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Estado de Minas Paulo Rabello de Castro

Pel� e o ciclo da grandeza

Que a for�a espiritual de Pel� nos motive a resgatar a dignidade de um jogo bem jogado, capaz de devolver entusiasmo � galera do nosso Brasil


31/12/2022 04:00

Pelé posa com medalhas
Pel� posa com medalhas em foto de 22 de dezembro de 2010 (foto: Caio Leal/AFP)

�ltimo dia do ano. Tempo de reflex�o. E momento de consterna��o pelo apagar da maior estrela do firmamento esportivo brasileiro e mundial no s�culo 20. A passagem de Pel�, rei verdadeiro de uma gera��o inteira de f�s e admiradores, mundo afora, do futebol-arte e da dignidade-fora-de-campo, marca com precis�o de cron�metro o fim do ciclo da grandeza que o Brasil viveu ao longo de boa parte do s�culo passado, replicando os feitos da vida terrena de Pel�.

O rel�gio biogr�fico da majestade dos est�dios –  Edson Arantes –, nascido em 1940, marca tamb�m a explos�o do avan�o da na��o, quando o Brasil corria atr�s da sua proje��o urbana e industrial, arrojando-se na integra��o produtiva nacional, na gera��o de energia, na manufatura pesada, na educa��o de pessoas vocacionadas para o trabalho.

Todo esse desenvolvimento exuberante, do qual JK foi o astro maior na Pol�tica, tamb�m se convertia - pari passu - em grandeza nos campos de futebol, um esporte que tanto depende do talento superior de uns quantos indiv�duos marcados pela genialidade como, principalmente, da for�a coletiva de uma equipe (ou de uma popula��o) articulada e disposta ao sacrif�cio que for preciso para atingir metas e conquistar vit�rias in�ditas.

Parece coincid�ncia, mas a aposentadoria de Pel� como craque, ao pendurar as chuteiras ao fim dos anos 1970, tamb�m marca o in�cio da desist�ncia do Brasil, como corpo coletivo, de continuar batalhando por feitos extraordin�rios. Os resultados do crescimento nacional espelham tal decl�nio.

Em particular, a partir da “estabiliza��o” do plano Real, n�o temos feito mais do que marcar passo. Nesses longos 40 anos de decl�nio, o Brasil n�o conseguiu sequer acompanhar a m�dia do avan�o mundial (de 3,5% ao ano) pois capengou ao ritmo de magros 2% anuais, entre momentos um pouco melhores (Lula 2) e outros francamente p�ssimos (Dilma 2). No futebol, n�o foi diferente: o Brasil ainda se projetou duas vezes– 1994 e 2002 – com o tetra e o penta campeonatos mundiais, mesmo sem Pel�, mas ainda embalado pela mem�ria do ciclo da grandeza, hoje em franco ocaso.

O espantoso ciclo de conquistas brasileiras do s�culo 20 se encerra, agora, na prorroga��o deste 2022, sem hexa, sem Pel�, sem t�cnico e sem a m�nima pista do que poder�amos querer ser, no futuro pr�ximo, ou realizar com arte e integridade, como Sele��o de futebol e como Na��o. A recente escala��o ministerial, com um caminh�o de 37 convocados por Lula para jogar no primeiro escal�o do futuro governo peca por excesso de quantidade e buracos de qualidade, com goleiros escalados como volantes, atacantes escolhidos pela tinta do cabelo e uma garra medida em fun��o do cach� da propaganda na TV.

A diferen�a em rela��o � atitude que sempre pautou a vida de Pel� e seus companheiros � abissal. N�o podemos, portanto, esperar por resultados iguais aos deles se, hoje, os sentimentos que animam nossas lideran�as s�o t�o diferentes. As homenagens, entre simp�ticas e saudosas, nas mat�rias televisas, lembrando Pel� e seu tempo, bem como o registro que o mundo ainda tem do Brasil em fun��o do seu aclamado rei, deixam claro o vazio de perspectivas para o pa�s, quando avaliado como uma equipe tentando jogar para o conjunto, para alcan�ar um grande resultado. N�o h� conjunto; muito menos resultados.

O pa�s segue dividido e inconformado com o placar pol�tico. O time apontado como vencedor quer levar a bola pra casa. Bras�lia, em festa micareta, sagrar� amanh� um novo monarca, mas o esp�rito popular ainda perambula, como �rf�o, em busca de exemplos a seguir e hist�ria para inspirar um ponto de virada nesse cabisbaixo fim de ciclo.

Pel� partiu. N�s seguiremos partidos, embora n�o vencidos, pois nossa hist�ria tem prosseguimento. Que a for�a espiritual de Pel�, com sua hist�ria de gols de placa, nos motive a resgatar a dignidade de um jogo bem jogado, capaz de devolver entusiasmo � galera do nosso Brasil. Que venha o 2023.

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