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Estado de Minas Regina Teixeira da Costa

Se a morte � para todos, o desejo n�o

Desejo � condi��o que nos permite escolher, construir, deter demandas alheias. Escut�-lo � imprescind�vel


02/08/2020 09:20 - atualizado 02/08/2020 09:21

Nossa finitude est� no horizonte. A morte � para todos. E diante dela, ningu�m � exce��o. Ricos, pobres, �ndios, pretos e brancos, tanto faz, somos mortais. Nestes tempos tristes de pandemia, a morte est� escancarada. O cotidiano se tornou impregnado por ela. � terr�vel pensar que esteja t�o perto.

Mais pr�xima que nunca, ronda nossa fam�lia, nossos amigos e conhecidos. Est� na televis�o, nos jornais e nas conversas. Normalmente, evitamos pensar nela e continuamos vivendo, deixando a consci�ncia desta verdade esquecida.

Quem quer saber da morte quando se est� t�o vivo, na sa�de, tudo dando certo, jogando um bol�o? Quem quer pensar no futuro quando envelhecermos e precisarmos da ajuda de terceiros, bengalas, cadeiras no chuveiro? A gente sempre empurra para o lado aquilo que nos faz sofrer. Somos �timos negadores quando se trata de adiar, evitar sofrimentos.

Reclamamos da vida, ela � �rdua, mas n�o queremos perd�-la. Ela � boa, mesmo que sejamos obrigados a trabalhar muito e a lidar com problemas e aborrecimentos. � um processo em constante resolu��o. Na melhor das hip�teses, teremos muito trabalho para atravess�-la.

Todos vivemos momentos de des�nimo e certos problemas parecem sem solu��o. Nem sempre o final do t�nel est� � vista. Desistimos temporariamente. S� depois de uma noite bem-dormida recobramos nossas for�as e nos colocamos de novo a servi�o da vida.

O destino � incerto. N�o sabemos o que ser� o amanh�. As conting�ncias, coisas podem ou n�o acontecer, o inesperado nos surpreende. Quem n�o suporta as inconst�ncias da vida, costuma se abrigar no consolo do �lcool, das drogas. Os efeitos s�o sempre os mesmos, o efeito esperado sempre vem. E se repete sempre igual. � uma forma de controle do gozo constante, sempre oferecendo mais do mesmo. Como diz a m�sica, navegar � preciso, viver n�o.

Buscamos nos agarrar a certezas, e estabilizar a vida numa rotina, no entanto, continua incerta a escrita do futuro. Por isso, sofremos ansiedades e ang�stia existencial. N�o � para os fracos, exige coragem. Como seria bom se tiv�ssemos o controle do tempo, dos fatos, do que vir�.

Cada um de n�s � �nico e deve encontrar seu pr�prio jeito de lidar com o desamparo fundamental, que come�a quando nascemos e nos acompanha sempre. E hoje � refor�ado pela pandemia, pelo isolamento, pelo perigo que o outro representa como agente de contamina��o. � hora de se segurar.

Sendo o futuro incerto, n�o podemos cair vitimados pelo destino. Se existisse um destino certo para cada um n�o seria necess�rio tanto esfor�o, tanto trabalho, seria apenas deixar rolar, esperar por ele passivamente.

H� quem ouse viver assim, mas o resultado n�o costuma ser muito favor�vel. N�o podemos nos deixar arrastar como se n�o f�ssemos sujeitos. Toda vida requer de n�s autoria. Ser sujeito significa fazer escolhas, apostas e tomar posi��es mesmo sem garantias.

Cada um de n�s tem um desejo �nico e singular, embora nem sempre saibamos muito sobre ele. Parte dele � inconsciente e precisa ser escutado. Uma vida sem desejo � uma vida perdida, vivida � revelia do destino. Ser sujeito do desejo � uma arte que requer firme delicadeza, alta-fidelidade.

Assim como a morte � para todos, a vida tamb�m �. E o desejo � condi��o que nos permite escolher, construir, deter demandas alheias que insistem em nos distrair. Escut�-lo � imprescind�vel para que n�o nos tornemos v�timas do acaso. Se a morte � para todos, o desejo n�o. Aqui nesta seara s� vale o um a um.

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