
As cenas impressionaram o Brasil tanto quanto o futebol vistoso do Atl�tico diante dos argentinos. A cada elogio � atua��o da equipe comandada por Cuca vinha a reboque uma ressalva pelo gol contra de torcedores.
O gola�o de Zaracho, a atua��o impec�vel de Hulk e as grandes defesas de Everson acabaram por dividir o protagonismo com as imagens de milhares de pessoas sem a menor preocupa��o com m�scara e distanciamento, se aglomerando dentro e fora do Gigante da Pampulha.
Talvez cansadas da realidade, elas decidiram se alienar, amparadas por uma pretensa seguran�a diante da exig�ncia de testes de COVID-19 a quem fosse ao est�dio. Levaram ao p� da letra o lema de viver o presente, sem se preocupar com consequ�ncias - ainda que uma delas possa ser a morte. A inconsequ�ncia em estado bruto.
A cada cena dessas eu n�o podia deixar de imaginar como tamb�m estariam ali gama, delta, alfa e todas as colegas variantes a passear, escolhendo a dedo um corpo aquecido para acolh�-las.
Seria demais esperar que fossem seguidos os tais protocolos sanit�rios, que previam distanciamento entre pessoas de diferentes n�cleos (inclusive com a orienta��o de deixar um assento vazio � frente, atr�s e ao lado de outros grupos) e a obrigatoriedade do uso de m�scara durante todo o tempo?
Seria demais esperar que, naquela atmosfera m�gica, com o time encantando, o torcedor parasse para racionalizar que estava colocando a sua vida e de outros em risco?
Claro que seria! E por muitas raz�es.
A primeira � cultural. No pa�s do jeitinho, da lei de G�rson, onde � dif�cil fazer as pessoas atravessarem a rua na faixa de pedestre, � complicado imaginar que regras sejam cumpridas. O povo est� acostumado a descumpri-las e nada acontece.
Se n�o tem ningu�m para fiscalizar, mediar e cobrar, a� � que a coisa corre solta mesmo. Falta muita consci�ncia coletiva.
Outra explica��o est� na seara emocional. A abstin�ncia de Atl�tico era tamanha que muitas daquelas pessoas, longe de serem negacionistas, pareciam estar em um estado de transe tal que nem sequer se lembravam de onde vieram e para onde iriam.
Em nome de voltar a campo, de poder ver de perto o time e na empolga��o do momento, ignoraram totalmente os riscos. Chegou a ser irracional. � compreens�vel, por todo esse contexto. Mas de forma alguma aceit�vel.
N�o foi por acaso que o Jap�o decidiu vetar, de �ltima hora, a presen�a de p�blico nas arenas esportivas durante os Jogos Ol�mpicos e Paral�mpicos . Antes de radicalizarem, as autoridades japonesas chegaram a produzir um manual de comportamento, ensinando como deveria ser a torcida em termos pand�micos.
Entraria em vigor a pol�tica do sil�ncio: seria proibido gritar, cantar, tossir (como pro�be algu�m de tossir?) e se abra�ar nos gin�sios. E a emo��o do momento, como ficaria? Engoliria seco? Ningu�m sabe.
Num pa�s t�o ordeiro e disciplinado como o Jap�o, pode at� ser que algumas dessas normas fossem fact�veis. Mas eles preferiram n�o arriscar e duas semanas antes do in�cio dos Jogos Ol�mpicos recuaram. Aqui no Brasil, e em Belo Horizonte, decidiram percorrer o caminho contr�rio e pagar para ver, em plena expans�o da cepa mais transmiss�vel do coronav�rus .
Na noite desta sexta-feira ser� a vez de os cruzeirenses serem "testados" no novo normal. Para eles, h� um outro ingrediente nessa receita: ser� a primeira vez que ver�o, de perto, a S�rie B do Campeonato Brasileiro, j� que, desde que o time estreou na competi��o, as partidas vinham sendo disputadas em est�dios vazios.
O jogo contra o Confian�a ser� um teste duplo: vai ser hora de avaliar o desempenho celeste dentro e fora das quatro linhas. Que eles sigam apenas o bom exemplo dado pelo arquirrival em campo.