Ricardo Kertzman desabafa sobre ataques bolsonaristas ao Nordeste

O colunista do Portal UAI e Estado de Minas Ricardo Kertzman gravou um v�deo que vem viralizando nas redes sociais, em veemente defesa dos nordestinos ap�s uma s�rie de ataques de xenofobia patrocinados por eleitores do presidente Jair Bolsonaro.

No come�o de outubro, em Uberl�ndia,  no Tri�ngulo Mineiro, uma advogada local - e vice-presidente da Comiss�o da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - divulgou um v�deo com fortes ataques contra o povo nordestino, logo ap�s o resultado do primeiro turno das elei��es presidenciais.

"N�s que geramos empregos, n�s que pagamos impostos, voc�s sabem o que a gente faz? N�s gastamos nosso dinheiro l� no Nordeste. N�o vamos fazer isso mais. Vamos gastar dinheiro com quem realmente merece. A gente n�o vai mais alimentar quem vive de migalhas. Vamos gastar nosso dinheiro no Sudeste, no Sul ou fora do pa�s", afirmou Fl�via Moraes.

Durante o m�s passado, mensagens semelhantes em grupos de WhatsApp se tornaram frequentes, e Kertzman, que, por mais de 20 anos trabalhou na regi�o, come�ou a “brigar” com amigos que compartilhavam os ataques. Uma dessas publica��es foi escrita por um vizinho, morador de um condom�nio na zona nobre da regi�o metropolitana: “Povo nordestino principalmente os Bahianos, nunca mais ver�o minha cara e com certeza tor�o para que cada ano a pobreza a� aumente para que vcs tenham sempre uma esquerda junto de voc�s !!!! (sic)”.

Segundo Kertzman, em seu meio social, discursos de �dio contra nordestinos, pobres e homossexuais tornaram-se extremamente frequentes, obrigando-o a se afastar de antigas e gratas amizades: “Tenho 55 anos de idade e jamais imaginei viver algo assim no Brasil. Quando me lembro das hist�rias sobre o nazismo, fico chocado com a semelhan�a entre os fatos e os tempos”. O colunista lembra que “nazismo � muito mais amplo e abrangente que o antissemitismo e o holocausto”. E conclui: “Para alguns judeus, falar em nazismo, nesses casos, acaba diminuindo o tamanho da nossa trag�dia. Mas repito: o nazismo, como doutrina, n�o se limita ao antissemitismo e ao holocausto”.

A doutrina nazista n�o admite “ra�as” sen�o a ariana, e prega o Estado totalit�rio e absoluto sobre todas as coisas, inclusive por meio do exterm�nio de outras etnias, religi�es e ideologias pol�ticas. “O antissemitismo, que culminou com o holocausto de mais de 6 milh�es de judeus, � a parte mais v�sivel e dram�tica do nazismo, mas n�o o todo”, afirma Kertzman. Na Alemanha, qualquer men��o que fa�a apologia ou possa ser interpretada dessa maneira � proibida e, a depender da gravidade, tipificada penalmente, tamanho o reconhecimento do pa�s alem�o sobre a extens�o e a gravidade do movimento.

Ap�s a elei��o do presidente Lula, no domingo passado, os ataques de cunho nazita contra os nordestinos se tornaram ainda piores e mais agressivos. A esposa do presidente do Flamengo e diretora de Responsabilidade Social do Clube compartilhou em seu Instagram uma imagem com os seguintes dizeres: “Ganhamos onde se produz, perdemos onde se passa f�rias, bora trabalhar, porque se o gado morrer, o carrapato passa fome”. Em entrevista, o presidente do Flamengo saiu em defesa de sua esposa e diretora. 

“� �bvio que isso a deixa muito chateada por algo que ela tenha feito. Isso foi quase um desabafo, por ver a terra que ela tanto ama, ela achar que n�o vai ter nos pr�ximos anos o destino que ela gostaria que tivesse. Ela tem o direito de se posicionar”, afirmou o dirigente carioca, causando revolta em clubes de futebol do Nordeste como o Sport, de Recife, o CSA, de Alagoas, e o Sampaio Corr�a, do Maranh�o. Lembrando que o clube carioca � dono da maior torcida do pa�s e que milh�es de nordestinos torcem pelo Flamengo.

A “gota d’�gua”, para Kertzman, veio em um v�deo em que uma mulher do Esp�rito Santo, proferiu duras palavras e ofensas de cunho �tnico contra o povo do Nordeste, conclamando os brasileiros do Sudeste a boicotarem a economia da regi�o. “A todo instante vemos pipocar, aqui e ali, campanhas nas redes sociais de todo o mundo, de boicote a Israel e �dio aos judeus”. Para Ricardo, mais uma semelhan�a com o nazismo, que, “a partir da d�cada de 1930, agia assim com os judeus”, e com “o atual recrudescimento do antissemitismo em todo o mundo”. 

Dados do ï¿½ltimo Relat�rio Mundial sobre Antissemitismo, da Universidade de Tel Aviv, apontam um crescimento “dram�tico” de incidentes contra os judeus em 2021 e citam o espantoso n�mero do aumento de casos de antissemitismo pelo mundo. No Brasil, poucos dias atr�s, uma c�lula nazista foi descoberta, e seus membros, presos, em uma opera��o da Pol�cia Civil de Santa Catarina. Na mesma cidade, ontem, durante manifesta��es de militantes bolsonaristas que pediam interven��o militar, contrariados com a perda das elei��es, no momento da exibi��o do hino nacional os presentes ergueram os bra�os em sauda��o id�ntica a do nazismo.

Ap�s gigantesca repercuss�o do fato, o Minist�rio P�blico de Santa Catarina apurou que, no seu entender, n�o houve manifesta�ao de cunho nazista, e que os bra�os erguidos indicavam outra inten��o. No Brasil, por todos os est�dios de futebol, o hino nacional � tocado antes das partidas, e nunca se viu algo assim. Em eventos oficiais, tamb�m, como em cerim�nias de formatura e outras de car�ter privado. A Conib (Confedera��o Israelita do Brasil) emitiu uma nota a respeito, diversos judeus se indignaram com o fato e at� mesmo o embaixador da Alemanha no Pa�s se manifestou duramente sobre o epis�dio.

 

Tantos fatos tristes e negativos levaram Ricardo Kertzman a fazer seu desabafo: “Quero deixar bem claro que n�o se trata de pol�tica, mas de humanidade, civilidade e respeito ao pr�ximo. N�o estou entrando no m�rito das elei��es ou de Lula e Bolsonaro, j� que n�o gosto dos dois nem sequer sa� de casa para votar”. E continuou o colunista: “Quem prega a elimina��o de um partido e seus eleitores, quem n�o admite outras formas de g�nero e religi�o, quem ataca etnias e prega boicote econ�mico por motivos pol�ticos, quem espanca e at� mata pessoas em nome de sua ideologia pol�tica se comporta, sim, como nazista”.

Em Belo Horizonte, durante uma festa de comemora��o de petistas, um jovem de 28 anos foi morto, ap�s um eleitor do presidente Bolsonaro, indignado com o resultado das elei��es, abrir fogo contra um grupo de jovens. Em Santa Catarina, uma mo�a foi espancada em um posto de gasolina e teve seu carro depredado por bolsonaristas, tamb�m no domingo � noite, por causa de um adesivo do PT colado no parabrisas. Recentemente, em Aparecida do Norte, durante a celebra��o da padroeira do Brasil, um homem foi expulso do local por um grupo de eleitores do presidente Bolsonaro por vestir camisa vermelha. 

Tamb�m durante a campanha, dois assassinatos, por motivos pol�ticos, praticados por bolsonaristas contra petistas, chamaram aten��o. Sem contar os jornalistas agredidos em Aparecida do Norte, e tamb�m em frente � casa do ex-deputado Roberto Jefferson, no dia de sua pris�o, e nesta semana (um da CNN e outro da Jovem Pan) durante as manifesta��es ilegais que bloquearam as estradas brasileiras.

Kertzman conclui: “Uma cita��o famosa do te�logo protestante alem�o Martin Niem�ller diz: 'Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como n�o sou judeu, n�o me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como n�o sou comunista, n�o me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho cat�lico. Como n�o sou cat�lico, n�o me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. J� n�o havia mais ningu�m para reclamar'. Eu n�o sou nordestino, mas jamais irei abandon�-los ou a qualquer outro povo ou indiv�duo amea�ado por quaisquer formas de totalitarismo. Se eu n�o agir assim, n�o sou digno dos meus antepassados”.