
Com a sucess�o de baques na economia j� enfrentados pelos brasileiros, a mem�ria at� pode falhar, mas n�o ser� dif�cil relembrar momentos desafiadores como agora imp�e a crise sanit�ria ou turbul�ncias em menor propor��o, contudo, tamb�m importantes na vida pessoal e do pa�s. Trag�dias recentes em Minas Gerais, devido ao estouro de barragens das mineradoras Samarco e Vale, seca e tempestades, tornam esse exerc�cio ainda mais revelador para quem tenta entender, livre do interesse no voto que compromete o discurso dos pol�ticos tradicionais, o que n�o conseguimos aprender.
Por que n�o evitamos tantas mortes e tombos que ceifam empregos e renda? A resposta passa pelo h�bito que tem caracterizado os gestores p�blicos e privados de menosprezar os sinais dados pelos desarranjos que se abateram sobre a economia. � como define, sem um pingo de econom�s, o professor Paulo Vieira, matem�tico por forma��o, p�s-graduado em Finan�as e que est� completando 46 anos de vida profissional , dos quais duas dezenas de trabalho no mercado financeiro.
“Mais que nunca, o coronav�rus reafirma como precisamos ficar atentos aos sinais que antecedem movimentos ao longo da hist�ria. � preciso ser pr�-ativo e atacar os problemas antes que eles se agravem. O que fazemos � menosprezar os avisos”, afirma Vieira. A li��o n�o serve s� aos gestores p�blicos e � iniciativa privada no Brasil. O conhecido crash de 1929 nos Estados Unidos deu mostras disso.
A crise financeira do per�odo entre duas guerras mundiais, associada ao que foi batizado de Grande Depress�o Americana, provocou desemprego e fal�ncias em v�rios pa�ses que dependiam do sistema de cr�dito dos EUA, como o Brasil. Com a queda da bolsa de valores de Nova York, em 29, os pre�os de produtos b�sicos agr�colas e minerais despencaram.
Para tentar estancar as perdas, os cafeicultores brasileiros se viram obrigados a queimar o gr�o para valorizar os pre�os. A crise n�o estourou de repente, como destaca o professor de economia e administra��o Paulo Vieira. Depois da Primeira Guerra, as empresas foram estimuladas a investir na reconstru��o e assim o fizeram, o que resultaria em valoriza��o exagerada de a��es e especula��o.
“Houve brasileiros que venderam fazendas aqui para levar o dinheiro a Nova York. Por qu� n�o prestamos aten��o �quela onda especulativa? Os pre�os eram irreais”, afirma. Ap�s 78 anos, a pergunta volta a nos rondar sobre a crise financeira de 2007/2008. Juntaram-se a valoriza��o excessiva para quem se beneficiou do dinheiro das hipotecas norte-americanas e a bolha da especula��o imobili�ria. “N�o atacamos a valoriza��o. Quando os pre�os come�aram a cair, veio a crise dos receb�veis nos bancos. Uma crise puxou a outra”, diz.
De novo, os pre�os no mercado internacional sentiram e os efeitos da turbul�ncia atingiram mundo afora. O PIB de Minas, dependente de v�rias commodities, caiu 3,9% em 2009. Quem imaginava que o refresco que veio em seguida teria alguma dura��o, se enganou. Nova queda de 2% surgiu em 2016, num misto de recess�o brasileira e efeitos do estouro da barragem de min�rio de ferro de Mariana em novembro de 2015, que deixou 19 mortos.
Outro baque chegaria em janeiro do ano passado, com o rompimento da barragem de C�rrego do Feij�o em Brumadinho. Houve 259 mortos e 11 pessoas est�o desaparecidas. A retra��o da ind�stria extrativa mineral foi a principal causa do encolhimento de 0,3% da economia em Minas no ano passado. Os produtos minerais respondem por um quarto da produ��o industrial do estado e t�m influ�ncia sobre uma extensa cadeia de fornecedores e prestadores de servi�os. Do PIB de Minas, 2,1% se devem a extra��o de minerais.
A neglig�ncia tamb�m com recorrentes desastres naturais, a exemplo da seca e das tempestades, vai continuar a cobrar o seu pre�o. Estiagem e �gua em excesso quase todo ano provocam preju�zo para as fam�lias e as empresas. Da mesma forma, a conta dos efeitos do coronav�rus sobre a economia est� sendo preparada. Consequ�ncia do nosso despreparo para lidar com a pandemia, a ind�stria de Minas teve retra��o de 15,9% em abril, frente a mar�o, segundo o IBGE. No Brasil, o recuo alcan�ou 18,8%, o maior em 18 anos.
PELO RALO
94,2%
Foi a queda da fabrica��o de ve�culos automotores, reboques e carrocerias em Minas em abril
FORA DA CURVA
Na contram�o das m�s not�cias em Minas, a produ��o da ind�stria de alimentos aumentou 15,9% em abril, ante mar�o deste ano. Houve avan�os tamb�m nas f�bricas
de outros produtos qu�micos (41%) e produtos de fumo (5,3%).