 

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