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Estado de Minas ENTRE LINHAS

N�o � s� o Hamas, Biden, Netanyahu e Putin s�o senhores da guerra

A crise humanit�ria em Gaza solidificou posi��es enraizadas no mundo em desenvolvimento quanto ao conflito israelense-palestino


20/10/2023 04:00 - atualizado 20/10/2023 09:26
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Biden dá apoio incondicional à Netanyahu na guerra contra o Hamas
Biden d� apoio incondicional � Netanyahu na guerra contra o Hamas (foto: Brendan SMIALOWSKI/AFP)

O jornalista Henry Foy, correspondente do “Financial Times” em Bruxelas, instiga a reflex�o sobre a nova conjuntura internacional a partir da guerra de Gaza, que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse ontem que ser� de longa dura��o. Ou seja, n�o deve se encerrar enquanto Israel n�o invadir a Faixa de Gaza, eliminar o Hamas e restabelecer seu controle sobre toda a regi�o, a exemplo do que j� ocorre na Cisjord�nia, apesar da exist�ncia de uma enfraquecida Autoridade Palestina.

Segundo Foy, o apoio incondicional do Ocidente, especialmente Estados Unidos, Reino Unido e Uni�o Europeia, a Israel envenenou os esfor�os para isolar a R�ssia e obter apoio dos pa�ses em desenvolvimento em favor da Ucr�nia. A rea��o implac�vel de Israel ao ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro desconstruiu a narrativa do Ocidente em rela��o �s viola��es de direitos humanos cometidas pela R�ssia em Donets e outras regi�es ocupadas por suas tropas.

“Na enxurrada de visitas diplom�ticas de emerg�ncia, videoconfer�ncia e chamadas, os funcion�rios ocidentais foram acusados de n�o defender os interesses de 2, 3 milh�es de palestinos na sua pressa de condenar o ataque do Hamas e apoiar Israel”, destacou o analista do “Financial Times”. Isso teria corro�do esfor�os diplom�ticos para que a �ndia, o Brasil e a �frica do Sul endurecessem o discurso contra o l�der russo Vladimir Putin, com base na necessidade de defender uma ordem global em que as regras do direito internacional fossem respeitadas.

Apesar da generalizada condena��o ao ataque de surpresa do Hamas, principalmente � morte e sequestro de civis, a crise humanit�ria na Faixa de Gaza solidificou posi��es enraizadas no mundo em desenvolvimento quanto ao conflito israelense-palestino. A maioria desses pa�ses apoia a posi��o oficial da ONU, favor�vel � cria��o do Estado da Palestina, independente de Israel. “Todo o trabalho que fizemos com o Sul global [sobre a Ucr�nia] foi perdido. Esque�a sobre regras, esque�a a ordem mundial. Eles nunca v�o nos ouvir novamente”, lamentava um diplomata do G7 ao jornalista brit�nico. O Grupo dos Sete � formado por Alemanha, Canad�, Estados Unidos, Fran�a, It�lia, Jap�o e Reino Unido, com a Uni�o Europeia de observadora.

A maioria dos pa�ses em desenvolvimento sempre apoiou a causa palestina pelo prisma da autodetermina��o, v� com desconfian�a o dom�nio global dos Estados Unidos, o aliado principal de Israel. Os pa�ses �rabes, inclusive aqueles que t�m boas rela��es com Estados Unidos e Israel, acumulam ressentimentos. N�o s�o apenas os decorrentes da antiga ordem colonial, nem fruto de interven��es mal-sucedidas no Iraque, na S�ria e na L�bia. Nesse caso de Gaza, est�o diretamente ligados ao tratamento dado pelas pot�ncias ocidentais ao povo palestino.

Direitos humanos

Ao contr�rio, R�ssia e China cultivam la�os hist�ricos com os palestinos. O presidente da R�ssia, Vladimir Putin, na ter�a-feira, durante a reuni�o com o l�der chin�s XI Jinping, em Pequim, agarrou com as duas m�os a oportunidade de questionar o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que adota dois pesos e duas medidas em rela��o � Ucr�nia e � Faixa de Gaza. “O que dissemos sobre a Ucr�nia deve se aplicar a Gaza. Caso contr�rio, perdemos toda a nossa credibilidade”, lamentou o diplomata do G7, segundo o jornalista do “Financial Times”.

H� pouco mais de um m�s, na reuni�o do G20 em Nova D�li, Biden e outros l�deres ocidentais conclamaram os pa�ses em desenvolvimento a condenar os ataques da R�ssia a civis ucranianos, respeitar a Carta da ONU e o direito internacional. Desde o �ltimo domingo, por�m, endossam incondicionalmente as a��es de Israel na Faixa de Gaza, onde os civis est�o sem �gua, eletricidade, g�s de cozinha, comida e rem�dios.

A ordem global p�s segunda Guerra Mundial n�o funciona para o mundo �rabe, inclusive para a Jord�nia e o Egito, que mant�m rela��es com Israel. Na Uni�o Europeia, o inc�modo tamb�m come�a a crescer, sobretudo depois de a presidente da Comiss�o Europeia, Ursula von der Leyen, viajar para Israel sem um mandato dos 27 Estados-membros do bloco ou n�o tratar da quest�o humanit�ria. Dublin, Madrid e Luxemburgo queixaram-se de seu discurso em Tel Aviv.

Preocupada, a Fran�a come�ou a se movimentar em parceria com o Brasil, que protagoniza os esfor�os humanit�rios na presid�ncia do Conselho de Seguran�a da ONU. Teme que a R�ssia n�o esteja mais interessada em conter seus aliados na regi�o, sobretudo o Ir�. A crise de Gaza ofusca a guerra da Ucr�nia e desloca recursos dos Estados Unidos para Israel, al�m de neutralizar a narrativa em rela��o �s viola��es de direitos humanos pelo Ex�rcito russo. Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu j� eram not�rios senhores da guerra, mas Biden n�o tinha essa imagem, gra�as a ret�rica em defesa  dos direitos humanos. Agora passou a ter.


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