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Estado de Minas M�DIA E PODER

Bolsonaro se divide entre sertanejos e pol�cia, infla��o e mulheres

Como Lula, ele defende os nichos de sua base fiel, mas precisa ampliar seu horizonte para os setores mais amplos em que � mal avaliado, como pobres e mulheres


02/06/2022 10:05 - atualizado 02/06/2022 11:58

Bolsonaro de roupa preta e semblante sério
(foto: Felipe Araujo/AFP )
N�o � f�cil a vida de Jair Bolsonaro. Meio travado nas pesquisas e um tanto assustado com a dist�ncia detectada em rela��o a Lula na ï¿½ltima Datafolha, de 27% contra 48%, ele anda apelando a seu nicho e fora dele, com vistas, como sempre, � elei��o.

Na �ltima semana, teve oportunidade de sair em defesa dos sertanejos e da pol�cia, duas for�as indiscut�veis de sua base eleitoral, envolvidas em dois epis�dios escandalosos: o de tortura e assassinato por g�s por membros da PRF de Sergipe e o de cantores patrocinados por dinheiro p�blico de prefeituras e de emendas secretas do Congresso.

Ao mesmo tempo, no moto cont�nuo de campanha permanente, teve que continuar a sua luta mais ou menos ingl�ria para reduzir o pre�o dos combust�veis e se exibir com sua mulher em eventos e entre mulheres, como na grava��o de seus primeiros programas de TV, na periferia de Bras�lia.

Nos dois casos, arranjar um jeito de sinalizar que se preocupa com a infla��o que atinge os mais pobres e ao mesmo tempo que n�o � um macho alfa que respeita mais motocicletas que mulheres, duas das maiores fragilidades de sua imagem, segundo a mesma pesquisa.

Al�m de ganhar no primeiro turno se a elei��o fosse s� entre mulheres, Lula ganha na maioria dos estados do norte e nordeste e empata ou perde nos estados do sul e do centro-oeste, onde est� a maior parte do eleitorado de Bolsonaro: mais rico, mais branco, mais escolarizado, mais homem.

Ao se mexer para trocar presidentes da Petrobras, acusar os governadores de n�o reduzir o ICMS dos combust�veis e anunciar f�rmulas de tirar o controle da estatal sobre o �lcool e sobre dutos, ele pode n�o conseguir reduzir a infla��o, mas sinaliza para os pobres que est� tentando e que a culpa dos outros.

Ao mostrar que a esposa pode ter maior protagonismo al�m do quarto, sala e cozinha, tenta algum sinal para a mulherada de classe m�dia que o acha um brucutu e tamb�m para as donas de casa, n�o por acaso asfixiadas pelos pre�os do g�s e das g�ndolas do supermercado.

Tudo indica que, por algum m�rito dele e mais da conjuntura internacional, j� conseguiu passar a impress�o de que nada tem a ver com a alta dos pre�os. O efeito com as mulheres ainda vai depender de muitas vari�veis da campanha, inclusive das rixas nas disputas regionais, onde o sexo acaba sendo menos determinante.

O desafio � conseguir at� as v�speras da elei��o afastar o saudosismo da sensa��o de bonan�a da era Lula e, mais dif�cil, consolidar Michele como prot�tipo da nova mulher, independente e batalhadora, que n�o combina com a ideia de penduricalho do marido.

Trabalhar com os nichos pr�prios em que se agarra nas horas de aperto, sertanejos e pol�cias, empres�rios e s�cios de clubes de tiro, � mais f�cil, mais consolidado e onde se sente mais � vontade. E os defende de peito aberto, mesmo correndo o risco de perder algum apoio entre os mais esclarecidos.

� um pre�o que parece valer � pena pagar, porque tem consolidado a base fiel em torno dos 20 e poucos por cento nas pesquisas, que lhe d� f�lego na alegria e na tristeza, na riqueza e na mis�ria, na sua disputa com Lula.

Que, n�o por acaso, tamb�m faz o mesmo. Est� sempre apimentando seus discursos com m�sica para os ouvidos de seus sindicalistas e radicais de estima��o, contra as reformas e as elites ("banqueiro nunca me perguntou se o pobre passa fome"), apesar dos sustos que passa na classe m�dia para cima.

O pr�prio Arthur Lira, o presidente da C�mara que manda no pa�s, se d� bem com os dois e estar� com qualquer deles no pr�ximo governo, chegou a dizer que eles sempre perdem voto nas pesquisas quando falam a seus nichos. 

Apesar disso tudo, a terra se move. Eles s�o macacos velhos, mais experimentados que n�s todos para calcular o risco. Precisam sinalizar para al�m do ombro, mas n�o podem esquecer de quem est� debaixo do sovaco.

Ent�o, aguardem que Bolsonaro e Lula continuar�o a defender os seus. Por mais horrorizados que continuemos a ficar com policiais que matam, sertanejos que superfaturam, sindicalistas que querem seu imposto sindical, fazer greves ou invadir propriedades.

Paran� versus Datafolha

Depois da margem quase disparatada de 21% de diferen�a de Lula para Bolsonaro (48% a 27%) no Datafolha, a pesquisa do instituto Paran� divulgada nesta quarta-feira surpreendeu com um quase empate t�cnico na estimulada, de 41,4% a 35,3%, e j� empate na espont�nea (28,3% a 27,3%).

Houve, como no instituto paulista, ligeiro avan�o de Lula em rela��o � �ltima, quando tinha 40% das indica��es. Mas, fora isso, ainda n�o vi informa��o consistente que explique a diferen�a entre as duas. A margem de erro de ambas � a mesma, 2%, em amostras pr�ximas, respectivamente de 2.556 em 181 cidades e 2020 em 164. Ambas presenciais.

Dei amplo espa�o � da Datafolha, neste artigo, porque tenho motivos para acreditar nela desde que comecei a acompanh�-la, h� quase 40 anos, em meados dos anos 80. Ainda n�o tenho, digamos, uma an�lise hist�rica do Paran�, criado em 2013.

Diante dessa disparidade, confirmo que elas s� sinalizam um estado de �nimo de determinado momento, que muda, concordo com os pol�ticos que n�o as levam a s�rio e tendo a dar toda raz�o aos que dizem que elas n�o s�o confi�veis. S�o mais espertas que confi�veis.

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