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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Quando a hist�ria se repete como um factoide irrespons�vel

O pedido de invalida��o da elei��o faz parte de uma estrat�gia do presidente Bolsonaro para impedir a posse do presidente eleito Luiz In�cio Lula da Silva


23/11/2022 04:00 - atualizado 23/11/2022 07:53

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A invalida��o de votos solicitada pelo PL, partido de Bolsonaro, ajuda a inflamar a agita��o de extrema-direita � porta dos quart�is (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
 
As melhores reportagens pol�ticas sobre momentos decisivos da hist�ria muitas vezes est�o nos livros e n�o, necessariamente, nos jornais e revistas da �poca. � o caso, por exemplo, de “A ren�ncia de J�nio - um depoimento”, do jornalista Carlos Castello Branco, que foi refer�ncia do jornalismo pol�tico para minha gera��o por suas colunas durante o regime militar, no antigo Jornal do Brasil, apesar da censura pr�via imposta pelo Ato Institucional no. 5. O livro mostra como uma intriga envolvendo o presidente da Rep�blica e o governador carioca Carlos Lacerda, nos bastidores do Pal�cio do Planalto, deu in�cio � crise pol�tica que levou o presidente J�nio Quadros � ren�ncia. Seus desdobramentos resultaram em 20 anos de ditadura.
 
Outra obra desse naipe � “Cinco dias em Londres”, de John Lukacs, que narra os bastidores do Gabinete de Guerra brit�nico, de 24 ao dia 28 de maio de 1940, quando Winston Churchill travou uma dura luta pol�tica com o Lorde Halifax para convencer seus integrantes a n�o fazerem um acordo de paz com Hitler. A resist�ncia de Winston Churchill a um acordo da Inglaterra com a Alemanha evitou um desastre. O livro conta em detalhes a entrega do cargo a Churchill por Neville Chamberlain e revela a desconfian�a do governo ingl�s, do presidente norte-americano Franklin Roosevelt e do pr�prio povo ingl�s, al�m da imprensa e dos Aliados em rela��o a Churchill, homem confi�vel, �ntegro e respeitado, por�m alco�latra e um pouco velho para o desafio da guerra.
 
Entretanto, a melhor reportagem pol�tica j� escrita talvez seja “O 18 de Brum�rio de Lu�s Bonaparte”, de Karl Marx. Publicado em 1852, o texto descreve um golpe de estado rec�m-ocorrido na Fran�a. Carlos Lu�s Napole�o Bonaparte, eleito presidente do pa�s em 1848, resolveu impor uma ditadura tr�s anos depois. Essa repeti��o de Napole�es no poder levou Marx a cunhar uma frase famosa, muito repetida pelos pol�ticos, �s vezes sem saber quem � seu verdadeiro autor: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande import�ncia na hist�ria do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como trag�dia, a segunda como farsa”.
 
O t�tulo do livro � inspirado no golpe de estado de Napole�o Bonaparte, em 9 de novembro de 1799, com o qual se tornou c�nsul da Fran�a, antes de se autoproclamar Imperador. No calend�rio da Revolu��o Francesa de 1789, essa data correspondia ao dia 18 do m�s de brum�rio. Marx mostra que o golpe dado por Napole�o III era apenas uma c�pia daquele que fora dado antes por seu tio. A data escolhida para o golpe foi 2 de dezembro de 1851, anivers�rio de 47 anos da coroa��o de seu tio como imperador da Fran�a. Nessa obra, Marx conclui que “os homens fazem sua pr�pria hist�ria, mas n�o a fazem como querem; n�o a fazem sob circunst�ncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.
 

Farsa ou trag�dia

Ontem, o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, entrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com um pedido de verifica��o extraordin�ria do resultado do segundo turno das elei��es. Pediu a invalida��o dos votos de mais de 250 mil urnas, com base no relat�rio elaborado por uma consultoria privada, que alega que as urnas anteriores ao modelo 2020, cerca de 60% do total utilizado nas elei��es, t�m um n�mero de s�rie �nico, quando, na opini�o da consultoria, deveriam apresentar um n�mero individualizado, porque somente assim, afirma o relat�rio, seria poss�vel fazer uma auditagem. O presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, de pronto pediu ao PL que aditasse ao requerimento o pedido de invalida��o tamb�m dos votos do primeiro turno, que utilizaram as mesmas urnas, no prazo de 24 horas.
 
� �bvio que o pedido do PL faz parte de uma estrat�gia do presidente Jair Bolsonaro para impedir a posse do presidente eleito Luiz In�cio Lula da Silva, que incentiva os protestos contra o resultado da elei��o e a favor de interven��o militar para se manter no poder. O pedido n�o tem a menor chance de ser aceito pelo TSE e pelo Supremo Tribunal Federal, apenas cria um factoide pol�tico que serve para a agita��o golpista de extrema-direita � porta dos quart�is. O relat�rio � uma farsa montada para tumultuar a transi��o. Al�m disso, serve de cortina de fuma�a para o estelionato eleitoral praticado pelo atual governo, cujo rombo nas contas p�blicas est� colocando em risco o funcionamento dos servi�os b�sicos da administra��o federal, da vacina��o � emiss�o de passaportes.
 
O relat�rio � uma farsa, como foi o Plano Cohen, um relat�rio de intelig�ncia segundo o qual os comunistas pretenderiam tomar o poder, incendiar pr�dios p�blicos, promover fuzilamentos, greve geral, saques e desordem. O documento circulou pelos quarteis em 1937 e serviu de pretexto para Get�lio Vargas dar um golpe de estado e permanecer no poder. O Plano Cohen foi arquitetado pelo ent�o capit�o Ol�mpio Mour�o Filho, organizador das mil�cias da A��o Integralista Brasileira e lotado no setor de intelig�ncia do Estado-Maior do Ex�rcito. No dia 1º de outubro, a C�mara Federal aprovaria, por 138 votos a 52, a implanta��o do estado de guerra. No dia 10 de novembro, Get�lio anunciaria ao pa�s e ao mundo a institui��o do Estado Novo. S� em 1945 os brasileiros saberiam que o Plano Cohen n�o havia passado de uma grosseira falsifica��o. Mour�o Filho, promovido a general, anos mais tarde, deflagraria o golpe militar de 1964.  

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