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Estado de Minas entrevista/Bruno Barroso - 36 anos, fundador da Bora Experi�ncias

Colecionador de experi�ncias

Empreendedor comanda startup que oferece atividades �nicas de bem-estar, cultura e gastronomia


03/04/2022 04:00

fundador da Bora Experiências
Bruno Barroso (foto: Benatti/Divulga��o)

 
“Quanto mais experi�ncia tenho, mais experi�ncias quero ter.” A frase da escritora Cris Guerra resume com exatid�o a proposta da Bora Experi�ncias. Fundada h� cinco meses pelo empreendedor mineiro Bruno Barroso, a startup faz uma curadoria de atividades de bem-estar, cultura e gastronomia especialmente para o p�blico com 50 anos ou mais (sem excluir as outras idades). Pessoas que j� viveram de tudo, mas ainda querem sentir aquele frio na barriga ao experimentar e aprender o novo. Atualmente, a Bora oferece cerca de 30 experi�ncias, todas em Belo Horizonte ou nas redondezas. Bruno quer que as pessoas se sintam turistas na sua pr�pria cidade. O novo pode estar em meditar ao som do gongo ao p�r do sol, preparar um brunch com produtos org�nicos colhidos na hora em uma fazenda, fazer a sua pr�pria joia ou degustar vinhos naturais em um casar�o hist�rico. O plano � expandir o servi�o para S�o Paulo ainda este ano e depois se instalar em outras capitais. 
 
Para come�ar, fale um pouco sobre voc�.
Sou formado em comunica��o pela UFMG e, nos �ltimos 10 anos, fui empreendedor na �rea de impacto social. Passei pelo Inhotim, na �rea de capta��o de recursos, e por um programa de trainee da Unilever, com a ideia de trabalhar em uma grande empresa, mas rapidinho vi que n�o era o que queria para a minha vida. Em 2011, eu e o meu s�cio, Thiago Alvim, criamos a Nexo, que ajuda empresas a investirem melhor na �rea social. Depois nasceu a segunda empresa, a Prosas, que � uma plataforma para gest�o do investimento na �rea social (ela faz todo o processo, desde abrir edital, escolher qual projeto apoiar at� monitorar o que a organiza��o est� fazendo com o recurso). Hoje temos 160 mil usu�rios. Somos um grande mapa para encontrar oportunidades de capta��o de recursos.

Em qual momento voc� entendeu que era um empreendedor?
Foi muito no susto. Quando sa� da Unilever, n�o sabia o que ia fazer da vida, s� sabia que n�o queria trabalhar numa grande corpora��o. Venho de uma fam�lia de empreendedores. Meu pai � m�dico e empres�rio, criou uma neg�cio na �rea da sa�de. As minhas irm�s tamb�m empreenderam. No fundo, tenho uma veia desbravadora. Descobri ao longo da vida que sou um cara muito inquieto, curioso, que est� sempre buscando coisas novas. Ent�o, aos poucos, fui vestindo a roupa de empreendedor.

Quando voc� resolveu mudar de �rea?
Depois de 10 anos, as empresas estavam superbem, com 90 funcion�rios, atuando no Brasil inteiro, atendendo �s maiores empresas do pa�s, mas comecei a perceber que n�o estava feliz sendo gestor. Continuo como s�cio, estou no Conselho, mas n�o era o queria para o meu dia a dia. Queria empreender de novo e em uma �rea completamente diferente. Gosto de cultura, arte, gastronomia, viagem e decidi que queria encarar isso como neg�cio, e n�o apenas hobby.

Como os temas envelhecimento e longevidade entraram na sua vida?
Moro em S�o Paulo h� sete anos. Fomos selecionados com a Prosas para a primeira turma do espa�o de startups do Ita� chamado Cubo e l� tive muito contato com pessoas que estudam sobre longevidade e envelhecimento populacional. J� trabalhava com esses temas na Nexo. Fomos pioneiros no Brasil em trabalhar com o Fundo do Idoso e nos tornamos refer�ncia. S� que l� envolvia o idoso fragilizado, de asilo, e quando comecei a estudar esses temas, vi que n�o era s� isso: estamos envelhecendo cada vez mais e melhor. Fiz umas 50 entrevistas com pessoas 50+ de alta renda, mulheres e homens, para saber: como � a sua vida, o que voc� gosta de fazer, como se enxerga nos pr�ximos anos?. O que eles falam de etarismo e idadismo est� em todos n�s, temos v�rios preconceitos. Quando comecei a pensar em trabalhar com envelhecimento populacional, o meu projeto era de fralda geri�trica. Ent�o, voc� v� o tanto que mudei de rumo. Na primeira entrevista, ouvi de uma m�dica: “Bruno, estou na melhor fase da minha vida, com muito mais dinheiro e sa�de do que imaginava”. Ela disse que os filhos n�o dependiam mais dela e que queria viver. Adoraria fazer interc�mbio na It�lia. Isso foi um choque para mim, era a �ltima coisa que esperava ouvir. As mulheres, principalmente, falavam que estavam em uma fase �tima, que tinham ficado a vida inteira cuidando dos outros e queriam cuidar delas, viver novas experi�ncias, viajar, fazer p�o, cer�mica, degusta��o de vinho. Esse foi o clique para criar a Bora.
 
Como voc� explica o trabalho da Bora?
Atendemos dois p�blicos com demandas complementares. A vida inteira estive em um lugar de conex�o, de conectar a necessidade de um com a do outro. De um lado est� o p�blico que quer viver novas experi�ncias, mas n�o sabe onde encontrar, n�o tem companhia, acha que tudo � para jovens. Do outro lado, est� quem pode oferecer essas experi�ncias, como os chefs de cozinha e as ceramistas, que n�o conseguem fazer isso com a frequ�ncia e a intensidade que gostariam porque n�o t�m bra�o para executar. Dou o exemplo da ceramista, que est� ali, literalmente, com a m�o na massa, o tempo inteiro. Como vai atender as pessoas e responder �s mensagens? Massimo Battaglini, que virou nosso s�cio depois, recebe e cozinha muito bem, mas n�o tem tempo nem conhecimento de ficar desenhando uma experi�ncia gastron�mica. Igual a ele existem v�rios chefs. Ofere�o esse bra�o e trago as experi�ncias para um �nico lugar. Tudo passa a fazer parte de uma rede de experi�ncias.

Voc� mora em S�o Paulo, mas escolheu lan�ar a Bora primeiro em BH. Por que?
Escolhemos BH para ser o nosso mercado-piloto por v�rios motivos. Primeiro, porque a maioria dos s�cios est�o aqui (somos cinco, mas o fundador e quem est� na opera��o sou eu). Segundo, falo que BH � uma pot�ncia, tem uma densidade de talentos que s�o refer�ncia nacional e mundial no que fazem, seja gastronomia, bem-estar e artes. Em terceiro lugar, BH � um tradicional mercado de teste de neg�cios. Al�m disso, BH � um ovo, ent�o � muito mais f�cil de chegar em quem oferece as experi�ncias, quem compra, quem influencia. J� tinha essa rede de relacionamento. Espero ainda este ano expandir a empresa para S�o Paulo.

O que a Bora traz de interessante e diferente para o p�blico? 
A Bora foi propositalmente pensada para nascer em um momento de pandemia, imaginando o que as pessoas v�o querer viver p�s-pandemia. No fundo, est� todo mundo de saco cheio de ficar dentro de casa, de reuni�o on-line e sempre pensamos que as pessoas estariam sedentas para viver novas experi�ncias. Um segundo ponto � que, com a pandemia, passamos a dar muito mais valor ao que est� do nosso lado. Tem gente que s� viajava para fora do Brasil e viu que existem coisas incr�veis do lado de casa. Eu n�o quero mostrar para o turista o que tem de legal em BH, quero mostrar para o local. Em vez de s� ir para restaurante e boteco, ele pode ter uma experi�ncia de degusta��o de queijo, vinho, um menu especial de chef. Nenhuma das experi�ncias � para dormir fora de casa. Todas est�o a, no m�ximo, duas horas da cidade, justamente para voc� ir e voltar. Como est� tudo perto de casa, o potencial de uso e frequ�ncia � muito maior. Existe um termo em ingl�s, staycation, que significa viver a sensa��o de f�rias na sua cidade. Era um conceito muito pouco utilizado, mas virou uma tend�ncia com a pandemia.

Como funciona a curadoria das experi�ncias?
Queremos trabalhar com parceiros que s�o definitivamente refer�ncia no que fazem e oferecer experi�ncias �nicas. Voc� pode ter a oportunidade de passar uma manh� na Fazenda Vista Alegre, em Capim Branco. Conhecer como funciona a produ��o de org�nicos, colher algumas hortali�as, pegar ovos e com esses ingredientes fazer um brunch. Quantas fazendas como essa s�o abertas � visita��o? Temos uma experi�ncia de medita��o com gongo, que � um instrumento de terapia sonora, no p�r do sol, em um espa�o no Belvedere com uma vista maravilhosa da cidade. Levamos as pessoas para uma casa do s�culo 19, em Itabirito. O dono � chef e sommelier de vinhos naturais e oferece uma experi�ncia gastron�mia ali. Vamos juntando v�rios elementos que tornam essas experi�ncias �nicas. Tamb�m escutamos o que os clientes querem, avaliamos quem � refer�ncia, quem compra a ideia e unimos os dois lados. Hoje, temos 30 experi�ncias no portf�lio, que v�o mudando de acordo com a �poca do ano. Por quest�o de demanda, vamos intensificar a oferta para o mundo corporativo. A nossa ideia � reunir at� 200 experi�ncias at� o fim do ano entre BH e S�o Paulo.

Quais s�o as experi�ncias mais procuradas?
A da Fazenda Vista Alegre tem uma procura grande, assim como a de churrasco americano e cerveja com a Coal Bar-b-que Market, a de cer�mica para iniciantes com a Tha�s Mor, e a de medita��o com o Renato Moura. Agora vamos ter uma experi�ncia com o Grupo Corpo. � a primeira vez que eles abrem os ensaios, comercialmente falando, para que as pessoas possam assistir e conversar com um dos fundadores. Vamos come�ar tamb�m a oferecer um curso de �leos essenciais na Vila da Lavanda, onde tem uma planta��o de lavandas. Estamos sempre incluindo experi�ncias novas. Sou o facilitador, agitador e operacionalizador. Prefiro que as experi�ncias n�o sejam formatadas exclusivamente para mim para n�o atrapalhar o cotidiano de quem as oferece. Se � algo que roda mais f�cil, voc� tende a fazer mais vezes. Ent�o, prefiro potencializar o que j� existe, em vez de criar novas experi�ncias.

O seu trabalho continua a ser focado no p�blico com mais de 50 anos? 
N�o nasci exclusivo para o p�blico 50 , falo que nasci inclusivo para o p�blico 50 . Esse p�blico abriu meus olhos, mas n�o vou pedir identidade para saber a idade de ningu�m, at� porque o segredo est� na intergeracionalidade. � isso que faz com que o p�blico 50 esteja cada vez mais inclu�do na sociedade. Agora tem uma quest�o, e eu me incluo nela. Estou com 36 anos, pensando em empreender, me casar, ter filhos, ent�o sobra menos dinheiro e tempo para investir nessas experi�ncias. Acho que os meus pais t�m muito mais tempo e dinheiro para investir nisso do que eu. Continuo com o olhar especial para o p�blico 50 , mas numa l�gica inclusiva. Vou sempre olhar primeiro para o que a mulher 50 quer, mas � por ela estar mais propensa a pagar por uma experi�ncia da Bora. A nossa segmenta��o de p�blico � muito mais por lifestyle do que demogr�fica. Temos o olhar atento para esse p�blico, mas n�o queremos ficar chatos. Se come�amos a criar uma barreira, que s� passa quem tem mais de 50 anos, a Bora vai morrer. J� tivemos experi�ncias em que participaram pessoas de 18 e de 60. Quando vejo isso, fico muito feliz.

Em geral, quem s�o os clientes da Bora?
S�o mulheres com mais de 40 anos, que vivem em grandes centros urbanos ou pr�ximo a eles, de alta renda e com flexibilidade e controle maior sobre o tempo. Em uma experi�ncia que acontece quinta � tarde, s� vai aposentado? N�o, v�o tamb�m aut�nomos. N�o tenho medo de marcar nada quarta � tarde, porque sei que tem um p�blico com disponibilidade de ir. A tend�ncia � que sejam pessoas que tenham controle sobre o tempo e flexibilidade de agenda.

O que voc� quer com a Bora? 
Acho que as pessoas exploram muito pouco as riquezas que existem perto delas. Entramos no piloto autom�tico de s� ir a restaurante, bar, churrasco com amigos, sendo que existem muito mais coisas para fazer na cidade, conhecer gente nova e viver experi�ncias novas. Quero ser um grande hub de experi�ncias em BH, que passaram por uma curadoria, oferecidas por algu�m bom no assunto. Estamos vivendo num mundo em que a palavra curadoria tem muita pot�ncia, pois temos muita oferta de informa��o. Curadoria para mim � uma palavra essencial, � o que me ajuda a escolher. Toda vez que escuto algu�m falar que tem vontade de fazer tudo, se n�o sabe se vai ao Grupo Corpo, se vai fazer joia, a uma degusta��o de vinhos, penso que � isso mesmo que quero. Aproveito para citar uma frase da Cris Guerra que acho genial, brilhante e � um bom resumo do nosso trabalho: “Quanto mais experi�ncia tenho, mais experi�ncias quero ter”. Muita gente fala em lifelong learning, que significa ser aprendiz a vida inteira, mas a Bora n�o � isso, � lifelong fun. Voc� tem que se divertir a vida inteira. Tem coisa que voc� s� consegue perceber que � boa quando tem repert�rio.

Passados seis meses de Bora, voc� j� pode dizer que � isso que quer fazer no seu dia a dia?
Crio empresas que gostaria que existissem no mundo. Nexo e Prosas t�m a minha caracter�stica de conex�o e de impacto social e a Bora traz outros elementos que sempre foram muito fortes na minha vida, que s�o a arte, gastronomia, m�sica, ent�o me identifico com ela. A cultura sempre esteve muito pr�xima de mim. Meu pai tem uma cole��o de mais de 5 mil vinis. Na faculdade, meu projeto de fim de curso teve a ver com marketing cultural. Depois trabalhei no Inhotim, na �rea de incentivo cultural, ent�o sempre tive afei��o e uma rela��o profissional com essa �rea. Sempre fui muito curioso com gastronomia e agora comecei a me conectar com a �rea de bem-estar. Se n�o fosse dono da Bora, seria um bom cliente. 


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