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Estado de Minas OPINI�O

CPI dos atos golpistas ganha for�a com quebra de sigilos digitais

'A fam�lia real saudita gosta de dar presentes de luxo a mandat�rios de outros pa�ses. E Bolsonaro considerava esses presentes propriedade pessoal'


06/08/2023 04:00
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O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ajudante de campo do ex-presidente Bolsonaro, fala durante depoimento à CPI que apura os atos de 8 de janeiro. Congresso, Brasília, 11 de julho de 2023
"Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, teria tentado vender um rel�gio da marca Rolex recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro" (foto: Evaristo S�/AFP 8/1/23)

H� muito a pol�tica deixou de ser monop�lio dos pol�ticos, militares e diplomatas, ainda que continuem sendo grandes protagonistas da hist�ria. �s vezes, as crises pol�ticas ganham rumos imprevistos em raz�o de personagens improv�veis: o irm�o, a ex-mulher, o motorista, o caseiro, a secret�ria, quando surgem de forma inesperada no enredo, como fatos at� bizarros.

� o caso dessa hist�ria do Rolex que o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro tenente coronel Mauro Barbosa Cid tentou vender no mercado internacional de j�ias usadas, por�m, sem certificado de proced�ncia, cuja principal testemunha � uma ex-secret�ria.

Vazou um documento supostamente encaminhado � CPMI dos Atos Golpistas e de car�ter sigiloso, cuja exist�ncia foi revelada por Camila Bomfim, da TV Globo. Ao rastrear os acessos aos arquivos da comiss�o, t�cnicos do Senado constataram que nenhum dos 12 integrantes da comiss�o autorizados examinou o arquivo do qual o documento fazia parte. Suspeita-se que algu�m ligado a Mauro Cid, em busca de prote��o, possa ter interesse no vazamento, mas n�o se sabe at� agora quem seria.

A principal testemunha do caso do Rolex � a ex-secret�ria-executiva do Gabinete Adjunto de Informa��es do Gabinete Pessoal da Presid�ncia Maria Farani. Ap�s a posse do presidente Luiz In�cio Lula da Silva, a ex-assessora foi trabalhar no gabinete da senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que � integrante titular da CPI do 8 de Janeiro e foi ministra de Bolsonaro.

N�o confundir com a pol�mica embaixadora Maria Nazareth Farani Azev�do, que chefiou a delega��o permanente do Brasil em Genebra e foi c�nsul-geral em Nova York, durante o governo Bolsonaro.

Mauro Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, teria tentado vender um rel�gio da marca Rolex recebido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, durante uma viagem oficial � Ar�bia Saudita, no dia 30 de outubro de 2019.

O rei da Ar�bia Saudita, Salman bin Abduld-Aziz, doou ao ent�o presidente Jair Bolsonaro um conjunto de objetos valiosos, entre os quais o Rolex. Como se sabe, a fam�lia real saudita gosta de dar presentes de luxo a mandat�rios de outros pa�ses.

E Bolsonaro considerava esses presentes uma propriedade pessoal, como no famoso caso do colar apreendido pela Receita Federal na alf�ndega de Guarulhos, cujo portador era o ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque. Outro presente dos sauditas, Mauro Cid tentou liberar as joias insistentemente, antes do ex-presidente da Rep�blica deixar o cargo.

O Rolex foi protocolado no Gabinete Adjunto de Documenta��o Hist�rica do gabinete da Presid�ncia da Rep�blica como “acervo privado”, em 11 de novembro de 2019. Nos registros da burocracia do Pal�cio do Planalto, consta uma libera��o do rel�gio no dia 6 de junho de 2022, retirado por outro militar, o tenente Osmar Crivelatti, que fazia parte da equipe de Mauro Cid na Presid�ncia.

Quando Bolsonaro deixou o cargo, Crivelatti foi escolhido para acompanh�-lo, como um dos assessores que todo ex-presidente da Rep�blica tem o direito de manter.

Noite londrina

No mesmo dia, Mauro Cid trocou mensagens com um poss�vel comprador do rel�gio, que pretendia vender por US$ 60 mil, o equivalente a R$ 291 mil reais. As mensagens foram apagadas da caixa postal, mas uma delas foi localizada na lixeira. Em ingl�s, o interessado queria saber a proced�ncia do rel�gio:

  • “Ol� Mauro, obrigada pelo interesse em vender o seu Rolex. Tentei falar com voc� por telefone mas n�o consegui. Pode por favor me falar se voc� tem o certificado de garantia original do rel�gio?”
  • “Quanto voc� espera receber por essa pe�a? O mercado para Rolex usados est� em baixa, especialmente para rel�gios cravejados de platina e diamante (j� que o valor � t�o alto). S� queria me certificar de que estamos na mesma linha antes de fazermos muita pesquisa. Espero ouvir not�cias suas.”

Maria Farani confirmou em nota � imprensa que procurou um poss�vel comprador a pedido de Mauro Cid, para quem repassou as mensagens. 

Apesar do estilo despojado, Bolsonaro gostava das mordomias das viagens ao exterior. Em Londres, o casal se hospedava na pr�pria embaixada do Brasil, na Cockspur Street, n�meros 14 a 16, perto da Trafalgar Square. � um dos endere�os mais suntuosos do chamado “Circuito Elizabeth Arden”, ao lado das embaixadas de Roma, Paris e Washington.

Sin�nimo de eleg�ncia e status, Arden foi uma famosa fabricante de cosm�ticos, que inventou o batom vermelho Montezuma Rede para as mulheres que serviram na II Guerra Mundial.

Da sacada da embaixada de Londres, Bolsonaro discursou para seus apoiadores, numa cena constrangedora, porque fora um ato ilegal de campanha eleitoral, quando o objetivos da viagem era participar do enterro da rainha Elizabeth II.

O caso do Rolex � um exemplo da tensa rela��o entre a pol�tica da responsabilidade e a �tica das convic��es. Os pol�ticos s�o movidos por seus objetivos, em alguns casos inconfess�veis; a burocracia zela pela legitimidade dos meios que utilizam. Quando existe uma n�o-conformidade, sempre fica um rastro.

Come�am a chegar muitos documentos � COMI, principalmente e-mail e mensagens. Bolsonaro pode at� ser condenado e preso por causa de hist�rias como essa. Onde est� o Rolex?

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