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Estado de Minas COLUNA

Brasil � palco de toler�ncia com riscos e pol�ticos avessos a planejamento

No governo, as cat�strofes nunca t�m pai nem m�e. Em �ltimo caso, responder� algu�m passando por perto da cena do desastre.


15/01/2022 04:00 - atualizado 15/01/2022 07:40

Transbordamento do Rio das Velhas afetou várias cidades da Grande BH
Omiss�o e comodismo explicam frequentes enchentes, queda de barreiras, pessoas desabrigadas e mortas pelas chuvas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


Nada define melhor nosso horror ao planejamento contra eventos de risco do que a indiferen�a com que a sociedade brasileira vem tratando da preven��o de desastres, sejam eles clim�ticos ou de fabrica��o humana. Est� longe de ser apenas por car�ncia de recursos. Ou de leis. Antes de serem aplicadas onde deveriam, as verbas para preven��o de riscos s�o desviadas a outras finalidades “mais vis�veis”. O esporte preferido de maus administradores � deslocar verbas e se passar por sabidos. Nisso somos todos um pouco iguais aos que nos representam na (m�) governan�a do pa�s. Exemplos tiramos de dentro de casa. Obras dom�sticas urgentes, at� de baixo valor de desembolso – que preveniriam danos e, no limite, �bitos, acabam sendo adiadas em fun��o de que o risco por n�s percebido parece muito baixo e “esse dia da fatalidade n�o h� de chegar”.

Temos em nossa alma coletiva um pendor pela conviv�ncia com o risco. No Brasil, o clima est� longe de ser t�o inclemente e agressivo como em outras regi�es do planeta. Por isso mesmo, abusamos at� al�m do razo�vel. O Brasil � t�o benigno em termos de natureza a ponto de se considerar “um pa�s paradis�aco”. Pagamos bastante caro por tal quimera. Somos absolutamente tolerantes com o comportamento relapso e desprevenido, seja do vizinho, da autoridade local, do governador ou do presidente em Bras�lia. Somos, principalmente, tolerantes demais com nossos pr�prios comodismos. Isso explica, numa rica sequ�ncia de irresponsabilidades, as inunda��es frequentes, as quedas de barreiras, os desabrigados de chuvas e, numa macabra escalada de perigos, os rompimentos de barragens e as mortes decorrentes.

“At� o pr�ximo ver�o!” poderia ser a chamada geral de nossa inconsequ�ncia recorrente. Com met�dica pontualidade, a cada esta��o de chuvas voltamos a ter pela m�dia a vergonhosa narrativa de eventos clim�ticos com v�timas, quase sempre punindo a camada mais sofrida da popula��o, a mesma que confia nas mudan�as que os pr�ximos governantes far�o. Risco nosso. A atitude de puro comodismo e indiferen�a perante riscos, clim�ticos ou n�o, dos nossos gestores p�blicos – dos anteriores, dos atuais e dos pr�ximos – marca uma das piores qualidades da nossa cultura. A toler�ncia, qualidade positiva, se torna um v�cio de conformismo quando as pr�ximas v�timas somos n�s mesmos.
 
A toler�ncia excessiva nasce da admiss�o de inimputabilidade (desculpem o palavr�o) de riscos pelas autoridades, estas acostumadas a jamais ser questionadas, muito menos punidas, quase sempre escondidas atr�s de biombos da hierarquia estatal. No governo, as cat�strofes nunca t�m pai nem m�e. Em �ltimo caso, responder� algu�m passando por perto da cena do desastre. A apura��o de respons�veis ficar� para depois e os advogados dos implicados jogar�o com o esquecimento ou a multiplica��o de inst�ncias, valendo tamb�m a prescri��o por tempo decorrido sem julgamento. Nossas leis, t�o detalhistas quanto eunucas, at� compelem os gestores p�blicos a prevenir e antecipar fatos. Mas raramente o legislador escrever� na lei a puni��o aos que tomam riscos desnecess�rios em nome da comunidade. N�o sendo coercitiva, a lei brasileira est� mais para ser admirada do que praticada. Grave defeito da cultura nacional, o beletrismo � o cultivo da palavra bem-empregada, sonora e melodiosa, de nenhum efeito pr�tico na vida dos brasileiros.

H� exemplos de maus riscos tomados por autoridades dentro e fora do circuito do clima. Algu�m deve responder pela seguran�a dos reservat�rios, como o de Furnas, na pr�tica de esportes e turismo. Mas um pared�o precisa, primeiro, cair em cima da cabe�a de alguns sorteados pelo destino. N�o h� fatalidade; h� assun��o de riscos, sejam eles percebidos com facilidade ou n�o. No campo sanit�rio, tivemos exemplos recentes de maus riscos assumidos pelo pr�prio presidente em rela��o � pandemia da COVID-19. No campo fiscal, os riscos s�o assumidos pelo ministro da Economia, com suas proje��es teimosas sobre uma recupera��o econ�mica cada vez mais distante da realidade. O Congresso, em tese um agente fiscalizador do Executivo, faz-se de parceiro e s�cio da avalanche de gastos, seja para engordar as verbas partid�rias, seja para viabilizar emendas “secretas” – uma novidade equivalente a se permitir que uma companhia de saneamento seja autorizada a entupir os ralos e tubula��es da cidade.

No campo monet�rio, tamb�m ficamos esperando o �ltimo ver�o chegar enquanto o Banco Central assistia, passivamente, � forma��o da atual onda inflacion�ria sem mexer nos juros de 2% da Selic. At� a casa cair. Um ano depois, um constrangido presidente do BC teve que enviar, dias atr�s, uma carta oficial com explica��es pela perda do controle inflacion�rio. Estamos com infla��o no dobro do limite da meta. Mas quem avaliar� essa explica��o? Quem examinar�, de modo r�pido e eficiente, o conte�do das desculpas dadas? Nossa cultura acomodat�cia provavelmente responder�: “No pr�ximo ver�o veremos!”.

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