
O agroneg�cio, o mais moderno e eficiente dos setores produtivos brasileiros, acaba de demonstrar que � tamb�m o mais �gil em seus avan�os no com�rcio internacional. Na semana passada, Brasil e Argentina deram os primeiros passos de uma nova etapa em suas rela��es comerciais no campo da agropecu�ria.
Depois de uma reuni�o bilateral realizada em Bras�lia, representantes do Servi�o Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa) firmaram com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, um in�dito entendimento destinado a intensificar e a diversificar o com�rcio entre os dois pa�ses. Para come�ar, o Brasil poder� fornecer s�men su�no e carne de r� aos argentinos. Em troca, os argentinos v�o concorrer no mercado brasileiro de reprodutores bovinos. Outros neg�cios vir�o.
O mais importante � que esse acordo n�o � um fato isolado. Na verdade, novos ventos sopram a favor das rela��es entre os dois maiores membros do Mercosul. Depois de estranhamentos de car�ter pol�tico entre o presidente Jair Bolsonaro (de direita) e o rec�m-empossado presidente argentino Alberto Fern�ndez (peronista), a reaproxima��o entre os dois l�deres tornou-se inevit�vel.
Terceira maior economia da Am�rica Latina (depois do Brasil e do M�xico) a Argentina ocupa o terceiro lugar no ranking do destino das exporta��es brasileiras, disputando com os Estados Unidos o posto de principal importador de nossos produtos manufaturados.
Autom�veis, avi�es, produtos sider�rgicos, cal�ados e a��car refinado encabe�am a lista de manufaturados, enquanto soja, petr�leo e min�rio de ferro comp�em a exporta��o de prim�rios. A crise econ�mica da Argentina, agravada a partir de 2018, tem contribu�do para a lentid�o da retomada do crescimento do nosso parque industrial.
De fato, as vendas externas de muitas ind�strias brasileiras ca�ram entre 20% e 30% nos �ltimos tr�s anos, por causa da retra��o dos neg�cios com a Argentina. Por n�o alcan�ar n�veis de competitividade para buscar com sucesso mercados alternativos aos da Am�rica Latina, a ind�stria brasileira reflete a crise argentina, registrando fraco desempenho.
ESTRAGO POPULISTA
�, portanto, evidente que interessa ao Brasil, particularmente, � ind�stria nacional, que a Argentina se recupere de suas crises, volte a crescer e a importar manufaturas brasileiras. N�o vai ser f�cil. O estrago feito no pa�s vizinho por desastradas administra��es levou a economia local a uma situa��o ainda mais grave do que a do Brasil na d�cada passada.
Foram mais de 20 anos de populismo alimentado por gastos p�blicos e endividamento do governo, al�m de medidas equivocadas que sufocaram o setor privado: tabelamentos de pre�os, aumento descabido de sal�rios e taxa��o de exporta��es. Para piorar, a Argentina se endividou em moedas fortes, tornando mais dif�cil a sua recupera��o.
No fim de 2001, o governo n�o tinha mais como honrar seus compromissos e decretou a maior morat�ria da hist�ria do mercado internacional: US$ 100 bilh�es. A Argentina passou � condi��o de p�ria do mundo financeiro, tendo dificuldade de acesso ao cr�dito e sofrendo o ataque dos chamados fundos abutres, que pressionavam para resgatar seus t�tulos a qualquer pre�o.
Em 2015, com a elei��o de um governo sem liga��o com os autores da quebradeira, a Argentina reviveu a expectativa de que voltaria � prosperidade que tinha marcado seu passado, quando teve renda per capita de Primeiro Mundo. Durou pouco. A tibieza do governo impediu que medidas de austeridade tivessem a profundidade e a dura��o necess�rias.
O pa�s apelou ao Fundo Monet�rio Internacional (FMI), que lhe concedeu um financiamento de US$ 50 bilh�es em troca de um programa de austeridade. No ano passado, os peronistas voltaram ao poder com a elei��o de Fern�ndez, que, por sua vez, assustou os credores ao anunciar que evitaria medidas de austeridade.
INFLA��O DE 53,8%
O an�ncio elevou a infla��o anual para 53,8% e desvalorizou a moeda em rela��o ao d�lar, enquanto o PIB recuava 2,5%. Ou seja, se j� estava dif�cil pagar a d�vida externa do pa�s, a conjuntura cambial s� agravou a situa��o. Mas o novo governo parece ter percebido a tempo que, em vez de confronto com os credores, o mais sensato seria aceitar a austeridade e renegociar o prazo e o custo da d�vida com o FMI.
Para isso, ser� importante o apoio do Brasil, pa�s bem-visto pelo Fundo, por estar fazendo seus deveres de casa no plano fiscal. O presidente Bolsonaro j� se declarou favor�vel e deve ter um encontro com Fern�ndez em mar�o. Os chanceleres dos dois pa�ses j� se reuniram em Bras�lia e tudo parece caminhar bem.
Para o Brasil, � urgente recuperar a Argentina. Para os dois, � melhor negociarem juntos os avan�os em rela��o ao acordo do Mercosul com a Uni�o Europeia. H� muita coisa em jogo para se permitir que a rivalidade entre a Argentina e o Brasil v� al�m do futebol. Essa, ali�s, n�o tem cura mesmo.