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Estado de Minas RICARDO KERTZMAN

Isabel, do v�lei, morta aos 62 anos, envia um duro recado aos desatentos

Meus sentimentos aos amigos e familiares da nossa grande e eterna Isabel. Que sua passagem possa servir de alerta para tanta gente, hoje, necessitada de luz


16/11/2022 11:08 - atualizado 16/11/2022 12:09

Isabel Salgado
Isabel Salgado, �cone e musa do v�lei nacional (foto: Reprodu��o/SoprTV)
N�o estou nem nunca estive dentre aqueles que acreditam que “s� se aprende na dor”. Nestes dias t�o tensos - e intensos -, onde a cis�o social e familiar atinge n�veis in�ditos de estupidez, o olhar atento e agu�ado sobre o cotidiano e a percep��o da fragilidade e fugacidade da vida, merece e precisa estar mais afiado do que nunca.

Ontem passei um dia maravilhoso no, digamos, interior de Minas, ao lado de uma fam�lia n�o menos maravilhosa. Gente verdadeiramente do bem, acolhedora e capaz de transformar as horas em segundos. Para melhorar, um p� de jabuticaba do tamanho e quantidade de um Mineir�o lotado de atleticanos.

Ao voltar para Belzonte, ainda tocado pela satisfa��o da experi�ncia, me deparei com o tr�nsito interrompido � Av. Raja Gabaglia. J� era noite e chovia muito, mas, ainda assim, um grupo de manifestantes insistia em se manter alheio � vida real, focado exclusivamente em seu mundo ego�sta e egoc�ntrico, esquecendo-se, inclusive, do feriado.

Peguei-me pensando no que perderam aquelas pessoas, que deixaram de curtir o dia de folga ao lado dos amigos, da fam�lia, lendo livros ou assistindo � alguma s�rie, enfim, dedicando o tempo vago ao lazer, ao desfrute e n�o somente ao exerc�cio do �dio. Sim. Ningu�m ali est� fazendo outra coisa, sen�o odiar.

Eles odeiam Lula, odeiam nordestinos, odeiam “comunistas” (termo que abrange tudo que n�o idolatre o extremismo bolsonarista), odeiam, talvez, a pr�pria exist�ncia. Por que raios passar um feriado sob frio e chuva, para clamar golpe de Estado? N�o seria muito melhor namorar, brincar com os filhos, beber com os amigos… comer jabuticaba em Itabirito?

Hoje pela manh�, participei do programa Conversa de Reda��o, da R�dio Itatiaia de Belo Horizonte, e debatemos temas sens�veis e atuais, como racismo, preconceito e pobreza. Poxa, tanta coisa complexa e verdadeiramente ruim acontecendo, e muitos de n�s, privilegiados que somos, imunes a tudo isso, deixando de agradecer, para agredir? 

Uma r�pida passada de olhos nos senhores e senhoras que pedem o fim da democracia brasileira, mostra que ali est� a parcela mais favorecida da sociedade: brancos, classe m�dia ou alta, heterossexuais, com a sa�de em dia. T�m tudo para serem felizes e estarem curtindo a vida, mas n�o, remoem o inconformismo e destilam a viol�ncia.

Ao final do programa, j� em minha segunda atividade profissional do dia, que � cuidar dos meus neg�cios, entre uma tarefa e outra, recebo com extrema surpresa e pesar, a not�cia da morte repentina da ex-atleta da sele��o feminina de v�lei, Isabel Salgado. Aos 62 anos de idade, a �cone do esporte brasileiro e mundial foi acometida por uma bact�ria mortal.

H� dois dias, Isabel fora convidada a participar da equipe de transi��o do novo governo eleito. Estava bem, feliz, com a sa�de em dia. Em menos de 48 horas, o que parecia ser uma “vida privilegiada”, chegou ao fim de forma brutal. N�o houve m�dico (dos melhores), hospital (dos maiores) e medicamentos (dos mais eficazes) capazes de evitar o pior.

Isabel e Lula abraçados
Isabel e o presidente eleito (foto: Ricardo Stuckert/Twitter)
Iniciei este texto falando da minha cren�a sobre “n�o aprender na dor”. Posso parecer paradoxal, ou contradit�rio, mas n�o h� como eu n�o relacionar t�o triste fato aos movimentos sociais e pol�ticos que temos experimentado nos �ltimos meses. Se a vida � fr�gil e breve - e ela �! -, por que n�o viv�-la de forma e maneira mais �teis?

Por que interromper uma festa, brigando por pol�tica e pol�ticos? Por que romper rela��es afetivas em nome de cren�as e desejos unilaterais? Por que deixar para amanh� a troca de afeto, ou a reconcilia��o, de hoje? Por que infernizar a vida de moradores, estudantes e trabalhadores do Gutierrez e regi�o, se “uma bact�ria” nos levar� para o mesmo lugar? 

Saiam da�, meus caros! H� uma vida para ser vivida. Meus sentimentos aos amigos e familiares de Isabel Salgado, a nossa grande e eterna Isabel, do v�lei. Que sua passagem possa servir de alerta para tanta gente, hoje, necessitada de luz (n�o a de cunho espiritual, mas a de cunho terreno mesmo, no sentido de sabedoria). Para mim, j� serviu.

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