
Sob a pretensa desculpa de estarmos preocupados com o bem comum, nos tornamos inquisidores baseados em regras que achamos serem as melhores para transcorremos os �ltimos meses. Vou dar um simples exemplo. Vi pessoas olhando de suas janelas carros e transeuntes nas ruas e os criticando. “Estas pessoas ainda n�o entenderam que era para todos ficarem em casa”?
Por�m, a todo momento, davam autoriza��o para que entregadores de comida, supermercado, farm�cia chegassem at� a porta de suas casas. Acho que se esqueceram que para uns ficarem em casa em seguran�a, outros precisaram sair, que comida, mantimento, energia el�trica, g�s, rem�dio n�o surgem do nada, por gera��o espont�nea. N�o estou querendo ir contra a necessidade da maioria ficar em casa, apenas sou contra a onda de ataques muitas vezes gratuitos que tenho visto muita gente adotar.
Esta � a primeira pandemia moderna que atinge a maioria de n�s diretamente. Precisaremos de uma segunda para aprendermos a aproveitar melhor nossa energia nos concentrando em cobrar de n�s mesmos tais atitudes morais. Mas creio que, na segunda, nossa desculpa ainda ser� a promo��o do bem comum. Pois afinal, n�o � nada f�cil tentar enxergar a vida por �ngulos diferentes dos nossos, diferentes de nossa posi��o social e educacional. Acabamos nos escondendo atr�s de justificativas nobres quando de fato estamos mais preocupados com nosso pr�prio umbigo.
Vou dar um outro exemplo simples. H� pouco mais de dez dias vi uma aglomera��o de pessoas carentes. Logo imaginei que por ali deveriam estar distribuindo comida. Um quarteir�o adiante vi um homem na frente de sua casa gritando com dois policias que estavam em uma viatura, argumentando que aquilo era uma aglomera��o e que como tal poderia ser um ponto de transmiss�o do v�rus.
Pela forma com que ele esbravejava, n�o estava preocupado com o fato de que aquelas pessoas poderiam estar contaminando umas �s outras ou at� a ele, mesmo estando um pouco distante. Quem quer um bando de miser�veis por perto, principalmente quando eles n�o est�o confinados nos pontos onde deveriam estar?
Ser� preciso uma terceira pandemia quando se espera aprendamos a n�o julgar o outro se ele n�o escolher, ou n�o puder, seguir as mesmas regras que n�s (qualquer que seja o motivo). Precisamos cobrar de n�s mesmos comportamentos �ticos e dar exemplo, cobrar dos legisladores, ao inv�s de partir para a briga como se tiv�ssemos a capacidade de conhecer e deter o comportamento mais pr�ximo do certo. Nos transformamos em inquisidores que apenas julgam sem sequer dar ao outro a oportunidade de se justificar e se defender. Ser� que agir�amos diferente se estiv�ssemos na pele dele?