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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Luiz Carlos Azedo: Bolsonaro enquadrou Mandetta

Ministro da Sa�de fez discurso de unidade com o presidente da Rep�blica


postado em 09/04/2020 04:00 / atualizado em 09/04/2020 09:12

Ministro disse na coletiva que o chefe da equipe do ministério é Bolsonaro(foto: Edu Andrade/Fatorpress/Estadão conteúdo)
Ministro disse na coletiva que o chefe da equipe do minist�rio � Bolsonaro (foto: Edu Andrade/Fatorpress/Estad�o conte�do)
Escrevo antes do pronunciamento de Bolsonaro de ontem � noite, em cadeia de tev�. Pela live que compartilhou no Twitter, a conversa que teve com Luiz Henrique Mandetta, obrigou o ministro da Sa�de a flexibilizar geograficamente a pol�tica de distanciamento social, levando em conta a progress�o da doen�a nos estados. � um perigo, mas Mandetta hasteou a bandeira branca e bateu contin�ncia para o presidente da Rep�blica. Na entrevista coletiva que deu � tarde, deixou isso claro: “Quem comanda esse time aqui � o presidente Jair Messias Bolsonaro", disse. "Tivemos nossas dificuldades internas, isso � p�blico, mas estamos prontos, cada um ciente de seu papel nessa hist�ria".

N�o sei o qual o acordo que fizeram, mas essa � a ordem natural das coisas num sistema de poder no qual o v�rtice � o presidente da Rep�blica. A prop�sito, Norberto Bobbio, ap�s o assasssinato do primeiro-ministro Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas, escreveu uma s�rie de artigos sobre a crise italiana, reunidos numa colet�nea publicada no Brasil, intitulada As ideologias e o poder em crise, em tradu��o de Marco Aur�lio Nogueira. Destaco dois deles: A pol�tica n�o pode absolver o crime, no cap�tulo sobre Os fins e os meios, e Quem governa?, em O mau governo.

A refer�ncia a Bobbio veio ao caso por causa de uma passagem da estrevista do ministro Mandetta. Em certo momento, no chamamento que fez � uni�o de todos contra a epidemia, disse que as autoridades m�dicas precisam da ajuda de todos, inclusive das mil�cias e dos traficantes. O ministro n�o � nenhum ing�nuo, deve ter algum motivo para ter falado isso, mesmo sabendo que seria duramente criticado por essa refer�ncia ao crime organizado. A grande d�vida � se fez um apelo dram�tico por puro desespero, pois estamos num momento crucial do crescimento exponencial da epidemia, ou se realmente houve um pacto do governo Bolsonaro com as mil�cias e os traficantes.

'N�o sei o qual o acordo que fizeram, mas essa � a ordem natural das coisas num sistema de poder no qual o v�rtice � o presidente da Rep�blica'

N�o seria primeira que vez que isso aconteceria, com consequ�ncias desastrosas, porque favorece a expans�o do crime organizado na sociedade e sua infiltra��o na pol�tica. Por outro lado, � muito f�cil faz�-lo, pela via das rela�oes perigosas nos sistemas de seguran�a p�blica e penitenci�rio. Ministro-chefe das Casa Civil, o general Braga Netto, ex-interventor no Rio de Janeiro, conhece bem essas conex�es. Qual � a l�gica perversa por tr�s desse racioc�nio?

Todos sabemos que a epidemia ainda n�o chegou no pov�o, est� na classe m�dia alta, e s� agora registra os primeiros casos de mortes nas favelas e periferias das grandes cidade e regi�es metropolitanas conurbadas, principalmente em S�o Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Manaus. Na pr�tica, isso significa toque de recorrer e dura puni��o nas favelas e nas periferias, numa hora em que o presidente da Rep�blica pressiona pela flexibiliza��o da pol�tica de isolamento social.

Quem governa?


Governos monol�ticos nas democracias n�o existem, ainda mais num sistema federativo e de equil�brio entre os poderes. Bolsonaro enquadrou Mandetta e responsabiliza governadores e prefeitos pelo distanciamento social. Mas sabe tamb�m que os governadores e prefeitos, que t�m a dura tarefa de conter a epidemia na ponta, contam com o apoio do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) para agir com autonomia, na esfera de suas compet�ncias. Por mais que queira, n�o existe correla��o de for�as para Bolsonaro intervir nos estados. � assim que funciona na democracia.

O Estado brasileiro � ampliado, cada minist�rio � um subgoverno que se relaciona com os demais poderes e esferas de poder com relativa autonomia, al�m de terem imbrica��es com ag�ncias privadas e grandes setores empresariais. Mas � da� que veio a rea��o para garantir o funcionamento do sistema de sa�de, com produ��o de suprimentos de prote��o individual, equipamentos e aparelhos de sa�de, para ampliar a capacidade de absor��o da pacientes pelos hospitais.

M�fias e desvio de recursos

 
Existe um grande “businnes” na �rea da sa�de, cujas pol�ticas p�blicas foram capturadas por grande fornecedores, muitos dos quais importadores, e tamb�m algumas m�fias, que desviaram recursos ao longo dos anos. Agora, chegou a hora de verdade: os profissionais de sa�de est�o no comando, o governo est� sendo obrigado a inventar um novo or�amento da Sa�de e recriar a ind�stria do setor.

Nesse aspecto, foi pat�tica a constata��o de que os hospitais federais do Rio de Janeiro n�o t�m profissionais para atuar contra a epidemia, assim como os hospitais universit�rios. O governo federal � respons�vel por 5% da capacidade hospitalar do pa�s, por�m, deveria entrar com mais for�a, principalmente na montagem de hospitais de campanha e na contrata��o de profissionais para atuar junto �s comunidades de periferia e regi�es remotas da Amaz�nia e nos sert�es do Nordeste, resgatando o Programa Mais M�dicos.

Finalmente, uma homenagem p�stuma ao sanitarista S�rgio Arouca, grande idealizador do SUS, que liderou milhares de profissionais de sa�de que hoje est�o na linha de frente do combate � epidemia. Lembro-me de duas conversas com ele: na primeira, me disse que � a emerg�ncia era o ponto mais fraco do sistema, subestimada pela cultura dos sanitaristas; na segunda, lamentou n�o ter conseguido levar adiante seu programa de agentes comunit�rios de sa�de no Rio de Janeiro, sem os quais seria imposs�vel erradicar a dengue e conter epidemias mais graves nas comunidades pobres.

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