
A crise humanit�ria na Faixa de Gaza, em meio � guerra entre Israel e o Hamas, a organiza��o que assumiu o controle do territ�rio quando o Ex�rcito israelita dele se retirou, exp�e a olho nu a crise que a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) atravessa, desde a invas�o do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003. � �poca, essa foi uma das respostas do governo norte-americano ao atentado da Al Qaeda �s Torres G�meas de Nova York, em 11 de setembro de 2021, a pretexto de que o ditador iraquiano Sadam Hussein estava produzindo armas qu�micas, cujos laborat�rios nunca foram encontrados. Desde ent�o, apesar das sucessivas interven��es militares do Ocidente, os grupos terroristas e fundamentalistas s� aumentaram sua influ�ncia no Oriente M�dio.
Ontem, depois de muitas negocia��es entre os 15 integrantes do Conselho de Seguran�a da ONU, os Estados Unidos vetaram a proposta de resolu��o que garantiria ajuda humanit�ria efetiva � popula��o civil da Faixa de Gaza, submetida a intensos bombardeios deste o ataque terrorista do Hamas ao territ�rio israelense. Foi o �nico pa�s a se manifestar contra a ajuda humanit�ria da ONU. No mesmo momento da reuni�o, o presidente Joe Biden se encontrava com o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau. Biden anunciou uma ajuda de U$ 100 milh�es aos Palestinos, ao mesmo tempo em que reiterou o apoio incondicional a Israel.
China, Fran�a, Alb�nia, Equador, Gab�o, Jap�o, Malta, Mo�ambique, Su��a e Emirados �rabes Unidos votaram a favor da resolu��o proposta pelo Brasil. R�ssia e Inglaterra se abstiveram, mas Biden se op�s ao texto, a pretexto de que a resolu��o deveria ser condicionada � liberta��o dos ref�ns israelense em poder do Hamas. O governo brasileiro lamentou o veto e reiterou que “o Brasil considera urgente que a comunidade internacional estabele�a um cessar-fogo e retome o processo de paz”.
O embaixador do Brasil na ONU, S�rgio Danese, e o chanceler Mauro Vieira negociaram exaustivamente para construir uma resolu��o aceit�vel pelos Estados Unidos, cujos diplomatas chegaram a sinalizar que votariam a favor. Mas veio a ordem para impedir a aprova��o da resolu��o. Quais eram as propostas � mesa?
Condenar os atos de terrorismo perpetrados pelo Hamas em Israel em 7 de outubro de 2023; apelar para liberta��o imediata e incondicional de todos os ref�ns civis; conclamar a uma pausa humanit�ria a fim de permitir o fornecimento r�pido e desimpedido da ajuda humanit�ria; exigir o fornecimento cont�nuo de bens essenciais para a popula��o civil, como artigos m�dicos, �gua e alimentos, al�m de pedir a rescis�o da ordem para que civis e funcion�rios das Na��es Unidas evacuem toda a �rea em Gaza ao norte de Wadi Gaza.
Multilateralismo
Na presid�ncia do Conselho de Seguran�a, o governo brasileiro lamentou que “o uso do veto tenha impedido o principal �rg�o para a manuten��o da paz e da seguran�a internacional de agir diante da catastr�fica crise humanit�ria provocada pela mais recente escalada de viol�ncia em Israel e em Gaza”. Ontem mesmo, o Chanceler Mauro Vieira viajou para Nova York para, entre outras atividades do Conselho de Seguran�a, presidir, em 24/10, debate de alto n�vel do �rg�o dedicado � situa��o no Oriente M�dio, inclusive na Palestina.
A reuni�o permitir� que pa�ses fa�am um novo chamado a um cessar-fogo e � abertura de corredores humanit�rios. Enquanto isso, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva, em contato permanente com o presidente do Egito, Abdul Al-Sisi, e da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, tenta criar condi��es para que a ajuda humanit�ria chegue aos palestinos e os brasileiros na Faixa de Gaza possam ser resgatados. Os bombardeios de Israel buscam deliberadamente for�ar o �xodo da popula��o civil da Faixa de Gaza.
Joe Biden, que enfrenta dificuldades na campanha � reelei��o, na crise da Faixa de Gaza, soma-se agora � posi��o radical do Netanyahu, que decidiu ocupar novamente a Faixa de Gaza, a pretexto de liquidar o Hamas. O que est� acontecendo, por�m, � a amplia��o da influ�ncia do Hamas na Cisjord�nia, o que enfraquece ainda mais a Autoridade Palestina. Uma nova intifada est� em vias de ocorrer nessa regi�o da Palestina, que � controlada militarmente pelo Ex�rcito de Israel.
A situa��o humanit�ria e pol�tica est� fora de controle, principalmente depois da explos�o em um hospitalar da Faixa de Gaza, que provocou centena de mortes. Segundo Israel, a causa foi um foguete disparado pela Jihad Isl�mica, outro grupo terrorista palestino, que teria falhado. No mundo �rabe, por�m, ningu�m acredita nisso.
A impot�ncia da ONU se assemelha � situa��o da Liga das Na��es �s v�speras da Segunda Guerra Mundial. � uma ideia boa que come�a a dar errado. Os Estados Unidos n�o reconhecem o multilateralismo como a via mais adequada para a solu��o dos conflitos internacionais e insiste na manuten��o de mundo unipolar, sob hegemonia norte-americana, que j� n�o pode se manter apenas em termos militares.