
� sabido que no m�s de junho celebra-se o “M�s do Orgulho LGBTQIA+”. Desde 28 de junho de 1969, quando os frequentadores do Stonewall Inn., um bar localizado no vilarejo de Greenwich em Nova York e que recebia o p�blico queer, resolveram dar um basta nos anos de viol�ncia e persegui��o policial, causando o que ficou conhecida como a ‘Revolta de Stonewall’ e deu origem ao movimento que conhecemos atualmente.
Mas minha pergunta �: seu orgulho LGBTQIA inclui pessoas gordas?
Para e pensa: voc� ostenta sua bandeira LGBTIQA e cobra direitos e exige respeito por amar. Mas, voc� ama corpos diferentes do seu e/ou diferentes do padr�o? Quais s�o as corporeidades presentes no seu c�rculo?
� importante que falemos sobre o apagamento da pluralidade corporal dentro da diversidade, seja discursivamente, seja no ocupar espa�os. Muito falamos sobre interseccionalidade, mas, quanto dessa interseccionalidade inclui corpos gordos?
O qu�o aberto voc� est�, dentro da sua milit�ncia, para ouvir e falar sobre gordofobia?
E aqui, chamo a aten��o para este marcador que oprime e marginaliza corpos como o meu e, estar em ambientes LGBQTIA n�o alivia em nada. Ainda que estejamos entre corpos estigmatizados de outras formas, estamos lidando com pessoas magras e, necessariamente, nossos corpos gordos s�o preteridos de olhares, escuta e, sobretudo, afetos dentro do grande guarda-chuva da sigla.
E veja, n�o estou dizendo que s�o opress�es id�nticas, mas falo de uma invisibilidade que � real, latente e que n�o existe, sequer, espa�o para discut�-la. Ca�mos aqui na velha desculpa dada por quem oprime e/ou � gordof�bico: mas ser uma pessoa gorda n�o � uma condi��o permanente, a pessoa pode mudar, se quiser. E, arraigado a este discurso mora uma opress�o silenciosa, validada socialmente e est� atrelada, diretamente a “quest�o de gosto”, que � t�o violenta quanto qualquer outra manifesta��o de anula��o de alteridade.
Sabemos que a pessoas LGBTQIA lutam por seus direitos e ainda t�m um longo caminho, mas, � preciso marcar que, quando falamos de corpos magros, estes acessam privil�gios que os corpos gordos n�o acessam, sejam eles vis�veis, como o espa�o f�sico mesmo, sejam eles subjetivos, como o desprezo, o nojo, os olhares e a aus�ncia de afeto.
Voc�, pessoa queer, sabe que h� 32 anos a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) tirou a homossexualidade da lista do CID, no entanto, compreende que pessoas gordas enfrentam hoje a patologiza��o que voc� j� enfrentou.
Quantas pessoas gordas dentro da comunidade LGBTQIA fazem parte do seu conv�vio? Seu orgulho � extensivo a corpos que n�o s�o os corpos padr�es? Quantas pessoas gordas v�o aos seus anivers�rios? Com quantas voc� j� se relacionou? Quais voc� verdadeiramente ama? Ou, quais piadas envolvendo peso e pessoas gordas voc� j� fez hoje no seu grupo de amigues LGBQTIA ?
� urgente pensarmos que, de um lado, combatemos a ‘cura gay’ e reafirmamos sua inexist�ncia, por outro, atribu�mos a um corpo gordo algo como uma doen�a e esperamos que o dono daquele corpo queira se curar e batalhe pra isso, emagrecendo e cabendo. � preciso que se combata tamb�m a ‘cura gorda’.
Ainda sim, corpos gordos s�o usados como alvo de deboche por uma fatia da comunidade LGBTQIA , a mesma que ocupa faixas e faixas de quil�metros de uma das maiores paradas do mundo, que � branca, tem poder de compra e, na maioria das vezes, fetichiza, ridiculariza a exp�e as pessoas gordas.
E, veja bem! N�o quero me concentrar aqui t�o somente no sofrimento e falar dele ou de como pessoas gordas s�o maltratadas, mas acho importante dizer sobre e mapear como isso pode ser violento, inclusive em espa�os que se prop�e a serem acolhedores, mas acabam por serem higienistas.
Penso que n�o deveria, afinal, s�o anos discutindo a mesma coisa, mas aqui vai. Caso voc�, LGBQTIA n�o saiba: corpos gordos n�o s�o doentes, n�o s�o engra�ados e n�o merecem ser palco de deboche e ridiculariza��o.
Dito isso, n�o quero pedir que nos respeitem dentro da sigla LGBTQIA . Respeito n�o � algo que deva ser pedido. Mas gostaria de lembrar que os mesmos valores que s�o buscados por esses corpos que t�m as viv�ncias e exist�ncias oprimidas s�o buscados por pessoas gordas que pertencem a este guarda-chuva, afinal, � importante que tenhamos orgulho de ser quem somos, mas tamb�m de sermos pessoas gordas e LGBTQIA . Fico ansiosa pelo dia que seremos apenas amor, tanto pra pessoas gordas, tanto pra pessoas LGBTQIA .