
Poucas pessoas, muitos economistas entre elas, se deram conta de que o Brasil se despediu de 2019 registrando um recorde em nosso sofrido mercado de trabalho. Nunca antes na hist�ria deste pa�s havia tantos brasileiros trabalhando como no trimestre encerrado em dezembro: 93,39 milh�es. Com esse resultado, apontado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad) Cont�nua do IBGE, divulgada na semana passada, o �ndice de desemprego ficou em 11%, o patamar mais baixo dos �ltimos tr�s anos.
Os dados do quarto trimestre revelam ainda a cria��o no setor privado de 593 mil empregos com carteira assinada, modalidade que j� come�a a crescer mais depressa do que a das vagas abertas na informalidade. De fato, o aumento dos empregos formais foi de 1,8% em rela��o ao trimestre julho/setembro, melhor desempenho para esse per�odo em toda a s�rie hist�rica da Pnad Cont�nua, iniciada em 2012.
Mas n�o h� como fugir � realidade do estrago causado pela brutal recess�o de 2015/2016 e pela lentid�o da retomada do crescimento da economia nos tr�s anos seguintes. Dados da mesma Pnad Cont�nua fornecem motivos de sobra para que a sociedade permane�a vigilante quanto � irresponsabilidade dos governos que levaram o pa�s a essa situa��o.
As consequ�ncias de haver perdido cerca de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) em apenas dois anos s�o, como se percebe ainda hoje, muito mais nefastas do que pensavam os autores do desequil�brio fiscal, do descontrole da infla��o e de desastradas interfer�ncias no funcionamento dos mercados.
A import�ncia da Pnad Cont�nua do IBGE est� no fato de que ela mede, com razo�vel precis�o, o quanto as fam�lias das classes m�dia e baixa da popula��o brasileira pagam pelos erros das pol�ticas econ�micas. O desemprego � um dos pre�os mais altos da recess�o econ�mica e tende a se transformar em uma chaga social dif�cil de curar. Se for ampla e duradoura, como no caso brasileiro, a perda dos empregos traz efeitos colaterais.
Um desses efeitos � o subemprego, o brasileir�ssimo bico, que pode aliviar o bolso, mas n�o tem futuro e ainda acabar� pesando nas contas da Previd�ncia Social. �, geralmente, resultado da falta de intensidade da atividade econ�mica, que n�o consegue pagar o custo social do trabalho. No Brasil, esse problema n�o � pequeno: daqueles mais de 93,39 milh�es de pessoas trabalhando no fim de 2019, 41%, ou seja, 38,6 milh�es, estavam na informalidade.
CHAGA SOCIAL
O desalento daqueles que param de procurar emprego por perder a esperan�a de conseguir uma vaga � outro efeito da recess�o prolongada. Provoca danos � sa�de e a baixa da autoestima nas v�timas. Assim que as coisas melhoram na economia, esse contingente acaba engordando a estat�stica do desemprego, j� que boa parte volta para a fila dos que buscam coloca��o no mercado de trabalho.
Portanto, se os dados do IBGE confirmam o aumento do n�mero de postos de trabalho, inclusive os de carteira assinada, tamb�m deixam claro o tamanho da heran�a maldita deixada pelos desatinos governamentais dos anos anteriores. Entre dezembro de 2018 e dezembro de 2019, houve uma redu��o de 520 mil no n�mero de pessoas desempregadas, ou seja, uma queda de 4,3%. Mas ainda restavam 11,6 milh�es de brasileiros procurando emprego.
Por qualquer �ngulo que se encare essa realidade, n�o � poss�vel desprez�-la. Pelo contr�rio, deve ser mantida a prioridade de buscar a acelera��o do crescimento econ�mico do pa�s e, assim, promover a cria��o de empregos formais duradouros, ainda que sob modalidades n�o tradicionais, como parecem indicar a automa��o industrial e a moderniza��o dos servi�os.
� nessa perspectiva que se questiona se o bom desempenho do �ltimo trimestre de 2019 ser� mantido ou mesmo ampliado em 2020. A maioria dos indicadores tem resposta positiva. � normal, ali�s, come�ar um novo ano sob o impulso dos �ltimos dois ou tr�s meses do ano anterior.
PIB CRESCENDO
Ainda n�o se conhecem os n�meros oficiais do desempenho do PIB de 2019, mas a m�dia das expectativas geralmente aceitas indica um crescimento de at� 1,4%. J� para 2020, as proje��es chegam a dobrar essa taxa de expans�o da economia brasileira. Ent�o, se vamos crescer este ano o dobro do ano passado, quer dizer que criaremos o dobro de empregos em 2020?
Na verdade, essa propor��o nem sempre � autom�tica. � bom lembrar que seria muito mais f�cil lidar com a economia se ela fosse uma ci�ncia exata, mas ela n�o �. A economia trabalha com tend�ncias que podem ou n�o se confirmar. Certo � que sem crescimento n�o h� emprego. Os empres�rios da ind�stria e da agricultura projetam avan�os do PIB entre 2,4% e 3% em 2020, enquanto os do setor terci�rio (com�rcio e servi�os) esperam expans�o acima de 3%.
Tamb�m � claro que, sem a certeza de que o governo e o Congresso v�o continuar levando a s�rio o ajuste fiscal e a agenda de reformas estruturais, n�o h� confian�a na economia e, muito menos, na pol�tica. A esta altura, a sociedade j� sabe o que quer e, principalmente, o que n�o quer.
