
Se voc� j� leu o livro “A peste”, de Albert Camus, tem o retrato n�tido de hoje. A peste, o medo, a recusa, as nega��es, o adiamento de solu��es, a��es preventivas zero. Tamb�m se repetem as implica��es m�dicas, cient�ficas, pol�ticas e sociais. Embora a peste seja outra, a situa��o � igual.
O escritor nasceu em Mondovi, Arg�lia, em 1913, �poca da ocupa��o francesa. Em 1914, em decorr�ncia da Primeira Guerra Mundial, ficou �rf�o e passou muitas dificuldades com a fam�lia. Formado em filosofia, dramaturgo, historiador, tornou-se jornalista contribuindo com artigos para jornais de esquerda.
Ingressou no Partido Comunista Franc�s por alguns anos, morou em Paris, mas teve de fugir por causa da invas�o alem� na Segunda Guerra. Fez parte da resist�ncia francesa. Visitou o Brasil em 1949, sendo recebido pelo adido cultural franc�s e o escritor modernista brasileiro Oswald de Andrade.
Amigo de Sartre e pensador autor de extensa obra, ganhou o Pr�mio Nobel de Literatura em 1957. Era um homem de opini�o e a��o, que sempre se manifestou sobre os acontecimentos mundiais, e suas obras ilustram suas ang�stias diante dos conflitos da �poca. Faleceu em 1960 de acidente de carro.
Mas o que nos interessa hoje � “A peste” e nem precisamos duvidar que nos ensina alguma coisa sobre o passado e o presente da humanidade. A teimosia parece ser de mesmo calibre. A hist�ria se passa em Oran, na Arg�lia, em 1947.
De repente, ratos come�am a fugir dos esgotos, por�es e de todos os cantos correndo desatinados pelas ruas e morrendo ensanguentados. Eram tantos que a principal atividade da prefeitura nos dias que se seguiram era o recolhimento dos animais. O temor era de que suas pulgas se espalhassem contaminando toda a popula��o.
O Dr. Rieux, m�dico da cidade, come�a a atender casos de pessoas com os g�nglios inflamados, fur�nculos, febre, v�mitos, seguidos de morte. Alarmado com o risco de uma epidemia, procura colegas e autoridades para relatar o perigo iminente.
Por sua insist�ncia, tida como fora de prop�sito embora a popula��o se inquietasse, obteve a forma��o de uma comiss�o sanit�ria. Falavam que se fazia alarde por nada. Dr. Rieux encontrou bastante hesita��o e procrastina��o, acompanhados do pedido de sigilo expresso pelo prefeito acenando com a dificuldade de assumir tratar-se de epidemia.
Poderiam trabalhar para entender o acontecido em sil�ncio. Estava convencido tratar-se de alarme falso. Mesmo assim, iniciaram lentamente provid�ncias, apesar da opini�o do m�dico de tratar-se de febre de car�ter tifoide, seguida de v�mitos e bastante contagiante.
“A peste” de Camus retrata a peste bub�nica ou peste negra, que ganhou este nome pela gangrena nos dedos dos p�s e m�os, que atingiu a Europa no s�culo 14, em 1348-1351, e matou milh�es, provocada pela bact�ria Yersinia pestis.
Embora tenhamos muitas epidemias na hist�ria da humanidade, at� hoje agimos como iniciantes. Cometemos os mesmos erros, s� agimos depois que as coisas ficam graves, apesar de a ci�ncia ter evolu�do horrores os cientistas s�o hoje submetidos aos interesses financeiros e econ�micos do discurso capitalista. Nos alertam, mas o governo tem horror � verdade. Faltam insumos para pesquisas, falta respeito ao saber. De fato, os cientistas s�o os nossos her�is, pois s� a vacina pode conter o v�rus.
Entende-se que aceitar uma epidemia � dif�cil e terr�vel em qualquer �poca e os respons�veis pela administra��o passam por provas de fogo. Mas quanto mais evitamos assumir, quanto mais abandonamos os protocolos de seguran�a, mais perderemos gente que amamos. A quest�o � o quantum da puls�o de morte nos impede de aceitar priva��es necess�rias.