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Estado de Minas EM DIA COM A PSICAN�LISE

Um real que n�o se dobra


postado em 14/07/2019 04:00 / atualizado em 12/07/2019 13:04


Invariavelmente, as coisas que planejamos com tanto esmero nos mostram a for�a de resist�ncia do real. Explico: o real � duro. Ele n�o cede aos nossos planos nem um mil�metro sequer. Ele � implac�vel e imposs�vel de ser modificado pelas nossas vontades. Ele � o que �. Acontece, nos deixando at�nitos muitas vezes.

Sempre queremos controlar o real, mas n�o podemos mudar seu curso. Procuramos dar um jeitinho dali outro daqui, administrar o tempo, os fatos, para chegar mais pr�ximo do planejado. Temos uma pretens�o onipotente e insistimos ora numa atitude de teimosia ora de complac�ncia, abrindo m�o at� mesmo do que � obviamente o certo. Claro que alguma coisa da realidade transformamos com palavras, a��es e trabalho. Mas, at� certo ponto.

A vontade de sermos bacanas e queridos pelos outros nos conduz e nos encaminha para a �nsia de agradar, produzir harmonia e aplanar um tortuoso mundo. Tem como? N�o. Mas as pessoas n�o se conformam. Elas jogam montanhas de recursos, n�o s� financeiros como tamb�m afetivos, em uma produ��o para que tudo corra perfeitamente e nem mesmo essa montanha de investimentos pode fazer o real mudar seu curso.

O que tiver que furar, fura. E, �s vezes, at� o que n�o tinha de furar, fura tamb�m, na sucess�o de acasos e erros humanos. Como nada � perfeito, alguma coisa sempre pode dar errado. E dispara uma ansiedade e uma raiva muito forte, porque contraria o que determinamos na nossa cabe�a, nos nossos ideais.
Por exemplo, planejamos uma cerim�nia, uma palestra, um encontro, uma aula. Fazemos tudo da melhor maneira poss�vel. Mas o tr�nsito nos atrasa, um recurso t�cnico pifa e, assim, acasos inesperados nos obrigam a contornar as pedras do caminho e ser criativos e r�pidos nas solu��es.

O constante � a falta de garantia de que tudo correr� a nosso gosto. E a expectativa de que haver� falha gera ansiedade, porque sabemos disso. Nada � exato, s� a matem�tica. Somos dotados de afeto e o afeto nos afeta.

E se ningu�m vier? Se houve acidentes, e o desrespeito �s normas de hor�rios, as brigas (quantas vimos nos plen�rios?) e, apesar de saber como proceder, ainda assim falhamos em nos adequar, furando esquemas.
Nosso imagin�rio dispara quando estamos diante da falta de sentido e de controle. Se marcarmos um encontro com um namorado �s 19h, e ele n�o chega na hora, pensamos que o tr�nsito est� ruim. Uns minutos a mais, ser� que houve acidente? A pessoa bateu o carro, machucou? Foi pro hospital? E o tempo passa e ele n�o vem.

Ser� que se esqueceu? N�o se importa? � indiferente? Est� com outra (o)...? Mais 5 minutos, a inquieta��o cresce, criamos cenas insuport�veis. Quando a pessoa chega, descarregamos a raiva, nem sempre realista, mas prenhe de cria��es mirabolantes.

O hiato de tempo de espera dura uma vida. Muito barulho por nada. A raiva vem antes do entendimento, vem do imagin�rio recobrindo a falta de sentido. Isso n�o quer dizer que n�o ocorram desrespeitos e abandonos reais. H�, e contrariam. Mas n�o � f�cil lidar com nenhum tipo de frustra��o. Seja real ou imagin�ria, nos afeta igual.

Lidamos mal com a castra��o. Se f�ssemos preparados para o incerto, o incompleto, poder�amos ter maior toler�ncia. � preciso educar desde cedo. N�o ser atendido na hora, esperar. N�o tratar crian�as como majestades, nem as mimar demais.

Se tivermos humildade diante das feridas narc�sicas, das perdas e danos, dos preju�zos e surpresas que o real nos obriga a enfrentar, talvez sejamos melhores. Portanto, nunca seremos perfeitos. Melhor ser� aceitar erros e falhas e deixar rolar a vida sem tanto rigor.

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