
Putin "se tornou rei por acaso", levado ao poder por oligarcas e pol�ticos regionais, que o acolheram ao mesmo tempo em que manipulavam seus medos e ambi��es. Com o tempo, demonstrou uma habilidade incomum para se manter no poder e assumir o controle do grupo com m�o de ferro, em meio a intrigas, conspira��es e muita corrup��o.
Putin assumiu com apoio do grupo de Boris Yeltsin, que promoveu reformas liberalizantes radicais, contra os comunistas, que ainda eram fortes no Parlamento, cujo candidato era Ievgeni Primakov, um antiamericano radical e revanchista.
Ataques terroristas em Moscou e o conflito na Chech�nia catapultaram a candidatura do ex-diretor da FSB, a antiga KGB. A imagem de l�der jovem e modernizador, que seduziu o p�blico dom�stico, n�o convenceu o Ocidente. Seu projeto inicial de integra��o da Federa��o Russa � Uni�o Europeia, inclusive � Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte (Otan), foi rejeitado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e pela primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel.
Essa rejei��o, que considerou uma humilha��o, e a ambi��o de se perpetuar no poder levaram Putin � guinada nacionalista e autorit�ria que vem marcando sua trajet�ria, inicialmente alternando a Presid�ncia e o cargo de primeiro-ministro com Dmitry Medvedev, que presidiu a R�ssia entre 2008 e 2012. A consolida��o de seu poder se deu em raz�o do apoio popular � ideia de restabelecer o status de pot�ncia mundial da R�ssia e � agenda conservadora dos costumes, da alian�a com os militares e com a Igreja Ortodoxa, e do controle dos meios de comunica��o, dos �rg�os de seguran�a, do Minist�rio P�blico e do Judici�rio.
� a� que nasce a empatia entre Putin e Jair Bolsonaro, que ficou evidente na recente visita do presidente brasileiro � R�ssia. H� um terreno f�rtil para essa alian�a pol�tica pessoal. Bolsonaro n�o tinha um projeto pol�tico claro quando foi eleito, bafejado muito mais pela sorte do que em raz�o de suas virtudes. Tem o mesmo discurso nacionalista, a agenda conservadora, uma alian�a religiosa fundamentalista, o apoio de setores militares e do sistema de seguran�a, por�m n�o controla os meios de comunica��o e o Judici�rio.
O isolamento de Bolsonaro no Ocidente, antipatizado pela opini�o p�blica e em lit�gio com os principais l�deres mundiais, inclusive o presidente norte-americano, Joe Biden, faria de Putin um parceiro natural de Bolsonaro na cena mundial, ap�s a viagem a Moscou, n�o fosse a crise da Ucr�nia ter virado uma guerra quente.
O verdadeiro teor da conversa privada entre Bolsonaro e Putin � um iceberg ainda, n�o ficou restrita � venda de carne e � compra de fertilizantes, estrat�gica para os dois pa�ses. Houve conversas no �mbito da coopera��o tecnol�gica e militar, na qual a R�ssia, sim, pode vir a fazer diferen�a. E, para a oposi��o, existe o fantasma da interfer�ncia de hackers russos nas elei��es.