
N�o bastasse a COVID-19 – uma guerra biol�gica que assola o mundo h� mais de um ano com tantas mortes pr�ximas nos esgotando, entristecendo, horrorizando –, ainda temos de ter sanidade mental para enfrentar a realidade com seus imposs�veis de suportar.
O desamparo a que fomos lan�ados desde a pandemia pela crise pol�tica, pois o governo foi contradizendo e discordando de tudo que as maiores autoridades sanit�rias, cient�ficas, m�dicas no assunto indicam como a poss�vel defesa contra o cont�gio: uso de m�scaras e o distanciamento.
Esta atitude do governo federal dividiu a popula��o pela politiza��o da crise e isto � muito danoso, porque para vencer esta guerra n�o precisamos de ex�rcitos armados em batalha sangrenta (seria mais f�cil?), mas de um pacto solid�rio, o que nos parece imposs�vel porque o pr�prio presidente resiste. A Pfizer veio oferecer vacinas no ano passado e o seu representante passou o dia sentado esperando e sequer foi recebido (testemunho do deputado Kajuru).
O que chamei real insuport�vel � lidar com o assassinato de uma crian�a de 4 anos pelo padrasto, o vereador e m�dico Dr. Jairinho, que estava em seu quinto mandato pelo Solidariedade, acredite se quiser! E recebeu cadeira na Comiss�o de �tica da C�mara Municipal do Rio de Janeiro tr�s dias depois do assassinato. Dif�cil...
Ele tamb�m j� cometeu outros crimes contra crian�as, conforme informam as reportagens em diversos jornais. No “El Pa�s” e “Piau�”, reportagens apontam que ele atuava na mil�cia do Batan, foi identificado como um dos torturadores de um cinegrafista, rep�rter e motorista sequestrados em 2008 depois de ficarem infiltrados por 14 dias na comunidade, delatados por algu�m do jornal para o qual trabalhavam.
Ao pai da crian�a que chorava no hospital, disse o vereador: “Vamos virar a p�gina, faz outro filho”. Por a� vemos a quantas anda a pol�tica brasileira... Aquele menino lindinho, desprotegido, torturado, machucado pela omiss�o da m�e.
A m�e que n�o cedeu aos apelos da bab�, nem se op�s a seu marido entregando o filho como objeto de gozo s�dico de um torturador covarde, que coagiu as empregadas para que mentissem ao depor.
A psicanalista Colette Soler em um semin�rio disse bem: “N�o h� limites �s concess�es que a mulher est� pronta para fazer pelo seu homem, sua alma, seus bens, seu corpo. Claro n�o se pode dizer isso de todas as mulheres, h� as que concedem sua alma, seus bens, talvez; mas seu corpo nunca”, entre outras varia��es poss�veis.
De fato, o amor � esmagador – como a melancolia que � o esmagamento do sujeito pelo objeto, o verdadeiro amor, segundo Lacan ironicamente dizia, � suic�dio, o aniquilamento m�ximo.
Neste caso, a m�e estava absolutamente submetida, negando o perigo, alienada �quele homem, sem tomar a atitude que abalaria sua rela��o. Postergando posicionar-se, entregou seu filho a um perverso, um escravo do gozo. O perverso � escravo da puls�o.
O autor do crime perverso � nosso conhecido. Ele busca oportunidade para realizar a vontade de gozo, o �pice org�stico da crueldade. Est� sempre na m�dia, no cotidiano das pessoas de bem. Ele n�o quer ir ao analista falar de sua fantasia perigosa. De sua vontade de bater, abusar, tomar o indefeso como objeto. E Henry � um. S�o muitos.
Deste ser abjeto cuja �tica passou ao largo, respiramos o mesmo ar contaminado, n�o s� pelo v�rus, mas pelo mal que exala dos perversos. Que o menino Henry descanse em paz. Que a Justi�a seja feita. Que possamos resistir � COVID e tamb�m aos perversos.
