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Estado de Minas ENTRE LINHAS

O pacto perverso com as mil�cias no Rio de Janeiro

N�o existe crime organizado sem participa��o de agentes p�blicos, no Executivo, no Legislativo e no Judici�rio


25/10/2023 04:00 - atualizado 25/10/2023 08:12
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Cláudio Castro fez um pacto perverso com as policias civil e militar e aboliu a Secretaria de Segurança Pública
Cl�udio Castro fez um pacto perverso com as policias civil e militar e aboliu a Secretaria de Seguran�a P�blica (foto: CARLOS MAGNO/GOVERNO DO RJ)
 
A hist�ria tr�gica do Doutor Fausto (1604) � uma pe�a teatral de autoria de Christopher “Kit” Marlowe, um dramaturgo ingl�s que fez muito sucesso nos reinados de Elizabeth I (1558-1603) e James I (1603-1625), no per�odo de surgimento de com�dias e trag�dias psicol�gicas e sobrenaturais. Com base numa lenda alem� sobre um alquimista da Idade M�dia, o Fausto de Marlowe era um acad�mico altamente respeitado, cuja sede de conhecimentos o levou um pacto mortal com Mefist�feles, ap�s ser corrompido pelo poder. Quando percebeu que atra�ra para si um grande mal, j� era tarde demais.

A tem�tica do pacto diab�lico entre Fausto e Mefist�feles foi retomada pelo alem�o Wolfgang von Goethe entre 1808 e 1812 na cidade de Weimar, na qual protagonizava a efervesc�ncia do classicismo, ao lado de seu amigo Friedrich von Schiller. Ambos retomaram aos cl�ssicos gregos e rejeitaram a ideia da perfei��o est�tica, em favor do equil�brio entre inspira��o, conte�do e forma. Gra�as � insist�ncia de seu amigo, Goethe revisitou a lenda de Fausto e Mefist�feles, dando-lhe a profundidade que tornou sua dramaturgia um cl�ssico da literatura universal.

Sua obra come�a no C�u, onde Mefist�feles, o Diabo, medita sobre  a humanidade e aposta com Deus que � capaz de fazer com que um de seus s�ditos favoritos, Fausto, aventure-se pelo caminho do mal e, assim, conquiste sua alma. Deus acredita que Fausto se manter� fiel e seja capaz de correr os pr�prios erros. Cada vez mais ganancioso, por�m, Fausto recebe um castigo dos deuses e fica cego. Dominado pela culpa, ele ganha consci�ncia dos seus atos e deseja que aquele momento de clareza dure para sempre. Assim, o pacto � quebrado e o protagonista morre.

Mefist�feles tenta levar a alma dele para o Inferno, mas � interrompido pelo aparecimento de um coro de anjos que carregam Fausto at� ao Para�so. Seu arrependimento valeu a pena e possibilitou a reden��o divina. Nesta crise de seguran�a p�blica criada pela mil�cia carioca no Zona Oeste do Rio, territ�rio controlado pelo crime organizado, o governador fluminense Claudio Castro (PL) encarna a figura de Fausto. Santista, mudou-se ainda crian�a para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito e fez carreira como m�sico, compositor e cantor da Renova��o Carism�tica Cat�lica, ligada � Arquidiocese do Rio de Janeiro.  Ex-vereador, era o vice do governador Wilson Witzel, que foi cassado. Assumiu o governo interinamente em 2020 e no ano seguinte foi efetivado. Foi reeleito em 2022, com 60% dos votos, no primeiro turno.

Tudo misturado


Aliado ao presidente Jair Bolsonaro, Castro fez um pacto perverso com as policias civil e militar e aboliu a Secretaria de Seguran�a P�blica, sem a qual � imposs�vel coordenar a a��o do governo nessa �rea. No pacote, veio o acordo t�cito de conviv�ncia com as mil�cias do Rio de Janeiro, que controlam toda a regi�o da Zona Oeste e boa parte da Baixada Fluminense, e apoiaram sua reelei��o. Formada por ex-policiais e policiais corruptos, em algumas regi�es as mil�cias atuam em conluio com o tr�fico de drogas e, em outras, substitui os traficantes nesse mister. Hoje, controlam redutos eleitorais decisivos para a pol�tica fluminense. N�o existe crime organizado sem participa��o de agentes p�blicos, no Executivo, no Legislativo e no Judici�rio.

O governo de Cl�udio Castro � marcado por chacinas policiais, como as do Jacarezinho, da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alem�o, para citar as mais sangrentas. Quase sempre ocorrem ap�s ajustes de contas entre milicianos e traficantes. Em n�meros, a gravidade da situa��o na Zona Oeste do Rio de Janeiro � flagrante: de janeiro a outubro deste ano, foram 241 mortos em homic�dios (129,5% sobre os 105 do mesmo per�odo de 2022); 13 chacinas com 47 mortos (291,6% a mais que os 12 em 4 massacres no ano anterior); e 728 tiroteios (55,88% a mais que os 467 do ano passado). No mesmo per�odo, Zona Sul, a mais rica e tur�stica, o munic�pio, registrou, no mesmo per�odo: 6 mortos em homic�dio (o dobro do ano anterior); nenhuma chacina, como em 2022; e 47 tiroteios (queda de 8,51% sobre os 51 de 2022)

Na segunda-feira, a Zona Oeste foi palco de inc�ndios criminosos de mais 30 �nibus, que deixaram em colapso o sistema de transportes da regi�o, uma repres�lia da mil�cia � morte de Matheus da Silva Rezende, em troca de tiros com a Pol�cia Civil. Conhecido como Faust�o ou Teteu, ele era sobrinho de Zinho, chefe de uma das principais mil�cias da regi�o. O governador parabenizou a a��o dos policiais, mas n�o imaginava que perderia o controle da situa��o.
 
N�o h� mais distin��o entre mil�cia e tr�fico de drogas no Rio de Janeiro, pois ambos adotam o mesmo conceito de “territorializa��o”  e praticam os mesmos crimes. O Comando Vermelho (CV) e a mil�cia se aliaram para controlar as comunidades da Zona Oeste e Baixada Fluminense, nas quais exploram a venda de drogas, g�s de botij�o, acesso � internet, transporte por van e outros servi�os.
 
N�o existe solu��o f�cil para o problema, embora a situa��o exija medidas imediatas. Apesar de descontrole da situa��o, em conversa com o ministro da Justi�a, Fl�vio Dino, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva descartou interven��o federal. A op��o at� agora foi refor�ar a presen�a da Pol�cia Federal, da Pol�cia Rodovi�ria Federal e da For�a Nacional no trabalho de intelig�ncia e controle das estradas, portos, aeroportos e divisas do estado. Na verdade, � imposs�vel resolver o problema de seguran�a no Rio de Janeiro sem um grande expurgo na Pol�cia Civil e na Pol�cia Militar.



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