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Estado de Minas OPINI�O

Sucesso do governo Lula � uma quest�o de probabilidades

'O mercado quer o pa�s no rumo da redu��o do d�ficit fiscal por meio do corte de gastos p�blicos'


07/05/2023 07:00 - atualizado 07/05/2023 11:23

Nesta foto de arquivo tirada em 2 de setembro de 2020, um homem segura notas de duzentos reais depois que o Banco Central do Brasil as emitiu em Brasília, em 2 de setembro de 2020.
(foto: S�rgio Lima/AFP)

N�o custa nada repetir: o governo Lula 3 n�o � uma continuidade dos governos 1 e 2. Os dois mandatos anteriores do ex-presidente Luiz In�cio Lula foram bem-sucedidos e consagrados nas urnas, com a sua pr�pria reelei��o e a elei��o de Dilma Rousseff, enquanto o mandato atual est� apenas come�ando, num cen�rio completamente diferente dos anteriores, muito mais dif�cil do ponto de vista econ�mico, social e pol�tico. Por enquanto, o sucesso de Lula 3 � apenas uma probabilidade, mais ou menos equivalente aos seus 50,9% de votos v�lidos no segundo turno do ano passado. N�o � pouca coisa.

Uns t�m a impress�o de que o governo vai muito devagar, outros que o universo conspira contra Lula. Leonard Mlodinow, em seu livro “O andar do b�bado” explica que isso est� associado � import�ncia das mem�rias mais “dispon�veis”, sobretudo das boas recorda��es. Quando escolhemos aleatoriamente um caixa de supermercado, temos a sensa��o de que a nossa fila � mais lenta. Entretanto, a chance de que isso aconte�a, caso existam 10 caixas, � de apenas 10%. Essa probabilidade � a mesma para todos, mas temos a impress�o de que � mais lenta, porque prestamos aten��o em tudo o que acontece � nossa frente.

“O andar do b�bado” � um livro dedicado ao acaso na vida das pessoas, que conta a hist�ria da lei das probabilidades, com exemplos surpreendentes, como o movimento ca�tico das part�culas suspensas em �gua, que serviu para os trabalhos de Albert Einstein sobre a f�sica estat�stica n�o come�o do s�culo passado. Muitas vezes o governo se move aleatoriamente, como se estivesse b�bado. Em outras, temos a impress�o de que passou a fazer a mesma coisa de forma pior, s� porque foi elogiado.

Na verdade, esse � um fen�meno matem�tico, chamado de regress�o � m�dia: em qualquer s�rie de eventos aleat�rios, h� uma grande probabilidade de que um acontecimento extraordin�rio seja seguido, em virtude do acaso, de um fato mais vulgar. � o que acontece com o cen�rio no qual o presidente Lula realiza seu novo mandato. Do ponto de vista econ�mico, o per�odo de junho de 2003 a julho de 2008 foi a fase de maior expans�o para a economia brasileira das �ltimas tr�s d�cadas.

Naqueles cinco anos, a ind�stria se expandiu, as vendas do com�rcio registraram alta e a gera��o de emprego e renda cresceram. Foram 61 meses de bonan�a, interrompido pela crise financeira de 2008, que provocou seis meses de recess�o, de junho de 2008 a janeiro de 2009. Nesse per�odo, para sair da crise, foi adotada uma pol�tica antic�clica que deu bons resultados, mas sua transforma��o em modelo econ�mico a ser seguido, a tal “nova matriz econ�mica”, no governo Dilma Rousseff, resultou num fracasso.

Agora, Lula assume o governo com uma economia em situa��o diferente. J� n�o h� o boom das commodities nem o b�nus demogr�fico (aumento da popula��o economicamente ativa em rela��o �s crian�as e idosos), muito menos da fartura de picanha, que anabolizaram o seu governo e a sua popularidade. Houve uma acomoda��o de fatores, a tal regress�o � m�dia. No exterior, foi contido o risco sist�mico desencadeado pela crise banc�ria que se manifestou nos Estados Unidos e Europa. O fim da pandemia, principalmente da pol�tica de Covid Zero da China, � positivo para o crescimento do PIB mundial.

No cen�rio interno, a apresenta��o da proposta de arcabou�o fiscal ao Congresso contribuiu para arrefecer a percep��o de risco pelos agentes econ�micos. Outro sinal positivo � a taxa de c�mbio no patamar m�dio de R$/US$ 5,00 durante o m�s. A infla��o deve ficar abaixo dos 5%, mas a manuten��o da taxa de juros de 13,75% (Selic) pelo Banco Central (BC) continua sendo um drogue para a economia.

O sucesso do governo Lula depende da aprova��o do novo arcabou�o fiscal e da reforma tribut�ria. Esses n�o s�o fatores aleat�rios. O xis da quest�o � o buraco de R$ 300 bilh�es na arrecada��o prevista para 2023, de R$ 5,3 trilh�es. Como alcan�ar essa diferen�a? Nem o Executivo nem o Congresso est�o dispostos a cortar gastos. Sem isso, as metas do arcabou�o fiscal n�o ser�o cumpridas ou haver� aumento de impostos. Quando o governo decide aumentar seus gastos sociais, de algum lugar esses recursos precisam sair. A conta n�o fecha. O conflito distributivo tende a se agravar se a economia n�o voltar a crescer.

Por essa raz�o, mas n�o exclusivamente, existe uma dicotomia entre as expectativas do mercado e as da sociedade, que repercute no Congresso. O mercado quer o pa�s no rumo da redu��o do d�ficit fiscal por meio do corte de gastos p�blicos, a maioria da sociedade quer que a economia cres�a e as pol�ticas sociais sejam mais robustas. Lula n�o pode deixar de pedalar a bicicleta para n�o cair. As rodas s�o o crescimento econ�mico e a redistribui��o de renda. Mas pode administrar melhor a velocidade. E torcer para que a Fortuna, o aleat�rio na pol�tica, lhe seja mais favor�vel.

Entretanto, segundo Mlodinow, o ser humano n�o est� preparado para lidar com o aleat�rio, muitas vezes nem o reconhece. Muitos usu�rios dos primeiros iPod duvidavam da aleatoriedade com que as m�sicas eram tocadas, porque um mesmo artista ou m�sica tocava mais de uma vez. A sa�da encontrada por Steve Jobs, segundo o livro, foi reprogramar o iPod para que evitasse repeti��es e deix�-lo menos aleat�rio para parecer mais aleat�rio.

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