Ei, voc� a�, que est� reclamando que mal pode sair de casa. Que nos �ltimos meses se v� privado de trabalhar, praticar seu esporte favorito ou passear, por causa do necess�rio isolamento social para tentar frear a pandemia de COVID-19. Por alguns minutos, tire o foco de si e pense em Gustavo Blanco. Esse distanciamento das coisas que a gente gosta, que estamos passando agora, ele experimenta h� quase dois anos. Desde julho de 2018, o jogador do Atl�tico vive uma esp�cie de quarentena particular. Afastado dos campos devido a seguidas les�es, amarga uma pausa for�ada na carreira que parece nunca ter fim.
A trajet�ria de Blanco no Galo chega a ser inusitada, e vale uma retrospectiva r�pida para explanar a dimens�o da reclus�o compuls�ria que o volante tem vivido nos �ltimos tempos. Ele mostrou seu potencial antes mesmo de vestir a camisa alvinegra: a primeira escala em gramados mineiros foi no Am�rica, onde, do alto de seus 22 anos, mostrou desenvoltura de veterano durante o Campeonato Mineiro de 2017. As boas atua��es despertaram a cobi�a dos dirigentes atleticanos, que conseguiram contrat�-lo por empr�stimo ao Bahia (que detinha seus direitos), em junho daquele ano.
O v�nculo iria at� dezembro de 2018, mas Blanco agradou tanto que antes do t�rmino o Galo adquiriu 70% dos direitos federativos dele por R$ 1,2 milh�o e o contratou em definitivo, at� dezembro de 2022. No primeiro semestre de 2018, a cada partida mostrava que a aposta havia sido certeira. Sereno em campo, preciso nos desarmes, com boa sa�da de bola, era promissor. Caiu nas gra�as da torcida.
At� que veio a primeira contus�o s�ria, durante um treino, que lhe rendeu a primeira cirurgia no joelho esquerdo, em julho. Somente em janeiro de 2019, Blanco retornou aos treinos. Uma volta temperada pela esperan�a – ele chegou a ser inscrito na Copa Libertadores com a camisa 25. No m�s seguinte, uma entorse no mesmo joelho causou uma les�o no ligamento cruzado anterior que o levou, novamente, para a mesa de opera��o. Planos interrompidos mais uma vez. Apenas em outubro ele foi liberado para corridas em campo. O reencontro com a bola, no entanto, seria s� em 2020. Era necess�rio paci�ncia.
Com aquele jeito tranquilo de bom baiano, ele esperou a hora chegar. Trabalhou por ela. Nas horas vagas, dedicou-se aos estudos na �rea financeira, ocupou a cabe�a, quase numa pr�via do que todo mundo est� tendo de fazer agora. Em mar�o deste ano, finalmente, voltou a trabalhar com bola. Mas os deuses do futebol n�o pareciam muito dispostos a abreviar t�o facilmente esse hiato na carreira do jogador, pois veio a pandemia e, com ela, a paralisa��o dos campeonatos. Blanco continuou treinando, para apurar a forma f�sica, recuperar o tempo perdido. A palavra dos m�dicos era a de que ele estaria com o grupo no retorno aos treinos na Cidade do Galo, e assim se sucedeu.
O problema � que o destino tem l� suas vontades pr�prias, que a gente n�o consegue entender – pelo menos, � luz da raz�o. E assim se desenhou: na ter�a-feira, Blanco concedeu entrevista para falar da ansiedade da volta. “� complicado determinar uma data, n�!? Mas, desde o dia em que me machuquei, trabalho com esse intuito de voltar a jogar, de voltar a ser titular, de ajudar o clube. N�o depende s� de mim, depende da comiss�o t�cnica, do treinador. Se dependesse de mim, j� seria escalado no primeiro jogo (risos)”.
Pois, nesse mesmo dia, Gustavo Blanco se viu diante de mais um problema m�dico: uma ruptura do tend�o do m�sculo reto femoral no quadril esquerdo, que o tirou de combate mais uma vez. Desde ent�o, faz tratamento conservador na Cidade do Galo.
Quando Blanco vai jogar, hoje, � uma grande inc�gnita, talvez a maior de todos esses dois anos que se passaram. N�o apenas pela vontade dele. Nem t�o somente pela defini��o do t�cnico Jorge Sampaoli. Agora, al�m de se recuperar de mais essa, o volante alvinegro vai precisar contar com o controle da COVID-19 no Brasil para que os jogos de futebol sejam autorizados a retornar. Uma grande interroga��o, j� que a pandemia ainda est� descontrolada no pa�s e n�o h� possibilidade de vacina a curto prazo, nem foi descoberto um rem�dio que seja efetivo para trat�-la. Ele n�o est� nesta sozinho mais. A esta altura, o calv�rio de Blanco � o calv�rio de todos n�s.