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Estado de Minas ENTRE LINHAS

O enigma da humanidade depois da trag�dia da epidemia global de COVID-19

A crise civilizat�ria n�o anuncia nenhuma supera��o do capitalismo nem uma revolu��o redentora, somente mais e mais tecnologia.


28/03/2021 04:00 - atualizado 28/03/2021 08:00

Negacionismo de Jair Bolsonaro contribui para o agravamento da tragédia sanitária(foto: EVARISTO SÁ/AFP %u2013 25/3/21)
Negacionismo de Jair Bolsonaro contribui para o agravamento da trag�dia sanit�ria (foto: EVARISTO S�/AFP %u2013 25/3/21)


O futuro imediato est� sendo desenhado pela forma como cada pa�s est� lidando com a crise sanit�ria global, mas ainda � um enigma. Toda a tecnologia que est� sendo utilizada para manter a atividade econ�mica maior poss�vel num ambiente de distanciamento social j� existia; todo o conhecimento cient�fico empregado para a produ��o de vacinas numa velocidade in�dita, tamb�m.

Apesar da trag�dia que se abateu sobre a humanidade, especialmente aqui no Brasil — que se destaca pelo n�mero de infectados, de mortos e de negacionistas, entre os quais o presidente Jair Bolsonaro —, � preciso pensar no p�s-pandemia. O novo coronav�rus escancarou ainda mais as contradi��es da globaliza��o, principalmente o agravamento das desigualdades, e colocou em xeque a ideia neoliberal de que o mercado sozinho � mais eficiente do que o Estado para cuidar das pessoas.
 
Provavelmente, se indagarmos a um jovem brasileiro se tem esperan�a de um futuro melhor, o risco � termos dele um categ�rico n�o. � uma vis�o completamente diferente do otimismo de seus pais e av�s quando tinham a mesma idade, embora a maioria talvez tenha condi��es de vida at� melhores, inclusive nas favelas e periferias. H�, por�m, menos perspectivas. Frustrou-se o exagero patri�tico do Conde Afonso Censo em “Por que me ufano do meu pa�s”: “H� em ser brasileiro o gozo de um benef�cio, uma vantagem, uma superioridade”. Nem o progressismo de um Stepan Zweig, ao escrever “Brasil, o pa�s do futuro”. Recordo-me do relato sarc�stico de um amigo sobre a emo��o de seu pai no dia da reunifica��o da Alemanha:
 
– Chorando de alegria, pai?
 
– N�o, de tristeza por voc�s terem nascido aqui.
 
Desde a Revolu��o Francesa (1789-1799), o Ocidente apostou no amanh� melhor do que hoje. O Brasil de Juscelino Kubitschek e da bossa nova parecia ser a encarna��o dessa utopia. Com sinal trocado, o “milagre econ�mico” do regime militar tamb�m. Hoje, quantos jovens brasileiros de todas as classes sociais sonham com a possibilidade de migrar para outro pa�s? Quantos desejam a dupla nacionalidade como principal heran�a de seus pais? E aqueles que n�o t�m essa possibilidade e perdem completamente a perspectiva, diante do apag�o de oportunidades? Disso decorre uma l�gica exacerbada durante a pandemia: � preciso viver agora. Todo prazer adiado ser� perdido. Mesmo que, nas baladas, o v�rus seja como uma bala solit�ria da roleta russa.

Distopia

O “amanh� ser� melhor” era a base comum para todas as utopias, do liberalismo � social-democracia, do comunismo ao fascismo. Seus valores eram: produtividade, crescimento, trabalho e urbaniza��o. Em torno deles, os interesses nacionais e de classe teciam a identidade dos indiv�duos. Nossa sociedade � fruto disso a�. O que dava sustenta��o � nossa identidade se desagrega: as na��es, as classes sociais, a fam�lia; as rela��es entre gera��es e entre os sexos. A vida privada – fam�lia, casa, carro, gastronomia, viagens – � a �ltima trincheira da felicidade. A liberdade se tornou um fim em si; o trabalho, apenas um desagrad�vel meio de financiamento. E aqueles que n�o t�m nada disso? S�o “invis�veis”.
 
O encontro da Hist�ria com as utopias gerou uma esp�cie de beco sem sa�da. Bandeiras da velha esquerda foram capturadas pelo reacionarismo: o intervencionismo, o estatismo, as grandes obras, o nacionalismo. O que antes era um projeto de futuro se tornou anacr�nico, foi ultrapassado pelas novas for�as produtivas. Diferentemente das anteriores, por�m, a crise civilizat�ria n�o anuncia nenhuma supera��o do capitalismo nem uma revolu��o redentora. Somente mais e mais tecnologia.

Esse � o caldo de cultura para tanto negacionismo e a atual distopia. Definir um novo projeto de civiliza��o, mais pluralista e justo, e reconstituir o nosso projeto de na��o em bases democr�ticas n�o ser�o uma tarefa f�cil, embora as condi��es materiais para isso existam, em termos de conhecimento e criatividade humana. Assim como um paciente de COVID-19 necessita de oxig�nio, nossos jovens precisam de uma nova utopia para prosseguir em busca da felicidade.

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