
No artigo em que se despediu de O Antagonista e pela segunda vez do jornalismo, Diogo Mainardi escreveu que iria passar o pr�ximo ano tirando no sof�, tirando meleca do nariz, numa vida tipo Simone Tebet: "estreita, tediosa, sup�rflua e sem brilho".
Ecoava certa impress�o de jornalistas, analistas e grande parte do p�blico diante do jeito meio an�dino que passava nas entrevistas, contaminada de certo modo pela sua inviabilidade nas pesquisas. Era uma candidata nanica, sem futuro, parte da paisagem desolada da terceira via.
Mas foi o contr�rio disso que apareceu no Jornal Nacional nesta sexta-feira. Foi de longe a mais aut�ntica dos quatro que compareceram � bancada do canh�o nacional, amplificada com o que faz grande diferen�a em campanha eleitoral: contund�ncia, experi�ncia e carisma.
N�o centrou em nenhuma ideia mirabolante ou apenas grandiosa, n�o apelou aos instintos primitivos do eleitorado em agress�es a seus concorrentes ou promessas milagreiras de acabar com a fome e as filas da sa�de em passe de m�gica.
Conteve-se em quest�es t�cnicas, como pr�-condi��o de mudan�as estruturais, estimando efeitos futuros e de m�dio prazo em leis em andamento, reformas e abordagem pol�tica. Em linha com o jeito de n�o vender terreno na lua, repisou que tem consultoria de grandes economistas liberais (deveria ter dito os nomes.)
Sem deixar de bater em quest�es pontuais a serem enfrentadas com urg�ncia, como o esc�ndalo do or�amento secreto, e empacotar tudo numa vis�o de m�e e professora, com alto foco em crian�as e adolescentes, de alta empatia.
- N�o vamos fazer um governo de coaliz�o ou de coopta��o, mas de concilia��o.
Pelo porte, pela simples presen�a, por momentos de emo��o genu�na e o jeito meio mulher mesmo de dizer o que � preciso sem agressividade, pode ter sido a que melhor se comunicou com a dona de casa esperando a novela (deveria ter dito o nome da vice, tamb�m mulher, a psicanalista Mara Gabrilli, do PSDB.)
Bem aparelhada tamb�m de orat�ria, fez o minuto das considera��es finais mais redondo da temporada. Diagn�stico da situa��o do pa�s, op��o contra o passado e o presente representados por Lula e Bolsonaro (n�o citou os nomes), deu seu curr�culo, enfatizou o papel de m�e e professora e ainda pediu voto.
Foi beneficiada pelo fato de, como Ciro Gomes, n�o ter telhado de vidro a ser apedrejado, fora alguns maus �ndices do governo do seu estado nas �reas de educa��o e viol�ncia, a que serviu como vice-governadora, e onde, entretanto, como bem lembrou, n�o tinha caneta.
E William Bonner e Renata Vasconcellos terem aprendido um pouco com a experi�ncia dos tr�s debates anteriores. Falaram menos (s� 8 minutos contra 10 perante Lula e Ciro, 16 com Bolsonaro), foram mais contidos, sem deixar de incisivos e contestadores em pontos chave.
Saiu muit�ssimo maior do que entrou, com estatura para ter papel no m�nimo relevante na campanha, algum peso nas negocia��es de segundo turno e futuro de candidata de peso em futuras elei��es.
Tanto que as poucas restri��es � sua candidatura, conhecidas no mundo pol�tico e bem apontadas pelos entrevistadores, n�o dependem dela. As dificuldades de ter aglutinado apoios dentro do pr�prio partido, conhecido por sua fisiologia e seu parasitismo hist�rico a candidatos mais bem colocados nas pesquisas.
Ela disse que seu MDB n�o � mais fisiol�gico, lembrou seu alinhamento com luminares respeit�veis da agremia��o e conseguiu sinalizar que n�o chegou onde est� � toa, sen�o por alguma boa capacidade de articula��o ou aglutina��o.
Como de fato. Prefeita bem avaliada e reeleita de Estrela do Sul, no Mato Grosso do Sul, ganhou proje��o para ser indicada e eleita vice-governadora e depois senadora por seu estado, de onde saltou para uma carreira nacional fulminante.
Mesmo marinheira de primeira viagem, comandou a poderosa Comiss�o de Constitui��o e Justi�a depois da especial de Viol�ncia Contra a Mulher. Quase foi eleita para a presid�ncia do Senado - tra�da � �ltima hora, n�o por acaso, por parte do pr�prio partido - e mostrou a que veio como membro da CPI da Pandemia.
Foi a �nica que restou do sonho da terceira via, mantendo a cabe�a acima do pesco�o num conglomerado de homens de v�rios partidos que foram se trucidando at� a v�spera das conven��es. � bem surpreendente que tenha sa�do candidata de quatro grandes partidos, de boa capilaridade: MDB, PSBD, Cidadania e Podemos.
Est� ent�o suficientemente aparelhada para se sair melhor nos pr�ximos embates e na propaganda eleitoral gratuita, onde tem o terceiro melhor tempo, com 2m20, depois de Lula e Bolsonaro, com 3m39 e 2m38.
Pelo exposto em noite muito favor�vel, conv�m que os dois se preocupem mais com ela do que com Ciro Gomes.
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