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Estado de Minas ENTRE LINHAS

A lembran�a do luto dos outros durante a COVID no Dia de Finados

As v�timas foram sepultadas em caix�es lacrados, sem que amigos e familiares pudessem ver o rosto de seus entes queridos


02/11/2021 04:00 - atualizado 02/11/2021 07:10

Eduardo Pazuello
Desastre sanit�rio foi o coroamento da desastrada gest�o do general Eduardo Pazuello no Minist�rio da Sa�de (foto: JEFFERSON RUDY/AG�NCIA SENADO)


Na cr�nica “A morte dos outros”, publicada no livro “Alta ajuda” (Foz Editora), o fil�sofo e professor Francisco Bosco – filho do cantor e compositor Jo�o Bosco – afirma que se uma divindade lhe desse a chance de fazer um �nico pedido, n�o seria um pedido para a vida, mas para a morte. “Eu escolheria como morrer, ali�s, como n�o morrer: eu pediria que, entre as infinitas formas poss�veis de encontrar a morte, eu fosse poupado unicamente de ser buscado por ela em um acidente de avi�o.”

Segundo ele, todos sabemos que vamos morrer, mas o que torna suport�vel a nossa infinitude � ela ser indeterminada, porque n�o sabemos quando vamos morrer e, por isso, essa � uma verdade encoberta, como uma doen�a indolor. Por isso, � t�o aterrorizante ser desenganado por uma doen�a incur�vel e saber que os nossos dias est�o contados. Entretanto, Bosco n�o tem medo do perigo, da morte no mar ou mesmo num voo de asa delta, j� levou at� um tiro durante um assalto, mas n�o quer morrer num acidente a�reo:

“Deus n�o permita que eu morra em um avi�o. Um Airbus que n�o sei quem construiu, n�o sei quem nomeou, n�o sei quem abasteceu, n�o sei quem pilotou. Sentado espremido no meio de centenas de pessoas que eu n�o sei quem s�o. Emboscado por um c�u que n�o sei qual �. Emboscado por uma emboscada que n�o saberei qual �. E que n�o ter� rosto. E que nem mesmo tocar� a minha pele. Que me matar� sem me conhecer. E que n�o poderei lutar. E de nada valer� a for�a do meu corpo. Nem minha for�a moral. Nem toda a minha hist�ria. E assim nem serei um homem. Nem terei tempo de pensar no meu amor. E morrerei assim sem sentido. E ter-me-�o roubado a �nica coisa que sempre tive: meu rosto sair� nos jornais junt o aos rostos dos demais, e minha morte ser� apenas dos outros.”

De Plat�o e Epicuro a pensadores como Arthur Schopenhauer, S�ren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche e Martin Heidegger, a morte � um tema recorrente na filosofia. Nas religi�es, tem um lugar especialmente reservado: o Dia de Finados, que est� associado ao luto eterno dos familiares e amigos pela perda do ente querido. Francisco Bosco � um fil�sofo do nosso cotidiano, seu pavor em rela��o aos acidentes de avi�o � muito comum, a ponto de muitos passageiros terem s�ndrome de p�nico em pleno voo.

O maior acidente a�reo do Brasil ocorreu no dia 17 de julho de 2007. Chocou o Brasil e o mundo. Ao aterrissar no aeroporto de Congonhas, em S�o Paulo, o Airbus A320-233 – usado no voo 3054, procedente de Porto Alegre – avan�ou al�m da pista, cruzou a Avenida Washington Lu�s e se chocou com um posto de gasolina e com um pr�dio da pr�pria empresa respons�vel pela aeronave, a TAM (atual Latam). Morreram todos os 187 passageiros e tripulantes a bordo e outras 12 pessoas em solo, totalizando 199 �bitos.

Desastre sanit�rio

T�o horroroso quanto o acidente de Congonhas foi o colapso dos hospitais de Manaus, entre abril e maio do ano passado, quando a cidade chegou a registrar 140 sepultamentos num �nico dia, em cova rasa, contra uma m�dia de 30 �bitos di�rios. A maioria dos �bitos ocorreu por asfixia: faltou oxig�nio nos hospitais da cidade para atender aos pacientes de COVID-19.

O desastre sanit�rio foi o coroamento de uma desastrada gest�o do general Eduardo Pazuello no Minist�rio da Sa�de, � frente de uma equipe de militares despreparados. Sob comando do presidente Jair Bolsonaro, na base do “ele manda, eu obede�o”, trataram a pandemia como uma “gripezinha” e acreditavam que a “imuniza��o de rebanho” era a estrat�gia correta de combate � pandemia. Bastaria a cloroquina para mitigar os efeitos letais do v�rus.

O luto dos familiares e amigos das v�timas da pandemia de COVID-19 equivale � 3.050 trag�dias de Congonhas, o que faz de hoje um Finados ainda mais triste. As v�timas de COVID-19 foram sepultadas em caix�es fechado, com os corpos lacrados, sem que amigos e familiares sequer pudessem ver, pela �ltima vez, o rosto de seus entes queridos. Em muitos casos, as mortes poderiam ter sido evitadas com isolamento social, m�scaras, �lcool gel e, sobretudo, vacinas. Mas o luto dessas fam�lias e c�rculos de amizade n�o morreu, ainda existe, porque o amor transcende a vida da pessoa amada. A pandemia est� sendo controlada, mas o Brasil permanece enlutado.


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