
No caso dele, usou toda a genialidade autodidata em neuroci�ncia e sua virada ap�s uma separa��o tr�gica ap�s 30 anos para empacotar um curso muito eficiente de como sobreviver feliz depois do casamento.
O b�sico desse tipo de compet�ncia para convencer o primeiro separado desesperado e escalar fortuna em milhares ou milh�es de outros � explorar a dor mais funda dele, onde o calo lhe aperta.
� quase infal�vel fazer esse cliente potencial (avatar, segundo a nomenclatura do meio) apertar o bot�o de compra se o discurso de venda (carta) iluminar seu inc�modo profundo e uma sa�da de que ele mal desconfiava.
Que pode ser qualquer uma, mesmo prec�ria, que acender� qualquer luz de esperan�a para quem j� est� no fundo do po�o. No caso da separa��o, por exemplo, para ficar numa s� dor, o medo de perder o contato com os filhos.
Fizemos muitos planos de como me tornar um vendedor de curso de minhas prec�rias experi�ncias a partir de meus fracassos como jornalista, escritor ou marqueteiro pol�tico, mas acordo na segunda-feira pensando em Jair Bolsonaro.
N�o porque tenho interesse de perder tempo na impossibilidade de vender qualquer curso para ele. Mas porque sou obrigado a come�ar a semana pensando no que escrever para preencher essa coluna de voca��o pol�tica, mais parecida com um casamento a cada segunda mais dif�cil de levar.
Qualquer hora dessas, junto minhas malas e me separo da coluna, da pol�tica e de Bolsonaro. Mas, por enquanto, que ele me sirva de exerc�cio de elabora��o de uma boa carta de vendas, partindo de suas dores mais fundas.
Que s�o muitas, a julgar pelo discurso de lan�amento de sua candidatura no domingo — enquanto eu ouvia no��es de funil de vendas entre cerveja e lingui�a frita —, que ilumina alguns de seus desesperos nem t�o fundos de tanto que j� transbordam � flor da pele.
Elenquei as tr�s fundamentais, que se conectam e se complementam, como causa e reflexo:
N�o conseguir a tempo o coeficiente necess�rio de votos de mulheres e pobres, principal barreira do eleitorado para vislumbrar alguma possibilidade de, pelo menos, empatar com Lula na reta final da campanha.
N�o ter como afastar, neste ponto decisivo da campanha, os filhos e o fantasma das den�ncias de corrup��o de suas “rachadinhas”, que podem lhe tirar a autoridade para acusar corrup��o em Lula.
N�o ser eleito pelas duas primeiras e ser preso, sem direito a receber visita dos filhos. Ou de alguns deles, tamb�m presos.
N�o percebo que tema ser envolvido nas den�ncias de corrup��o no governo, que toma como casos isolados e incompar�veis �s que envolvem Lula, uma falsa simetria.
Tamb�m n�o d� sinais de que perca sono com a hip�tese de n�o ter o apoio das For�as Armadas para suas tenta��es de golpe. N�o precisa delas para manter o clima. A partir de 7 de setembro, sua base fan�tica faz o servi�o.
Ele quer mais o clima do que o golpe em si. � na confus�o em torno dele que vai montar sua carreira e sua igreja pol�tica p�s-elei��o, eleito ou n�o eleito, como Donald Trump.
Ser preso ou responder �s dezenas, talvez centenas, de processos — e ainda com filhos no meio — � daquelas dores de cabe�a t�picas de div�rcio que o casal adia o quanto pode, mesmo �s custas de manter um casamento falido.
Ameniza a ele o calv�rio saber que Lula tamb�m tem suas dores, que eu tamb�m exploraria se lhe fosse oferecer um m�dulo de palestras de como arranjar um novo casamento com a parte do eleitorado que o detesta.
Para ficar tamb�m em tr�s:
A alta carga das den�ncias de corrup��o descobertas pela Lava Jato, que aflorar�o como avalanche nas redes sociais bolsonaristas, sem que o presidente pai dos filhos enrolados precise se envolver na lembran�a delas.
Seu casamento com faixas do eleitorado progressista que defendem uma virada de costumes que ainda caem mal na maioria conservadora, como aborto, libera��o de drogas, amplia��o dos conceitos e direitos de g�nero.
Seu namoro com regimes que v�m demonstrando desastres n�o em democracia, mas em economia, como a Venezuela ou, no caso mais recente, a Argentina. As derrapadas do Chile sob comando socialista tamb�m podem ser um problema.
No p� em que a campanha anda, presumo como fact�vel a previs�o de Bolsonaro e seu entorno de chegar �s v�speras da elei��o num empate t�cnico, no aperto polarizado que tem marcado todas as elei��es desde a redemocratiza��o.
O franco favoritismo de Lula hoje n�o resiste f�cil a alguns fatos que conspiram a favor de Bolsonaro at� l�: a queda de pre�os emblem�ticos da economia, como combust�veis, e o pagamento dos novos benef�cios da PEC kamikaze das bondades, seus feitos na propaganda eleitoral.
Lula s� tem a pros�dia contra o despreparo e tudo o quanto � trope�o do presidente que p�s o pa�s em crise di�ria. O que Bolsonaro tamb�m tem, al�m do proselitismo da pauta de costumes ruim para o petista.
Ser� de qualquer forma uma guerra de chegada com ambos os lados com fortes argumentos contra o outro. Com arsenais poderosos para tentar provar o quanto o outro pode ser pior.
Como j� sabemos, ser� a disputa do ruim contra o p�ssimo, dependendo do ponto de vista, a op��o de votar no capeta para evitar o dem�nio, a escolha dif�cil de descobrir com qual dos dois estaremos menos mal servidos.
Como nas piores separa��es, em que se lava toda a roupa suja em p�blico, para a qual n�o parece haver curso a vista no YouTube que amenize.
Para n�o dizer que n�o falei de flores e de salvas de arroz na sa�da do altar das urnas, devo dizer que minha impress�o dos candidatos com base em suas hist�rias pregressas n�o � a mesma de suas possibilidades de governo.
Por infinitas raz�es que mereceria outro artigo, acho sinceramente que n�o ser� o fim do mundo se qualquer dos dois for eleito. Nenhum dos dois ser� pior do que foram.
Passaram ambos por experi�ncias dolorosas como um casamento de 30 anos, conhecem a dor da separa��o que representa uma elei��o dif�cil e s�o capazes de dar curso de como dar a volta por cima.
Ainda n�o vai ser o caso de abrir um processo de separa��o do pa�s, que anima muita gente que conhe�o.
Artigos anteriores da coluna no meu site.