
“A pandemia chegou de um dia para o outro afetando socialmente, economicamente e emocionalmente, exigindo uma redescoberta desesperada por comportamentos, servi�os e produtos que fa�am sentido e sobrevivam a isso tudo”
Barbara Olivier,
diretora-executiva de inova��o e tecnologia na Afferolab
Barbara Olivier � diretora da empresa l�der em aprendizagem corporativa no Brasil. Formada em tecnologia e p�s-graduada em computa��o gr�fica e multim�dia, migrou totalmente para aprendizagem em 2003, voltando-se para forma��es em educa��o a dist�ncia (EAD) e extens�es em gest�o do conhecimento e design digital, inova��o estrat�gica, al�m especializa��es em foresight, pelo Institute For The Future; e em blended learning, pela ATD, ambos nos EUA. J� deu palestras em eventos como e-Learning Guild, Online Educa Berlim e Festival Path. Confira nove respostas que ela d� para a transforma��o e aprendizagem digital de pessoas e neg�cios.
1. Como a pandemia mudou suas perspectivas quanto ao futuro?
Modelar futuro � uma eterna observa��o de sinais, pesquisa de tend�ncias, provoca��o de discuss�es emergentes, diverg�ncia e converg�ncia e defini��o de hip�teses. A pandemia chegou de um dia para o outro, afetando emocional, social e economicamente, exigindo uma redescoberta desesperada por comportamentos, servi�os e produtos que fa�am sentido e sobrevivam a isso tudo. Falando especificamente do cen�rio de aprendizagem, ou desenvolvimento de pessoas, a pandemia acelerou a ado��o de abordagens, tecnologias e pr�ticas de que muitos falavam, sabiam que eram tend�ncias, mas que eram deixadas em segundo plano ou at� desconsideradas por culturas instaladas. A cultura organizacional � uma barreira frequente para a transforma��o digital. A pandemia atropelou isso. Mudaram as prioridades e novas abordagens ou m�todos mais digitais se configuraram, e se manter�o assim, como o caminho primordial.
2. Quais mudan�as de mindset ap�s passar pelo Institute For The Future e outras institui��es que s�o refer�ncia no mundo?
Aprendi que todos, independente de fun��o e carreira, precisam acompanhar e modelar tend�ncias e aprender a prever futuros para poder atuar no sentido de um futuro desej�vel. Ou ser�o agentes passivos em um futuro criado por outros.
3. Quais mensagens voc� costuma levar para os eventos internacionais dos quais participa?
Em 2007 dei uma palestra em S�o Francisco (EUA), defendendo como precis�vamos modelar e produzir pacotinhos ou p�lulas de aprendizagem e recombin�-los, formando infinitas experi�ncias. � incr�vel como era j� vision�rio naquele time o que hoje chamamos de assets e ecossistemas de aprendizagem. De l� para c�, vejo o mundo todo cada vez mais discutindo como usar tecnologia de forma �til, para o melhor do humano, e sempre falo associando aprendizagem com novos comportamentos e pr�ticas de inova��o.
4. O que n�o � inova��o para voc�?
No Laborat�rio de Inova��o da Afferolab, o Unboxlab, explicamos que, se n�o gera valor para o usu�rio, se rapidamente se inviabiliza, se n�o prova relev�ncia para o cliente e para o neg�cio, n�o � inova��o. No caso da aprendizagem corporativa, inova��o vem para viabilizar progresso. S� inserir elementos divertidos, diferent�es numa experi�ncia n�o � inovar. � remodelar experi�ncias, o que � muito importante, mas n�o necessariamente gera valor. Encaramos a inova��o como um superpoder que resolve uma dor e leva o usu�rio a um progresso. E os melhores casos v�m com questionamentos, com inc�modo e em cen�rios que buscam diversidade e fogem de vieses inconscientes.
5. Na sua opini�o qual � o futuro das organiza��es e do trabalho?
Muitas tend�ncias indicam que as organiza��es caminham para se tornarem ecossistemas sociais, atuando para trazer retorno como um sistema diverso, est�vel, equilibrado e autossuficiente. Agora, com a crise, as organiza��es t�m vivido uma n�o estabilidade e nossa rotina tem sido uma zona de desconforto. Ou seja, o que a pandemia obrigou todos a fazerem, sem distin��o, foi o que se falava de futuro organizacional: se desafiarem por novos caminhos para encontrarem o que ser�o os novos momentos de estabilidade din�mica.
As tend�ncias de futuro do trabalho indicavam, tamb�m, que as pessoas iriam buscar atuar de forma muito mais diversa, priorizando prop�sito e benef�cios diferentes dos atualmente buscados e transformando a forma como se trabalha, buscando maior flexibilidade, diversidade e protagonismo. Essas s�o outras hip�teses que parecem ter se confirmado com o que a crise provocou nas rotinas de todos os profissionais.
Tecnologicamente, sabemos que diversas fun��es j� tendiam a virar tarefas automatizadas ou at� deixariam de existir e outras novas surgiriam. Isso por si s� j� tornava urgente que as organiza��es ajudassem seus profissionais a se requalificar e se tornassem poss�veis sucessores do que ainda nem existe. Isso s� se acelerou na pandemia. As organiza��es que quiserem futuro sustent�vel ser�o as que entenderem que n�o existe for�a e estabilidade real com silos, processos lineares, hierarquias e afins. S�o as que entenderem o que � ser digital e n�o tiverem medo de mudar, �gil e tecnologicamente falando.
6. Qual o papel da Educa��o a Dist�ncia nesse contexto?
Um dos principais benef�cios da chamada educa��o a dist�ncia � o acesso escal�vel a conhecimento que ela viabiliza, principalmente para p�blicos que jamais teriam esse acesso de outra forma. A tecnologia democratiza e expande. Mas n�o dever�amos mais chamar e limitar aprendizagem como educa��o a dist�ncia se tudo ocorre num mundo digital e ao longo da vida, o tempo todo. Antigamente, me incomodava muito ver a educa��o a dist�ncia limitada somente por conte�dos on-line, como se isso fosse suficiente para a aprendizagem acontecer, quando eram somente livros digitalizados. Hoje, vejo a abordagem reunindo de forma muito mais rica elementos diversos de troca e de imers�o ativa, fundamentais em processos de aprendizagem e com a relev�ncia devida para o suporte � performance no contexto e lugar que o aprendiz quiser.
A antiga educa��o a dist�ncia transforma-se mais e mais em Aprendizagem Digital, algo muito mais poderoso que fornece abordagens autodirigidas de forma contextualizada, �gil, com tecnologias muito mais significativas para a aprendizagem aut�noma e protagonista. E entendemos, finalmente, que o presencial continua sendo fundamental e faz parte do digital, mas hoje cada vez mais bebendo de metodologias ativas, imersivas e vivenciais. Ent�o, se algu�m me pergunta se o digital substitui o presencial, digo que um fortalece o outro, fomenta o que de melhor cada um deles pode prover.
7. Quais s�o as oportunidades para as empresas e como elas devem se preparar?
As empresas precisam se entender como agentes de impacto positivo. O relat�rio da Fjord pra 2020 come�a exatamente citando que o capitalismo est� evoluindo. As pessoas est�o se tornando cada vez mais conscientes de como suas compras afetam outras pessoas e os recursos da Terra. E tamb�m pontua que o crescimento apenas para o lucro desaparecer� � medida que as pessoas exigirem produtos e servi�os pessoalmente significativos e social e ambientalmente ben�ficos. Imagina isso p�s-pandemia?
E, como dica do que priorizar, design � uma das melhores abordagens para qualquer organiza��o. Nessa linha, todos precisam ser designers, lan�ando sua lente al�m do usu�rio final, passando do design centrado no usu�rio para o design para toda a vida e que desenha experi�ncias para o coletivo. Precisam aprender a buscar diversidade, entender empaticamente os sistemas que interagem com seu neg�cio e tomar decis�es ecossistemicamente, de forma �gil, reduzindo hierarquias e acabando com silos. Precisam tamb�m envolver seus atuais colaboradores, j� bastante imbu�dos de cultura e prop�sito, e requalificar parte deles para fun��es mais digitais. Fazer isso � mais um atalho na transforma��o da organiza��o.
Segundo uma pesquisa da IBM, mais de 120 milh�es de trabalhadores das 12 maiores economias do mundo precisam ser treinados novamente e terem mudan�a nas habilidades que apresentam dentro dos pr�ximos tr�s anos, como resultado de automa��o baseada em intelig�ncia artificial. Nessa mesma pesquisa, os CEOs j� consideram que a forma mais importante de acelerar performance da organiza��o � com investimento nas pessoas.
8. E quais s�o as oportunidades para o cidad�o comum e como ele pode se preparar?
Ao se falar em pessoas preparadas para o futuro, embora as habilidades digitais sejam vitais, as habilidades sociais j� as superaram em import�ncia. Buscar desenvolvimento e aplica��o de habilidades como flexibilidade, agilidade, prioriza��o, colabora��o e comunica��o e influ�ncia � fundamental. A isso, segue-se an�lise de dados e sist�mica, habilidades tecnol�gicas, inova��o e criatividade. Com a pandemia, o conceito de mundo vuca (vol�til, incerto, complexo e amb�guo) virou rotina, o tal do novo normal, e habilidades como essas s�o as �nicas ferramentas efetivas e que propiciam atua��o positiva
9. Como foi a sua trajet�ria profissional at� aqui?
Sempre trabalhei com consultoria para aprendizagem vinculada ao uso de tecnologia e inova��o. Foi uma trajet�ria muito l�gica a partir do momento em que eu sempre atuava pautada em an�lise de tend�ncias, estudos de horizontes de futuro, al�m de conceitos e abordagens ligados a design. A minha trajet�ria ganhou muito impulso pelo fato de ter aprendido e cocriado desde sempre, com diversos profissionais com habilidades extremamente digitais, perfil �gil e com base t�cnica para lidar com tecnologias emergentes. Como b�nus, a Afferolab � uma empresa que incentiva inova��o e n�o tem medo de se provocar. Qualquer profissional com perfil digital s� ganha estando em uma organiza��o trendsetter e que n�o tem medo de se transformar.