(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas ENTRE LINHAS

O pa�s precisa de pol�tica de exporta��es que valorize sua complexa produ��o

As vendas para a China tendem a crescer regularmente, sobretudo quando for conclu�da a ferrovia Norte-Sul e o chamado Arco Norte, incluindo portos fluviais e mar�timos da Bahia, Pernambuco, Maranh�o e Amazonas


postado em 02/01/2020 04:00 / atualizado em 02/01/2020 07:58

As relações comerciais do Brasil com a China, hoje o principal parceiro do Brasil no exterior, devem ganhar importância, diante da apreciação do câmbio e aumento das importações de bens industriais(foto: Porto do Açú/Divulgação %u2013 24/1/19 )
As rela��es comerciais do Brasil com a China, hoje o principal parceiro do Brasil no exterior, devem ganhar import�ncia, diante da aprecia��o do c�mbio e aumento das importa��es de bens industriais (foto: Porto do A��/Divulga��o %u2013 24/1/19 )

Em 12 de abril de 1961, a bordo da Vostok 1, Yuri Gagarin se tornou o primeiro homem a ser lan�ado no espa�o. A nave media apenas 4,4 metros de comprimento por 2,4 m de di�metro, e pesava 4.725 quilos, com dois m�dulos, um para acomodar os equipamentos e tanque de combust�vel, o outro era a c�psula onde o cosmonauta realizou a proeza de ser o primeiro ser humano a ver que o nosso planeta � redondo: “A Terra � azul! Como � maravilhosa. Ela � incr�vel!”, exclamou Gagarin, durante a �nica volta que deu em �rbita. Aos 27 anos, ele havia sido selecionado entre 19 pilotos submetidos a testes f�sicos e psicol�gicos rigoros�ssimos. Ele tinha somente 1,57 m de altura e pesava 69 kg, ou seja, seu porte f�sico acabou sendo um diferencial para a sele��o, como acontece com submarinistas e j�queis.
 
Quando entrou na nave, fez um coment�rio como se fosse o �ltimo: “Em poucos minutos, possivelmente uma nave espacial ir� me levar para o espa�o sideral. O que posso dizer sobre estes �ltimos minutos? Toda a minha vida parece se condensar neste momento �nico e belo. Tudo o que eu fiz e vivi foi para isso!”. Naquele mesmo ano, ainda crian�a, levado por minha m�e ao Monumento dos Pracinhas, no Rio de Janeiro, tive oportunidade de ver o Gagarin. A imagem que trago na mem�ria n�o � a do seu porte f�sico, � a da multid�o e n�o a do seu sorriso cativante, que aparece em todas as fotos, classificado pelo poeta russo Evgu�ni Evtuchenko (1932- 2017) como o mais bonito do mundo.
Isso � conversa de comunista, dir�o os terra-planistas, numa dupla demonstra��o de ignor�ncia: Evtuchenko e o ent�o presidente da R�ssia, Boris Yeltsin, lideraram os protestos que resultaram no fim da Uni�o Sovi�tica e do chamado “socialismo real” no Leste Europeu. “N�o morra antes de morrer”, seu livro em prosa publicado no Brasil pela Record, em 1999, relata a crise que levou ao colapso o sistema sovi�tico, depois do sequestro de Mikhail Gorbatchov pelos militares, que tentaram dar um golpe de Estado contra a perestroica. Foi um tiro pela culatra. Seu poema Babi Yar, nome de um desfiladeiro nas imedia��es de Kiev, que relata o massacre de 35 mil judeus pelos nazistas, em setembro de 1941, serviu de inspira��o para a 13ª Sinfonia de Chostak�vitch, cuja for�a l�rica tamb�m foi uma cr�tica ao antissemitismo sovi�tico.
 
O voo de Gagarin durou exatos 108 minutos, a uma altura de 315 km a partir da superf�cie, em uma velocidade de 28 mil km/h. O cosmonauta se manteve em contato com a Terra por r�dio e tel�grafo. Na volta ao planeta, os cientistas sovi�ticos erraram o c�lculo da trajet�ria de aterrissagem da nave, fazendo com que Gagarin ca�sse no Cazaquist�o – a mais de 320 km do local previsto. Depois da aterrissagem, sozinho, precisou esperar que a equipe o resgatasse. O erro acabou sendo mais uma prova do sucesso pleno da primeira miss�o espacial humana.
 
Lembrei-me de Gagarin por causa de um v�deo do f�sico norte-americano Carl Sagan, que circulou nas redes �s v�speras do ano novo, numa dessas recidivas virais da internet, pois trata-se de um programa de tev� de 1980, de divulga��o cient�fica, intitulado Cosmos. O f�sico morreu em 1996, aos 62 anos. Nele, explica como alguns gregos antigos j� haviam descoberto, atrav�s da simples observa��o, que a Terra � uma esfera. Erat�stenes, um estudioso grego, que dirigiu a famosa Biblioteca de Alexandria, viveu entre os anos de 276 a.C. e 195 a.C. Utilizando apenas “varas, olhos, p�s, c�rebro e o prazer de experimentar”, observou a sombra de duas colunas, uma colocada em Siena e outra em Alexandria, ambas no Egito.

Complexidade

Ele notou que em Siena, no dia do solst�cio de ver�o, ao meio dia, o Sol ficava em seu ponto mais alto e a coluna l� instalada n�o projetava nenhuma sombra. Diferente daquela de Alexandria, que produzia uma pequena mancha no ch�o. Sagan explica ent�o que, se a Terra fosse achatada, ambas estruturas produziriam sombras iguais. Mas, como o planeta � esf�rico, o sombreamento varia. Sagan mostra como o estudioso descobriu a angulagem entre as duas colunas a partir de suas sombras. O valor aproximado foi de sete graus. Com esse valor em m�os, o matem�tico fez um c�lculo de equival�ncia, j� que sabia a dist�ncia entre as duas cidades: quase 800 quil�metros. Fazendo as contas, ele chegou � medida de 40 mil quil�metros como a circunfer�ncia do planeta. Errou por aproximadamente por 75 quil�metros, dist�ncia 4,4 vezes menor do que o erro de c�lculo sobre o local de aterrissagem de Gagarin.
 
Ontem, ao se despedir como comentarista da Folha de S�o Paulo, o historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor da Universidade de Paris – Sorbonne e da Funda��o Get�lio Vargas, chamava a aten��o para a for�a gravitacional da economia chinesa sobre os eixos de log�stica e territoriais brasileiros. Ao reduzir de 48 para 35 dias a viagem entre os portos do Nordeste da China e Roterd�, a navega��o comercial entre a Europa e o Extremo Oriente pelo oceano �rtico, iniciada em 2013, levou � moderniza��o do Canal de Suez (2015) e do Canal do Panam� (2016). Por essa raz�o, as exporta��es pelos estados setentrionais do Brasil tendem a crescer regularmente, sobretudo quando for conclu�da a ferrovia Norte-Sul e o chamado Arco Norte, incluindo portos fluviais e mar�timos da Bahia, Pernambuco, Maranh�o e Amazonas.
 
“Pela primeira vez, desde a cria��o do Estado do Gr�o Par� e Maranh�o, concebido em 1621 como entidade aut�noma da Am�rica Portuguesa, no contexto da pol�tica filipina envolvendo as quatro partes do mundo, o com�rcio externo, e essencialmente o com�rcio mar�timo, rearticula a geografia econ�mica da totalidade do territ�rio nacional”, destaca Alencastro. Detalhe: desde a circunavega��o do globo por Fern�o de Magalh�es, j� se sabia que a terra � redonda e interligada pelos oceanos. H� duas consequ�ncias pr�ticas do deslocamento do eixo do nosso com�rcio do Ocidente para o Oriente: primeiro, a rela��o comercial do Brasil com a China, que j� � o nosso principal parceiro comercial, aumentar� ainda mais de import�ncia; segundo, como resultado, pode haver mais aprecia��o do c�mbio, aumento das importa��es de bens industriais e desindustrializa��o. Ou seja, o Brasil precisa de uma pol�tica de com�rcio exterior que aumente a complexidade da nossa economia, isto �, a diversidade e a sofistica��o da estrutura produtiva brasileira.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)