Com as empresas baratas, a B3 vem recebendo uma enxurrada de aplica��es feitas por investidores estrangeiros (foto: Miguel Schincariol/AFP - 29/10/18)
Quando os operadores do mercado financeiro encerraram o expediente da �ltima sexta-feira, 25 de mar�o, os computadores dos bancos, corretoras e at� os da B3 (a bolsa de valores do Brasil) mostravam o que ningu�m imaginava. O d�lar comercial fechou em impens�veis R$ 4,70, elevando a queda acumulada na semana para 5,37%. At� aquele dia, a desvaloriza��o da moeda americana frente ao real, que vinha ocorrendo discretamente desde janeiro, acumulou queda de 14,86%.
Na contram�o do c�mbio, o Ibovespa, principal �ndice que mede as oscila��es do mercado acion�rio brasileiro, mesmo fechando a sexta-feira com alta apenas simb�lica de 0,02%, acumulou eleva��o de 3,27% durante a semana. Depois de oito preg�es em alta, ontem, enquanto esta coluna estava sendo preparada, a bolsa e o c�mbio pareciam cumprir a tradi��o de fazer alguns ajustes. Eram esperadas pequenas quedas em ambos, embora a valoriza��o do real frente ao d�lar oferecesse mais resist�ncia.
Como isso p�de acontecer em meio a uma guerra que, nas �ltimas semanas, vem afetando o mercado financeiro internacional, a produ��o das ind�strias e o fluxo de com�rcio mundial? E, pior ainda, quando o mundo ainda n�o superou os efeitos negativos da crise sanit�ria que gerou escassez de insumos e provocou uma corrida de pre�os generalizada?
No Brasil, n�o tem sido diferente. A valoriza��o de um bom n�mero de empresas no mercado de a��es tamb�m vem ocorrendo em momento de press�o inflacion�ria, o que, normalmente, desaconselharia a aplica��o nesse mercado. Na semana passada, a divulga��o do �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de mar�o, que ficou em 0,95%, teve impacto muito menor que se esperava e n�o ser� surpresa se o mesmo ocorrer na semana que vem, com a divulga��o do IPCA do m�s inteiro.
Soa paradoxal a queda do d�lar e a alta da bolsa brasileira em momento de tens�o internacional e de alta da infla��o dom�stica. Mas � preciso lembrar que as rea��es da economia, por ela n�o ser uma ci�ncia exata, n�o se limitam a fatos isolados. Eles t�m de ser analisados em um contexto mais amplo de causas e consequ�ncias. Por exemplo, a guerra R�ssia/Ucr�nia reduziu a oferta de gr�os e de petr�leo bruto. Essas commodities ficaram mais caras e isso trouxe perdas para quem compra e ganhos para quem vende.
Ou seja, por ser o Brasil grande exportador de commodities, a alta das cota��es puxadas pela escassez da oferta global tem pesado favoravelmente na balan�a comercial do pa�s. Estamos apenas no primeiro trimestre, mas n�o h� mais d�vida de que o super�vit comercial de 2021, de US$ 61,4 bilh�es, ser� batido com folga este ano. As consequ�ncias da guerra n�o s�o iguais para todos os pa�ses. Para a economia brasileira houve um lado bom.
COMMODITIES
� o que explica o interesse nas a��es das empresas exportadoras de commodities do Brasil, al�m do fato de elas ainda estarem relativamente baratas. A B3 vem recebendo uma enxurrada de aplica��es feitas por investidores estrangeiros. A bolsa n�o est� sozinha. Pap�is de renda fixa, p�blicos e privados, tamb�m est�o na mira do investidor estrangeiro, tudo por causa da diferen�a entre nossas taxas de juros – muito aumentadas para combater a infla��o – e as praticadas nos pa�ses de moeda forte. Resultado: mais uma inunda��o de d�lares no Brasil.
Todo mundo sabe do car�ter especulativo da maior parte dessas aplica��es estrangeiras no pa�s. Vieram aproveitar o baixo custo de carregamento proporcionado pela taxa Selic de 11,75% ao ano, uma das mais altas do mundo.
E mesmo que a autoridade monet�ria dos Estados Unidos acorde para a necessidade de combater a infla��o com taxas de juros menos t�midas, a diferen�a em rela��o � nossa Selic deve perdurar por mais alguns meses. L�, agentes do mercado financeiro pressionam para que o Federal Reserve (o banco central dos EUA) continue apertando a pol�tica monet�ria em maio e junho, com aumentos de 50 pontos-base.
CONFIAN�A
Ningu�m espera que esse quadro dure muito, at� porque, em condi��es normais, juros altos n�o estimulam o desenvolvimento econ�mico. A prop�sito, vale acrescentar um dado animador: o investimento estrangeiro n�o especulativo tamb�m est� crescendo. Em janeiro, o chamado Investimento Direto no Pa�s (IDP) somou US$ 4,70 bilh�es, superando em 35,5% os US$ 3,47 bilh�es de igual m�s de 2021. Em fevereiro, as entradas nessa conta, a serem divulgadas pelo Banco Central, vinham ocorrendo em volume ainda maior.
Tudo isso comprova que a percep��o de quem decide em alto n�vel sobre neg�cios envolvendo bilh�es em qualquer moeda passa longe das narrativas locais de cunho eleitoral. Fala mais alto a identifica��o de boas oportunidades em um pa�s que tem cumprido seus contratos e em que o governo e a maioria da sociedade n�o hostilizam o capital.
Hoje, o Brasil poderia estar recebendo ainda mais capitais estrangeiros se n�o tivesse perdido, no governo Dilma Rousseff, o grau de investimento das ag�ncias internacionais de risco de cr�dito. Ainda assim, nesta hora conturbada pela guerra, o dinheiro – que n�o costuma aceitar desaforos – d� a nosso pa�s uma inequ�voca demonstra��o de confian�a. Vamos continuar fazendo por merec�-la?