
1 - O da menina de 10 anos em Santa Catarina engravidada, como veio a se saber, por um amiguinho de 13.
2 - O da baixaria de dois colunistas de fofoca contra a atriz Klara Castanho, por ter doado o filho produto de um estupro.
3 - O das den�ncias de ass�dio moral e sexual contra o presidente da Caixa Econ�mica Federal, Pedro Guimar�es.
Como sempre em pol�micas de prato cheio para os afazeres de articulistas, influencers e propagadores de fofocas rudimentares, repetiam o mesmo ritual de crise que dura 24 horas e parece, enquanto sobrevive na espuma do notici�rio, quest�o fundamental de vida ou morte para o pa�s.
Tamb�m como sempre, arrasta nelas os candidatos a presidente, por a��o, omiss�o e instinto natural de vingan�a de suas tribos. Lula e Bolsonaro acabam tendo que se envolver ou se explicar porque t�m posi��es conhecidas e antag�nicas a respeito dos direitos da mulher.
Bolsonaro mais do que Lula, porque tamb�m provoca, navegando no que entende como o calcanhar de Aquiles do seu advers�rio: a defesa do aborto, ainda que com reservas. Sabendo do perigo do tema, como Dilma Rousseff em 2010, o petista j� fez quest�o de dizer que, pessoalmente, � contra.
Bolsonaro tamb�m apanha mais, porque n�o tem pudor de colocar a cara a tapa para defender posi��es sens�veis ao grosso da sociedade, em linguagem dura. Aborto seria um assassinato defendido pela esquerda identit�ria afinada com Lula.
E tamb�m porque � o avesso do avesso do avesso do que pensa a grande m�dia liberal e progressista, com o perd�o da redund�ncia, feita por homens e mulheres envolvidos na luta das mulheres, em defesa dos valores universais da liberdade individual e dos direitos humanos.
� curioso, contradit�rio e estimulante intelectualmente. Como que essa massa cr�tica e influente que se julga porta voz da sociedade pensa diferente dela e combata o candidato que, no caso do aborto sobretudo, a representa?
H� pesquisas recentes que d�o mais de 80% da popula��o contra. Em pelo menos uma fresquinha da plataforma de pesquisas Pulso, de O Globo, divulgada ontem, s�o 73% contr�rios. S� 16% s�o a favor da legaliza��o, um �ndice que se mant�m desde 2018.
Acontece a mesma coisa na quest�o delicada e urgente da seguran�a, da educa��o e da libera��o das drogas, em que Bolsonaro defende os mesmos valores da maioria que a massa liberal progressista nas reda��es condena.
Para 70%, � preciso reduzir a maioridade penal para prender adolescentes infratores. Outros 59% concordam que "bandido bom � bandido morto" e metade dos homens (49%) a pena de morte. S�o 67% a favor da militariza��o das escolas e 84% que elas devem ensinar a crian�a a rezar e acreditar em Deus. S�o 67% contra a legaliza��o das drogas.
Outros de seus valores j� n�o emplacam e est�o mais ou menos equivocados. A maioria j� n�o concorda mais com ele sobre armas, casamento gay e ado��o de crian�as por casais do mesmo sexo.
Gira em torno da metade ou mais um pouco os favor�veis � uni�o de homossexuais (49%) e suas ado��es (56%), mas em crescimento desde 2018. S�o 59% que discordam de que armar a popula��o reduz a criminalidade.
Mas ainda assim, sendo ou n�o sincero e que suas pr�ticas possam ser contr�rias ao que prega, ele est� mais afinado que Lula com essa sociedade majoritariamente conservadora. Os que admitem ser de direita s�o o dobro dos que se acham de esquerda, no mesmo conjunto de pesquisas.
N�o � toa que, sempre que pode, ele tenta puxar a campanha para esse lado. E n�o menos verdade que o grande mito das esquerdas corre como o diabo da cruz para o outro, longe desses temas. E n�o s� porque perdeu o bonde das redes sociais onde essa banda toca.
Com o faro de sempre, percebeu desde a primeira hora da campanha que a luta pela renda � um terreno mais confort�vel, menos disperso e arriscado. N�o s� porque se sente mais seguro no terreno econ�mico que pisou como presidente, mas porque sabe dos perigos dessa pauta.
Entretanto, como ref�m dessa milit�ncia que pensa e prega o contr�rio da maioria, advertiu, tamb�m l� no in�cio, que "n�o podemos cair em provoca��o". Disse a seus fi�is fan�ticos, com perd�o da redund�ncia, que a luta por essas causas s�o relevantes, mas n�o agora.
� contradit�rio e frustrante para essa esquerda alocada nos movimentos LGBTQIA+, na universidade e no sindicalismo, com boa simpatia na grande imprensa, ter que ficar calada numa elei��o que aguardava como quem espera o carnaval para p�r o seu bloco na rua com todo tipo de discurso contra opress�o sexual, de g�nero ou de ra�a.
Essa milit�ncia, mundial e influente como seus amigos das reda��es, j� foi criticada por estar mais atenta �s sensa��es/puls�es sexuais que � prem�ncia de encher a barriga. Com o desprest�gio de Marx e da luta de classes, correu atr�s de minorias e acabou defendendo feudos e castas com interesses/desejos mais sensoriais que concretos.
Do faro para o instinto, Lula enquadrou todo mundo, a come�ar da velha guarda que influiu na elabora��o de seu programa de governo. Ela come�ou cedendo �s alas mais jovens do identitarismo e acabou pisando no terreno conhecido, como disse o velho Rui Falc�o:
— Nosso foco � defender a melhoria das condi��es de vida do povo, gera��o de empregos e renda, aumento do sal�rio m�nimo, combate � infla��o, mais recursos para sa�de, educa��o, cultura e redu��o das desigualdades.
Toda a panfletagem identit�ria acabou reduzida a um correto "combate a todo tipo de preconceito, de ra�a, g�nero, de orienta��o sexual”, na linha cl�ssica da velha luta pelos direitos civis que sobrepunha interesses gerais aos espec�ficos e de grupos.
Neste caso, Lula tem a mais a cara da sociedade que vota, que � diferente da que gasta energia com aborto, casamento gay e ass�dio sexual nos jornais e nas redes sociais.
As pesquisas vieram a mostrar que essa sociedade � conservadora em algumas coisas e vai ficando liberal em outras, mas que, no conjunto e como sempre, vota pela barriga. Indicam o quanto Bolsonaro perde entre as pessoas de at� dois sal�rios (56% a 22%, no Datafolha) e no nordeste (58% a 19%).
Como tamb�m sinalizam o quanto perdeu tempo com a pauta ideol�gica e descuidou do que se descobriu que derruba governos desde que inventaram as pesquisas eleitorais, a economia. A PEC kamikaze para reparar o estrago com as classes mais pobres, �s v�speras de elei��o, � a derradeira prova disso e de seu desespero.
Acordou enfim para a obviedade de que a maioria da sociedade � contra aborto, legaliza��o das drogas, prote��o de jovens infratores, mais ou menos casamento e gay e ado��es homoafetivas, mas que o ronco da barriga � infinitamente mais determinante na hora do voto.
Nessa linha, tamb�m pode n�o ser determinante sua alta rejei��o entre as mulheres, n�o pelos motivos que lhe atribuem. As eleitoras, na verdade, s�o as que cuidam da economia da casa e, historicamente, tamb�m votam em quem p�e mais comida dentro dela.
Lula tamb�m era mal visto pelas mulheres, antes de ser presidente e sinalizar uma agressividade inc�moda, anterior � barba bem aparada e aos ternos bem cortados. Mas a senhora que trabalha aqui em casa, que j� esteve nesse grupo e viveu os melhores anos de sua vida no seu governo, j� quis lhe levar um bolo na cadeia.
Ela fala em nome de todas as que tem mais o que fazer na vida do que ficar proselitando nas m�dias, grandes ou pequenas, tamb�m um tanto quanto perdidas.
O "Beab� da Pol�tica"
A s�rie Beab� da Pol�tica reuniu as principais d�vidas sobre elei��es em 22 v�deos e reportagens que respondem essas perguntas de forma direta e f�cil de entender. Uma demanda cada vez maior, principalmente entre o eleitorado brasileiro mais jovem. As reportagens est�o dispon�veis no site do Estado de Minas e no Portal Uai e os v�deos em nossos perfis no TikTok, Instagram, Kwai e YouTube.
