Decidi usar uns bordados que guardava havia tempos para enfeitar toalhas de lavabo, de rosto e de banho. Fui ganhando ao longo dos anos de bordadeiras de m�o cheia ou n�o, outros comprei e alguns nem fa�o ideia de como chegaram a mim. Aprecio muito este tipo de trabalho e �s vezes me aventuro a fazer algum. Longe de conseguir a delicadeza e a perfei��o de minha amiga Mary Reis; os meus qualifico como grosseiros e s� consigo fazer letras utilizando pontos b�sicos. Com isso, at� hoje s� bordei frases de poemas que gosto em pe�as de americano cru ou brim que fiz.
Conclu� que os que guardava sem saber bem o porqu�. N�o mereciam ficar dentro de uma caixa no fundo do arm�rio � espera de dias e ocasi�es especiais. Como tenho o h�bito de adquirir toalhas de lavabo nos bazares beneficentes a que vou, achei por bem fazer as minhas de uso pr�prio tamb�m. Gosto de levar como agradecimento para as pessoas que me recebem em suas casas pela primeira vez.
Comprei as toalhas e me diverti compondo estampas e outros guardados como sianinhas, tiras bordadas, barrados de croch� e fitas daqueles tipos que nos remetem a muito tempo atr�s. Enquanto fazia as composi��es, meu marido confessou que se eu colocasse qualquer uma daqueles toalhas no banheiro de nossa casa ele iria enxugar as m�os na cal�a. Contou que sempre que vai na casa de algu�m cuja toalha � preciosa demais se recusa a toc�-la, t�o constrangido que fica, como se as m�os jamais alcan�assem limpeza suficientemente para tal.
"Esse tipo de coisa � pra moldurar e ficar olhando, n�o para amassar com as m�os molhadas", disse um amigo que outro dia conseguiu convencer a esposa a n�o fazer o mesmo que eu. Ri muito de toda essa tentativa de me remover da ideia inicial e bati o martelo: "Enxuguem as m�os onde quiserem, eu usarei minhas toalhas enfeitadas no meu dia a dia". Quando estiverem velhas e encardidas, ter�o outra fun��o certamente, mas poderei dizer que as aproveitei da melhor forma poss�vel.
� a velha quest�o do merecimento ou de sua falta. Muitas vezes n�o nos consideramos suficientemente merecedores de determinadas coisas, a maioria considerada sup�rflua, como tomar caf� em um x�cara fina e usar o melhor perfume no dia a dia. Escondidos atr�s da desculpa da falta de praticidade que muitas vezes n�o se justifica, nos boicotamos.
O que esse tipo de experi�ncia enriquece ou transforma nossas vidas? Longe de nos tornar mais felizes ou capazes de contribuir com a felicidade alheia, aprendemos a nos desapegar de coisas que at� ent�o valoriz�vamos em excesso e de t�o valiosas se perdiam com o tempo, como fazemos muitas vezes com todo tipo de pertences que temos, incluindo os afetos.