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Estado de Minas Comportamento

T�o evolu�dos e ainda assim t�o atrasados

As costureiras est�o habituadas ao modelo que � movido a m�o, colocado sobre o ch�o, onde elas se sentam e fazem todo o trabalho"


29/01/2023 04:00

Ilustração
(foto: Pixabay)

 
Algumas not�cias que ouvimos ou situa��es que presenciamos nos deixam admirados tanto com a evolu��o quanto com o atraso da sociedade e dos costumes humanos. Confesso que as vezes me vejo inserida em contextos de filmes de �poca que retratam s�culos passados. Mas n�o. Estamos no s�culo 21. 
 
Saber que ainda se morre por contamina��o de merc�rio proveniente de garimpo, desnutri��o em um pa�s forte no agroneg�cio e dificuldade de acesso � sa�de em uma na��o que tamb�m se orgulha de ter um sistema p�blico que serve de exemplo �s demais, mais ricas e ditas desenvolvidas, � assustador. 
 
Sair da bolha em que vivemos deveria ser um exerc�cio constante que, pelo bem ou pelo mal, acaba nos amadurecendo e nos estimulando a fazer alguma coisa, a come�ar por buscar entender por que diferen�as t�o abismais s�o ainda t�o presentes. 
 
Costumo escutar as pessoas dizerem que se solidarizam com a dor dos menos favorecidos, mas que n�o sabem o que podem fazer concreta e sistematicamente. Digo que temos que come�ar nos convencendo de que se n�o dermos um passo n�o sairemos do lugar. 
 
Come�ar reconhecendo a posi��o de privil�gio em que se est� inserido serve como uma chamada � responsabilidade. A maioria de n�s foge do constrangimento de ver e sentir a dor alheia, e quando se aproxima se satisfaz com o sentimento de d�. Esse � mais f�cil administrar, basta uma nota de R$ 5, uma quentinha ou uma roupa velha. Vida que segue. 
 
Em pleno 2023, n�o imaginava ouvir de um amigo o diagn�stico da situa��o das costureiras que trabalham no Sul de Madagascar, para onde vou em mar�o montar uma oficina. N�o bastasse a �gua ser algo raro, caro e de dif�cil acesso, s�o comuns tempestades de areia. Com edifica��es prec�rias, ainda n�o ser� poss�vel instalarmos m�quinas de costura el�tricas. Elas s�o incompat�veis com a possibilidade de cent�metros de poeira as cobrirem em poucos minutos. Ok, ent�o vamos, nesse primeiro momento, trabalhar com as m�quinas movidas a for�a humana. 
 
As costureiras est�o habituadas ao modelo que � movido a m�o, colocado sobre o ch�o, onde elas se sentam e fazem todo o trabalho. Vamos ent�o dar um passo � frente ao colocar as m�quinas sobre mesas e transferir a for�a para as pernas, atrav�s de pedais. Deixando as duas m�os livres para manusear e encaminhar o tecido garante-se uma administra��o mais eficaz do tempo de servi�o e um acabamento pouco mais primoroso, longe do ideal, mas ainda assim melhor. 
 
Enviei fotos das mesas e dos dispositivos necess�rios para essa transforma��o, acreditando que meu amigo que l� reside poderia providenciar, seja comprando-as ou contratando um marceneiro capaz de faz�-las. Para minha surpresa, ele me disse que nenhuma das costureiras locais, assim como as que trabalham na cidade mais pr�xima, jamais viram uma m�quina guiada pelos p�s. “� como se eu estivesse mostrando a foto de um unic�rnio alado”, brincou. 
 
Minha primeira rea��o foi rir do que me pareceu absurdo. A eles resta rirem de mim, de minha cegueira que me impede de enxergar o lado nu e cru da humanidade, que insiste em concentrar sua vis�o em seu pr�prio umbigo.  

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