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Estado de Minas

Coronav�rus e a gra�a do viver

"No caso brasileiro, o sentimento que o presidente comunica � o sentimento de vergonha!"


postado em 30/03/2020 04:00 / atualizado em 30/03/2020 11:48

Apesar da recomendação do Ministério da Saúde para que as pessoas permaneçam em casa, o presidente Jair Bolsonaro foi para as ruas, ontem, em Brasília(foto: Marcos Pereira/Estadão Conteúdo)
Apesar da recomenda��o do Minist�rio da Sa�de para que as pessoas permane�am em casa, o presidente Jair Bolsonaro foi para as ruas, ontem, em Bras�lia (foto: Marcos Pereira/Estad�o Conte�do)
Mar�o seria o m�s das minhas f�rias. Com Virginia, minha mulher, chegamos aos Estados Unidos no dia 6 para reencontrar uma das filhas, o genro e as duas netinhas americanas. Tallahassee, capital da Fl�rida, no norte do estado, perto da Ge�rgia e do Golfo do M�xico, onde vivem, � uma cidade de menos de 200 mil habitantes, infraestruturas excepcionais, tr�s universidades, com 52 mil alunos. Meu genro, PhD em Musicologia por Harvard, � professor concursado na universidade estadual da Fl�rida. A regi�o � densamente arborizada, com predom�nio de carvalhos de diferentes esp�cies. Lagos por todo lado. A culin�ria � a do sul tradicional dos Estados Unidos, semelhante � do Mississipi, Tennessee, Alabama, Ge�rgia. Um prato apreciado � um assado de camar�o (enorme) recheado com a carne da pata de caranguejo, e isso envelopado em bacon. Porco assado com molho de barbicue tamb�m � muito apreciado. A trindade ind�gena: feij�o, ab�bora e milho � o feij�o (cinza com “olha preto”) com arroz – tamb�m muito apreciados – do sul. A regi�o era o habitat da na��o Seminole, a �nica insubmissa. Resistiu ao cerco do governo e, adiante, obteve os melhores acordos de garantias de direitos. Os Seminole vivem em reservas e mant�m cassinos. Disp�em de alta renda. Planej�vamos percorrer o sul da Ge�rgia. Depois, conhecer New Orleans. De outra vez.


Tallahassee � uma cidade onde � imposs�vel viver sem o uso constante do autom�vel. As pessoas encontram-se nas universidades e demais locais de trabalho, em eventos, visitando-se ou programando passeios. � claro, como as aulas, tudo est� suspenso. Os parques s�o lindos e a visita ao litoral do Golfo do M�xico � imperd�vel. A cidade � absolutamente espalhada. H� condom�nios abertos por todo lado. O im�vel da casa da minha filha e genro tem �rea de quase de 1 hectare. Sob confinamento, isso oferece ampla prote��o, como barreira natural � exposi��o ao v�rus. Da� a insist�ncia da filha e do genro para que a nossa perman�ncia entre eles se estendesse por tr�s ou quatro meses, at� que a curva de expans�o da pandemia alcan�asse o pico e ou do “cont�gio sustentado” nos Estados Unidos, estimado para o final de abril, e tamb�m no Brasil, projetado para o final de maio, podendo estender-se ao m�s de junho. Poder�amos dispor do benef�cio do plano de sa�de deles. L�, n�o existe algo semelhante ao SUS ou ao sistema de sa�de brit�nico ou franc�s. Portanto, o argumento da perman�ncia por l� era atraente e consistente. Contudo, antecipamos o retorno em uma semana. Estamos em casa, em Belo Horizonte, desde 23 de mar�o. Sa�mos dos Estados Unidos na semana de in�cio da expans�o exponencial do cont�gio. Sab�amos do risco durante a viagem internacional de regresso. Decidimos pelo confinamento em nossa casa. Sou secret�rio municipal de Obras e Servi�os Urbanos de Contagem, cidade de 660 mil habitantes. Desde o retorno, a videoconfer�ncia passou a fazer parte do meu dia a dia.  


Ainda nos Estados Unidos, falamos com a outra filha, que h� anos vive na Fran�a, em Paris. Temos duas netinhas francesas. O ramo franc�s da fam�lia estava, e permanece, literalmente confinado ao espa�o do pequeno apartamento, situado pr�ximo ao March� D’Aligre, tr�s quadras da Bastilha. A perspectiva por l� � de confinamento domiciliar geral pelo menos at� o final de abril, quando o topo da curva de expans�o do novo coronav�rus dever� ser alcan�ado, dando in�cio ao gradual movimento de revers�o. Na Fran�a, o confinamento se fez pol�tica de Estado como meio de prevenir o alastramento exponencial da pandemia. O governo do presidente Macron agiu com coragem, rapidez decis�ria, bom planejamento e alt�ssima prioridade na defesa da vida: uniu o pa�s em torno da lideran�a presidencial. Na It�lia, desde o in�cio da expans�o do novo coronav�rus inexistiu o governo nacional. Ao ponto dos governos locais das ricas regi�es da Lombardia e do Piemonte, ao norte, permanecerem sob a orienta��o do prefeito da rica cidade de Mil�o, respons�vel pelo lan�amento da campanha “Mil�o n�o pode parar”, de conclama��o para que os cidad�os continuassem a frequentar os locais de trabalho, estudo, lazer, restaurantes, bares, teatros. Essa campanha come�ou em 24 de fevereiro. Um m�s depois, perto de 120 mil italianos internados e mais de 11 mil mortos no pa�s e sobretudo no norte rico, o prefeito pediu desculpas aos cidad�os, encerrou a campanha e adotou o confinamento domiciliar geral. A It�lia j� registra mais mortos do que na pr�pria China, com seu 1,5 bilh�o de residentes. O confinamento agora � total.


Na Fran�a, Macron antecipou-se certeiramente e n�o cometeu o grave erro dos governantes italianos. H� tr�s semanas, o primeiro-ministro ingl�s, ostensiva e intencionalmente, distribu�a cumprimentos p�blicos. Voltou atr�s, desculpou-se publicamente e est� com coronav�rus, ele e o ministro da Sa�de ingl�s. Macron fez o que � certo, desde o in�cio. Exemplo: no mesmo pr�dio onde vivem a minha filha e sua fam�lia, a minha netinha de 6 anos de idade, Helena, n�o pode ter contato direto, f�sico, com a amiguinha da mesma idade, residente um andar abaixo. Conversam pelas janelas, a um andar de dist�ncia. � confinamento total, geral. Meu genro, psiquiatra e psicanalista, est� convocado para prestar servi�o tamb�m como cl�nico e m�dico generalista. A sudeste, est� a It�lia; a sudoeste, a Espanha, em situa��o, hoje, semelhante � da It�lia. Na Fran�a, m�dicos j� convivem com o infort�nio das “escolhas de Sofia”, decidindo, vez por outra, entre pacientes graves qual ter� a �ltima vaga dispon�vel no CTI.


O presidente Macron decide e age como estadista. Impopular at� h� pouco tempo, hoje, pelo modo como lidera o pa�s na conten��o e controle da pandemia, todo dia, ao final do entardecer, ele e os m�dicos franceses s�o homenageados pelos sempre cr�ticos parisienses com um espet�culo espont�neo de palmas e de pisca-pisca nos apartamentos dos pr�dios de cinco a seis andares, espalhados por Paris. A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, bem ao contr�rio das demonstra��es iniciais de despreparo afrontoso do presidente americano Donald Trump, distingue-se pela intelig�ncia, eleva��o de esp�rito, coragem moral e rigoroso compromisso com a verdade. A Alemanha est� controlando a epidemia com a m�xima profici�ncia para aplicar, em escala, testes de detec��o e com perfeita organiza��o dos servi�os hospitalares. Lembre-se, leitor, que Angela Merkel decidiu, contra a maioria da opini�o p�blica alem�, abrigar e oferecer cidadania a 1 milh�o se s�rios refugiados em raz�o da guerra civil que infelicita a S�ria.


Trump odeia fatos, verdade, evid�ncia, argumentos, conhecimento, racionalidade e cultura, entendida como uma capacidade de orienta��o geral. At� uma semana atr�s, prosseguia notabilizando-se por sucessivas performances desastrosas diante da TV. Nos Estados Unidos, Trump na TV foi um desastre. O fato que fica � que, h� uma semana, precisamente, a infec��o pelo novo coronav�rus explodiu nos Estados Unidos, primeiro na Costa Leste e na Costa Oeste. O fato not�vel que agora se fixa � que Trump mudou, da �gua para o vinho, pelo menos no que concerne ao novo coronav�rus. Determinou a aloca��o de US$ 2,3 trilh�es para enfrentar a crise em suas dimens�es sanit�ria, social de emprego e renda, econ�mica de sustenta��o da atividade e de provis�o de empr�stimos subsidiados e de longo perfil. Parece um outro Trump. O presidente americano est� tomando decis�es no melhor estilo Frank Delano Roosevelt, que fez o “New Deal” e tirou os Estados Unidos da Grande Depress�o de 1929. Na forma de invers�o p�blica de dinheiro, liberou cerca de 12% do PIB americano para enfrentar a crise. Parece ter adotado, ainda que parcialmente, at� mesmo uma das propostas pol�ticas do senador socialista do Partido Democrata, Sanders, de anular a d�vida dos estudantes americanos com os bancos que financiam os estudos superiores.


Enquanto o mundo age assim, no caso brasileiro o sentimento que o presidente comunica � o sentimento de vergonha! � isso: o presidente Bolsonaro nos faz sentir vergonha. Pelo menos, uma boa nova vinda de Bras�lia. Na quarta-feira, depois de quase vender a alma ao diabo, ao vivo, pela TV, o ministro da Sa�de, o m�dico Mandetta, parece ter assumido virtuosamente, de fato, o comando nacional da pol�tica de combate ao coronav�rus. Escolheu a companhia da raz�o, da ci�ncia, da melhor t�cnica de planejamento e a coopera��o ampla. Escolheu a companhia dos governadores, dos prefeitos das capitais e das comunidades cient�fica e m�dica. Enquanto isso, o diabo anda solto no meio do redemoinho! A novidade � que, a partir de agora, sob conten��o!

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