
A agressiva desigualdade entre indiv�duos no Brasil continua nos encabulando nos foros internacionais. O F�rum Econ�mico Mundial, reunido esses dias em Davos, na Su��a, apresentou um �ndice de Mobilidade Social que nos coloca na rabeira dos 80 pa�ses da amostra. Somos o 60º colocado no grupo. O �ndice do F�rum � composto por v�rios indicadores. Em alguns deles, somos quase o lanterna. N�o admira que seja assim. J� come�a pela car�ncia de creches na primeira inf�ncia. O IBGE aponta o enorme percentual de crian�as de at� quatro anos deixadas com um vizinho ou cuidadas por um parente ou filho mais velho enquanto a m�e sai para trabalhar. A� come�a a desigualdade.
As diferen�as de acesso se aprofundam ao longo da vida, aumentando a largura do fosso que separa ricos de pobres. A pesquisa foi ver como estava a assimila��o de conhecimentos na escolaridade formal. Muito ruim para a maioria dos meninos e meninas. H� desest�mulo ao aprendizado quando ningu�m entende bem o que est�o tentando ensinar.
Jovens de 15 a 17 anos nas comunidades j� est�o � toa, ou fazendo o que n�o devem, ou fazendo mais filhos. Tudo errado. Nessa faixa de idade, deveria haver um programa federal para o resgate de jovens por meio de educa��o com aprendizagens pr�ticas sem a rigidez da escolaridade formal. Pelas nossas contas, 2 milh�es de jovens de 15 a 17 anos deveriam estar cursando nesses Centros de Educa��o para o Trabalho. Est�o largados � pr�pria sorte.
Mas s� a educa��o desigual n�o explica o sofr�vel acesso a oportunidades no Brasil. Outra fonte de tremenda desigualdade � a tributa��o for�ada da massa da popula��o. Aqui o pobre paga muito mais imposto do que o rico, proporcionalmente �s rendas de cada um. Sempre foi assim. Governos sucessivos apelaram para adicionais nas contas mensais de eletricidade, no pre�o dos combust�veis, nos alimentos, tudo para criar uma poupan�a for�ada com a qual se investiu no parque de estatais.
As empresas de energia surgiram assim. A Petrobras idem. O BNDES tamb�m. E a quem pertence hoje esse patrim�nio empresarial acumulado de mais de R$ 1 trilh�o? Ao povo que pagou a conta do investimento? N�o. O governo responde: as estatais federais pertencem a mim, claro!. A Uni�o tem suas estatais. S�o Paulo, Minas e Rio, outras tantas. Quem se lembra do povo como dono? Nem como usu�rio � lembrado.
Exemplo da hora: de quem � a Cedae, companhia de �guas do Rio que serve �gua inadequada ao consumo? O estado do Rio diz que � empresa dele. O munic�pio do Rio faz vista grossa, finge que n�o � com ele, e quem paga o pato � o carioca, que nem desconto na conta ter� por ser obrigado a consumir �gua mineral. Os cariocas pagaram por cada tost�o de investimento numa empresa que n�o os reconhece como donos e nem sequer os respeita como clientes cativos. E o �ndice do F�rum Econ�mico nem captura essa forma de desigualdade.
Agora querem “privatizar” mais estatais. Para onde ir�o os recursos da venda? Porventura para um fundo do INSS? N�o. Para o caixa �nico do governo federal, para cobrir sal�rios e aposentadorias milion�rias do setor p�blico. Para financiar, ano ap�s ano, um d�ficit fiscal prim�rio obsceno. Algu�m identifica esse movimento financeiro como uma forma hostil de se manter e ampliar a desigualdade no Brasil? � raro se ouvir falar disso. Quanta trag�dia financeira evit�vel!
Assim somos. Tiramos de muitos para redistribuir para poucos. Essa defini��o de um indicador espec�fico de concentra��o artificial de capital ainda est� faltando na pesquisa do F�rum. Se esse indicador existisse, nossa coloca��o no ranking seria at� pior. Mas n�o culpemos ningu�m nem nosso destino. N�o h� destino nisso. H� ignor�ncia (da popula��o, explorada, que nem desconfia de como � tosquiada) e mal�cia (por parte dos que se apropriam dos instrumentos de Estado para perpetuar a desigualdade). Consertar isso n�o demora nove gera��es. Mas exige um choque de lideran�as pol�ticas comprometidas de fato com a efici�ncia e a equidade, em partes iguais.
S� a educa��o desigual n�o explica o sofr�vel acesso a oportunidades no Brasil. Outra fonte de tremenda desigualdade � a tributa��o for�ada da massa da popula��o’