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Estado de Minas ENTRE LINHAS

O imponder�vel na elei��o presidencial � a ast�cia do povo brasileiro

Os deputados da base do governo agradam o eleitor de baixa renda com o aumento do Aux�lio Brasil e cevam as suas bases eleitorais com as verbas do or�amento


10/07/2022 04:00 - atualizado 10/07/2022 08:10

Plenário da Câmara dos deputados com painel de votação
Na C�mara, a vota��o da PEC tamb�m est� sendo "azeitada" pelo presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), com a libera��o de recursos do or�amento secreto (foto: Michel Jesus/C�mara dos Deputados - /9/21)


O velho folclorista capixaba Herm�genes Lima Fonseca, nascido em 12 de dezembro de 1916, no S�tio Jos� Alves, em Palmeiras, distrito de Ita�nas, Concei��o da Barra, viveu at� 1996, quando faleceu em Vila Velha, aos p�s do Convento da Penha, um dos mais antigos no Brasil. Formado em direito, era contador e pesquisador da cultura de seu estado, que sofre muita influ�ncia de baianos e mineiros, al�m da forte atra��o dos cariocas, que consagraram Roberto Carlos, Nara Le�o, S�rgio Sampaio e Rubem Braga. Herm�genes dizia que “o povo ast�cia as coisas”, frase na qual se inspira essa reflex�o dominical.

Nos dicion�rios, ast�cia � o mesmo que esperteza ou a habilidade da pessoa que n�o se deixa enganar com facilidade. Na pol�tica, por�m, quase sempre tem um significado negativo, porque � uma das caracter�sticas dos pol�ticos quando atuam de forma dissimulada para atingir seus objetivos e enganar o eleitor. H� uma grande diferen�a entre a ast�cia do povo e ast�cia dos pol�ticos. A primeira se baseia no bom-senso. J� a ast�cia dos pol�ticos recorre ao senso comum para atingir objetivos obscuros. � mais ou menos o que est� acontecendo com a PEC da elei��o, que est� em discuss�o na C�mara, um pacote de bondades destinado � popula��o de mais baixa renda, com o claro prop�sito de favorecer a reelei��o do presidente Jair Bolsonaro.

Como se sabe, o pacote foi aprovado pelo Senado com apenas o voto contr�rio do senador Jos� Serra (PSDB-SP), ap�s estranho acord�o de bastidores entre o Pal�cio do Planalto, o Centr�o e a oposi��o. Esse acordo deixou de ser uma pulga atr�s da orelha, ap�s ficarmos sabendo, pelo senador Marcos Do Val (Podemos-ES), que o or�amento secreto no Senado garantiu verbas bilion�rias para os senadores que apoiaram a elei��o do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O pr�prio Do Val recebeu R$ 50 milh�es em verbas para seu estado, mas o montante de recursos distribu�dos entre os pares chegaria a R$ 2,3 bilh�es em emendas or�ament�rias.

Na C�mara, a vota��o da PEC tamb�m est� sendo “azeitada” pelo presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), com a libera��o de recursos do or�amento secreto. Como n�o se fechou o balc�o de neg�cios, a proposta ainda n�o foi aprovada, faltou qu�rum na quarta-feira passada. � dif�cil saber a exata rela��o entre o altru�smo e o ego�smo das excel�ncias, ou seja, quais parlamentares est�o votando uma emenda Constitui��o que viola a Lei de Responsabilidade Fiscal e a legisla��o eleitoral, para mitigar o sofrimento causado pela infla��o ou se tamb�m est�o tendo sua reelei��o anabolizada pelo or�amento secreto.

Estelionato eleitoral


Com certeza, os deputados da base do governo est�o matando esses dois coelhos com uma cajadada s�, ou seja, agradam ao eleitor de baixa renda com o aumento do Aux�lio Brasil e cevam as suas bases eleitorais com as verbas do or�amento. Os da oposi��o, constrangidos, em sua maioria, est�o votando para salvar a pele na elei��o, sob a chantagem: um eventual voto contr�rio �s medidas populistas ser� usado pelos advers�rios para inviabilizar na sua pr�pria base eleitoral. Mas pode haver mais coisas entre o c�u e a terra do que os avi�es de carreira, como diria o Bar�o de Itarar�.

Lembro-me da Constituinte da fus�o dos estados da Guanabara e Rio de Janeiro, em 1975, quando era um jovem rep�rter do Di�rio de Not�cias. O interventor Faria Lima, nomeado pelo presidente Ernesto Geisel, enfrentava uma oposi��o amplamente majorit�ria, pois o MDB elegera a maioria dos deputados nos dois estados. Em raz�o disso, indicou um aliado do ex-governador Chagas Freitas (MDB) para relator do projeto de Constitui��o, o que provocou a ren�ncia da l�der do governo, deputada Sandra Cavalcanti (Arena). Indaguei ao deputado Cl�udio Moacir, o l�der do MDB, se ele seria o novo l�der do governo. A resposta foi malandra: “N�o, vou usar a t�tica do bigode: na boca, mas do lado de fora”. O MDB era oposi��o, mas negociava cargos e verbas em troca de apoio ao interventor.

Governo e oposi��o fazem c�lculos e proje��es sobre o impacto da PEC nas elei��es presidenciais. O presidente Jair Bolsonaro e o Centr�o apostam suas fichas nas medidas que ser�o aprovadas, inclusive com a substitui��o dos cart�es do Bolsa-Fam�lia, uma marca do governo Lula, pelo novo cart�o do Aux�lio Brasil. Ou seja, dinheiro vivo nas m�os do eleitor a partir de agosto. A oposi��o, principalmente o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, acredita que esses recursos, liberados em cima da elei��o, n�o ter�o tanto impacto eleitoral e seu efeito geral sobre a economia seria neutralizado pela infla��o. Os analistas econ�micos, por�m, s�o un�nimes em dizer que o rombo fiscal vai desorganizar a economia e que o pacote de bondades ser� um estelionato eleitoral.

Por experi�ncia vivida, n�o acredito em elei��o ganha de v�spera. Porque ningu�m leva o eleitor para votar pelo nariz. H� cinco candidatos na pista: Lula (PT) disparado em primeiro, Bolsonaro (PL) em segundo, Ciro Gomes (PDT) em terceiro, Simone Tebet (MDB) e Andr� Janones (Avante) empatados na quarta posi��o. O imponder�vel da elei��o � o voto secreto do eleitor, cuja ast�cia n�o deve ser subestimada. Se houver muita bagun�a na elei��o, com amea�as � democracia, o bom-senso popular pode decidir o pleito no primeiro turno.


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