(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas PSICAN�LISE

No terror de admitir a perda, o Eu enlouquece

O crime de amor � uma declara��o de morte por uma separa��o imposs�vel de suportar


23/01/2022 04:00 - atualizado 22/01/2022 23:07

Ilustração mostra mãos entrelaçadas e um casal sobre elas

Semana passada, comentei o livro “Mal-estar na civiliza��o” (1930), no qual Freud estudava sobre os sentimentos sob uma perspectiva mais cient�fica e menos supersticiosa. A religiosidade tamb�m n�o lhe convencia e perseguiu uma teoria que mais racionalmente lhe atendesse.

Dizem que Freud explica tudo, n�o � verdade, ele de fato se dedica de corpo e alma na constru��o da teoria psicanal�tica. Explica muito, mas, como sabemos, n�o � poss�vel explicar o real. Ele � o que �, o ido e o que vir� e n�o est� ao alcance de nenhuma explica��o ou controle racional.

Segundo Freud, o nosso Eu seria nossa forma de v�nculo com o mundo externo, j� que n�o nascemos com o v�nculo instintivo, como os animais. Estes sim permanecem vinculados � natureza, sobrevivem com seu saber instintivo sobre o que fazer. O homem n�o.

Ele nasce desvinculado e vai se vinculando a partir do contato com seu cuidador, a voz, o calor, a satisfa��o das necessidades sem as quais, prematuro, n�o poderia sobreviver. A diferencia��o entre a crian�a e o seu cuidador vai-se fazendo gradativamente em resposta a est�mulos at� que ela se perceba dona de seu corpo e se reconhe�a. Fora e dentro v�o se fazendo claros e n�o sem custo.

Assim desenvolve seu sentimento de si mesmo, de seu eu. Ele se prolonga para dentro sem fronteiras n�tidas numa entidade inconsciente que � o Id. O Eu � como uma fachada.

Pelo menos para fora, com rela��o ao mundo externo, ele apresenta fronteiras precisas. Somente numa �nica situa��o sua posi��o se altera consideravelmente e � capaz de suscitar problemas de variadas magnitudes chegando a um estado patol�gico.

Diz Freud que no auge do enamoramento a fronteira entre o Eu e a pessoa amada amea�a desaparecer. Contrariando todos os sentidos, o apaixonado afirma que o Eu e o Tu s�o um e est� preparado para agir como se assim fosse. J� se pode ver para onde vamos...

Em estados doentios do Eu, processos m�rbidos se fazem observar na delimita��o entre o eu e o mundo externo. Partes do pr�prio corpo, componentes da vida ps�quica, percep��es, pensamentos, afetos nos surgem como alheios e n�o pertencentes ao eu. Outros s�o atribu�dos ao mundo externo e a outras pessoas, embora suas ra�zes estejam no eu, por�m n�o reconhecidas e admitidas.

O Eu pode adoecer, sofrer transtornos, suas fronteiras n�o s�o permanentes. Podemos ent�o deduzir depois disso que os crimes de amor, os passionais, acontecem quando este um, percebido pelo apaixonado, amea�a romper a unidade.

Quando o amante percebe que perder� parte de si mesmo representada pelo outro � como sofresse uma amputa��o insuport�vel e esta parte amputada deve, preferencialmente, morrer. Ser� melhor do que adquirir autonomia, deixando vazio no seu lugar dentro do Eu, onde at� ent�o era parte, sendo o apaixonado incapaz de processar este luto de parte de si perdida.

O crime de amor � uma declara��o de morte por uma separa��o imposs�vel de suportar. A morte do outro, sin�nimo do Eu. No terror de admitir a perda, o Eu enlouquece. Frente a tal amea�a, o Eu cai em dist�rbios patol�gicos significativos. A aus�ncia de limites, provavelmente de uma regress�o ao estado em que a crian�a ainda n�o efetuou a separa��o. O esquecimento n�o significa a destrui��o das mem�rias afetivas deste tempo fundido com a m�e ao qual se deseja retornar.

Ser� rememorado sempre paralelamente � autonomia e gradativa separa��o. Caso regressemos � fus�o com um novo amor, teremos problema. O amor conduz os amantes a ansiarem ser um para jamais se perderem, por�m, a realidade desmente a possibilidade de realizar esta fus�o regressiva e nos faz cair na realidade da castra��o: que cada um ser� sempre apenas um e dividido. E da recusa desta castra��o... s� se pode esperar o pior. 

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)