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Estado de Minas EM DIA COM A PSICAN�LISE

Devemos celebrar a posse de Ailton Krenak na Academia Mineira de Letras

Este momento hist�rico inaugura um tempo de escuta, tempo de consci�ncia, de retifica��es. � urgente fazer justi�a aos povos origin�rios


12/03/2023 04:00 - atualizado 11/03/2023 03:25

Ailton Krenak segura diploma durante sua posse na Academia Mineira de Letras
Ailton Krenak com seu diploma na solenidade hist�rica da Academia Mineira de Letras (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press )

A Academia Mineira de Letras de Minas Gerais deu posse, no �ltimo dia 3, a Ailton Krenak como membro da confraria. Ailton, o primeiro ind�gena a assumir lugar oficial em uma academia de letras no Brasil. 

Foi uma honra assistir a esse in�dito acontecimento hist�rico. A emo��o que percorria o audit�rio e o sagu�o de entrada, lotados, era t�o densa que quase pod�amos peg�-la com a m�o. Alegria genu�na percorria encontros, abra�os e o orgulho pela nossa Academia.

A Academia Mineira de Letras (AML), presidida pelo querido Rogerio Faria Tavares, dotado de especial habilidade com pessoas e palavras , nos fez sentir acolhidos e de fato participantes deste evento especial. Evento no sentido descrito pelo fil�sofo Alain Badiou, que causa um giro de perspectiva, n�o seremos mais como antes. Porque nos acorda, renova, desaliena.

Rog�rio evoca B�rbara Heliodora, a primeira na genealogia da cadeira 24. Foi aclamado e aplaudido ao concluir: “� t�o bom estar com uma pessoa transparente e acolhedora com que queremos sempre ter o privil�gio de conviver. Seja bem-vindo, Ailton Krenak! Demorou 500 anos, mas agora voc� est� conosco!”

Este momento hist�rico inaugura um novo tempo. Tempo de escuta, tempo de consci�ncia, de retifica��es. Ailton Krenak, militante da causa ind�gena desde 1987, quando pintou o rosto de preto com tinta de jenipapo. Entre seus muitos livros, temos “Ideias para adiar o fim do mundo” e “O amanh� n�o est� � venda”.

No discurso de boas-vindas, a escritora Maria Esther Maciel fez jus ao trabalho e esfor�o deste homem, sempre na luta pelos direitos dos povos ind�genas, reconhecido publicamente por sua obra, doutor honoris causa pela Universidade de Juiz de Fora e pela Universidade de Bras�lia. Krenak conquistou essas posi��es por sua capacidade intelectual e intelig�ncia reunidas com simplicidade, humor e indigna��o diante dos incessantes crimes contra os povos origin�rios, os verdadeiros donos do Brasil. O discurso terminou emocionado, evocando Caetano Veloso na m�sica “Um �ndio”. Foi lindo.

Os krenaks sofreram terrivelmente com a trag�dia provocada pelo rompimento da barragem da Samarco, em 2015, que envenenou o Rio Doce, considerado um av� de seu povo, e matou tudo o que ali vivia.

O antrop�logo Eduardo Viveiros de Castro, no posf�cio do livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, escreveu: “Quando despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos deles os seus sentidos, considerando que isso � atributo exclusivo dos humanos, n�s liberamos esses lugares para que se tornem res�duos da atividade industrial e extrativista. Do nosso div�rcio das integra��es e intera��es com a nossa m�e, a Terra, resulta que ela est� nos deixando �rf�os, n�o s� aos que em diferente gradua��o s�o chamados de �ndios, ind�genas ou povos ind�genas, mas a todos.”

Krenak, em seu discurso, questionou a humanidade e o verdadeiro sentido da palavra civiliza��o, a escraviza��o de pretos e a elimina��o de �ndios por europeus brancos que se achavam donos do mundo. Enquanto ali pens�vamos novas formas de civilidade poss�veis, uma reserva era atacada  e ind�genas assassinados no Mato Grosso.

Joenia Wapichana, primeira mulher ind�gena a ocupar a presid�ncia da Funai em 56 anos de hist�ria, atendia chamados, coordenando a��es em tempo real. E ali coube a pergunta: a gente consegue ser feliz?

� urgente fazer justi�a aos povos origin�rios, arrancados de suas terras por colonizadores desde 1500, ainda hoje perseguidos, assassinados, invadidos por mentalidades ign�beis do capitalismo selvagem, cujos mandantes se ocultam em altos escal�es.

Fechando a bel�ssima noite, a instala��o gastron�mica criada por 13 chefs com iguarias requintadas e deliciosas. Algumas servidas no ch�o, sobre folhas de bananeira, encantaram os convivas!

S� podemos agradecer � Academia por nos proporcionar a alegria da inclus�o de novas linguagens e de apontar a urg�ncia desta escuta do que comp�e a nossa m�ltipla sociedade. 

Quem l� esteve compartilhou com orgulho o prazer de ver este momento inclusivo de comunh�o fraternal se realizar. Que muitos de n�s, hoje �rf�os de Brasil, esperamos venha a ser o pa�s de amanh�.

� mesmo isso o que queremos: exorcizar os dem�nios que nos assombram e est�o sempre na contram�o do desejo de impedir que for�as hostis destruam o nosso mundo para acumular fortunas particulares.

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