H� cerca de 15 anos, ao dar uma geral no meu guarda- roupas, separei umas pe�as que eu n�o usava mais e que estavam muito boas. Na �poca, j� tinha o h�bito de doar, por�m sabia, por experi�ncia pr�pria, que algumas s�o dispensadas por quem tem muito pouco. As brancas, por exemplo, saltos muito altos e pe�as nada pr�ticas, s� est�ticas.
Comentei com uma amiga que gostaria de fazer um bazar para vend�-las, revertendo o arrecadado para a funda��o da qual fazia parte. "Vai render muito pouco, muito trabalho pra pouco dinheiro", foi o balde de �gua fria que ela me jogou. Acabei desistindo, mas a ideia ainda persistiu.
At� que cinco anos depois encontrei parceiras mais animadas e dispostas a arriscar. Assim come�amos um brech� tempor�rio, que abria poucos dias por ano, no qual passamos a vender o que arrecad�vamos ao longo de meses junto aos amigos e simpatizantes, al�m de empresas que nos doavam ponta de estoque.
Longe de ser uma novidade, a onda de reusar, reaproveitar, ressignificar come�ava a ser vista com outros olhos em se tratando do setor de moda. Deixava de ser "coisa de pobre" ganhando status de atitude de quem � descolada e aut�ntica. N�o podemos reduzir esse comportamento a patamares t�o simplistas, mas fato � que o conceito de inutilidade passou a ser substitu�do pelo de sustentabilidade.
Em nosso primeiro evento, foram v�rias as pessoas que perguntavam onde estavam as pe�as novas, fugindo das usadas. Chegamos a escrever nas etiquetas de pre�o em qual dessas duas categorias cada pe�a pertencia. "N�o compro nada usado", se justificavam algumas por motivos variados, desde os repugnantes (algu�m j� sujou e suou nela) aos m�sticos (a energia das pessoas fica impregnada). Nos dois casos, acreditavam, n�o havia �gua e sab�o capazes de remover o estigma.
Mas a grande maioria dos clientes pensava diferentemente e esse n�mero aumentava a cada edi��o. Sinal dos tempos e da evolu��o do comportamento humano, que passou a entender que podemos aproveitar e que devemos economizar, independentemente da posi��o que ocupamos.
Brech�s ganharam destaque at� porque � neles que encontramos rel�quias capazes de nos remeter �s mais belas mem�rias. De minha parte, amo tudo o que remete aos anos 1950/1960 e n�o resisto a com�rcios que prometem o vintage a seus clientes.
Quem como eu gosta de vintage est� convidado a visitar o Sobretudo Reuse, evento promovido pela designer Mary Arantes, de sexta a domingo. Famosa por suas curadorias primorosas, Mary vai reunir 12 dos melhores brech�s de BH, com espa�o para antiqu�rio e op��es gourmet em um s� local – Rua Iva� 25, na Serra.